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O bem e o mal nas suas mãos | Lançamento

Democrática ou autoritária? Essa maquineta tecnológica com apenas 7 milímetros de espessura, a depender do modelo escolhido, e em torno de 140 gramas menos do que uma xícara de açúcar tem sido uma arma poderosa nas mãos dos brasileiros, capaz até de abalar os alicerces das instituições democráticas. É a nova carteira de identidade? Ou um daqueles canivetes suíços com múltiplas ferramentas? Só que, aqui, digitais. Muitos podem achar que o celular é apenas uma ferramenta tecnológica. Democrática. Do bem… Será? Este livro aborda, de forma inédita, o uso do celular pelos brasileiros e reflete com você, leitor, sobre até que ponto esse dispositivo chegou: à condição de imprescindível em nossas vidas, ópio virtual, oferecendo um poder incomparável no mundo contemporâneo. Vamos entender melhor o poder desse pequeno aparelho onipresente.

Você acorda com o despertador do celular e, a partir desse momento, ele passa a comandar o seu dia. O primeiro reflexo é olhar o clima – vai chover, será dia de calor ou frio. Como está o trânsito também é visto ali. Notícias – publicadas por jornais digitais, agências, headlines ou por rádios, podcasts, YouTube, TVs por assinatura ou mesmo canais de TV abertos… Está tudo à disposição para ser lido, visto, assistido, ouvido. Chega a hora do almoço… Pede e paga comida pelo celular, chama o táxi, confere o extrato do banco, agenda a consulta médica, lê as notícias mais recentes novamente, participa de uma reunião do trabalho por videochamada, vê a “receita perfeita” de bolo de chocolate numa rede social.

O bem e o mal nas suas mãos | Lançamento

Já esqueceu o celular em casa e voltou para buscá-lo? Se isso ainda não ocorreu com você, com certeza você voltará caso aconteça. Impossível a separação. É um vício. Síndrome, aliás, que até já ganhou um nome entre estudiosos: nomofobia, criada na língua inglesa, derivada da junção da expressão “no mobile” com o grego “phobos”, para indicar o medo irracional de ficar sem contato com o celular.

Mas foi com a disseminação dos aplicativos de comunicação pessoal e com a explosão das redes sociais, reunindo bilhões de pessoas ao redor do mundo, do seu vizinho de andar até o habitante do mais distante país, que o celular ganhou as características que se pretende analisar neste livro: um instrumento também para criticar ou defender pessoas, governos, partidos políticos, empresas, serviços públicos. Construir ou destruir reputações. Uma arma contra ou a favor das instituições.

O fato de estarmos conectados o tempo inteiro, produzindo conteúdo de forma quase automática e instantânea (ao postar comentários e vídeos, dar likes ou repassar mensagens recebidas de outras pessoas), cria não só uma relação de dependência, mas também uma sensação de poder ao alcance das mãos. Uma fagulha, e o incêndio se espalha pelo campo inteiro.

Ou não foi assim que as manifestações que sacudiram o país de Norte a Sul em 2013 ganharam força? Foi um marco na política nacional. Começaram como um protesto contra o aumento das passagens de ônibus em São Paulo. Logo, o movimento se tornou difuso em suas reivindicações e, principalmente, de seus líderes, todos de celular na mão. Em outubro de 2018, imagens de manifestantes bloqueando estradas ganharam as redes sociais e sites na França, no que ficou conhecida como a revolta dos “coletes amarelos”. Como no Brasil, o protesto dos franceses, que começou espontaneamente, se espalhou pelo território nacional.

O escritor e professor norte-americano Clay Shirky, considerado uma espécie de “guru” das modificações introduzidas pela hiperconectividade, vai ao ponto: “Quando mudamos a maneira de nos comunicarmos, mudamos a sociedade”.

É fato. Somos agentes, catalisadores e testemunhas dessa transformação. É o bem e o mal ao alcance de todos. O celular padece da imperfeição do ser humano. Nele, nem tudo é bom. Nem tudo é ruim. É como se o celular fosse a versão tecnológica da obra O médico e o monstro, de R. L. Stevenson. Dependendo de como se usa a poção mágica, pode mostrar seu lado mais sombrio.

Há quem afirme que o celular criou um verdadeiro faroeste digital. Se por um lado ajuda a disseminar a informação de forma democrática, também tem servido de veículo para propagar inverdades e dados distorcidos. Seu efeito se faz sentir também no mercado de trabalho. É um instrumento importante para transformar a vida de micro e pequenos negócios, ajudando a atingir novos clientes e parceiros. Mas o lado “monstro” pode ser conferido na rotina de entregadores de aplicativos de comida ou de transporte, transformados em eternos subempregados. Depois de ler esta obra, olhe para o seu celular. Espero que você nunca mais o veja apenas como um aparelho tecnológico útil e inofensivo. Afinal, você é portador de uma arma, de porte legal… Mas uma arma. Tem usado sua arma neste faroeste digital? Contra ou a favor da democracia?


Neuza Sanches é jornalista e escritora. É também consultora de Marketing, Comunicação e Compliance. Trabalhou nos jornais O Estado de S. PauloFolha de S.Paulo O Globo, e nas revistas Veja e Época. Foi Chief Marketing Officer (CMO) dos bancos J.P. Morgan, BTG Pactual e Mirabaud (neste caso, também em Compliance), além de ter atuado na Cisco. Fez pós-graduação em Marketing Digital na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap) e em Compliance na Fundação Getulio Vargas (FGV/SP).

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