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Minicontos. Fragmentos da vida | Rubens Marchioni

■ Tensão. Permaneceu em silêncio. Seguiram apreensivos. Trovão.

■ Basta? Para o bom entendedor, disse apenas ums poucs plvrs. Não bastou.

■ Caminho. Luz e sombra. Janela aberta. Porta fechada. Sem porta.

■ Grito. Alguém faça alguma coisa, por fav…!! 

■ Silêêênncio. Nunca mais se ouviu a sua voz.

■ Depois de morder um cachorro, foi trabalhar com o rabo entre as pernas.

■ Acendeu o fogo. Ele ascendeu numa explosão.

■ Pela porta da frente, entrou na festa. Pela porta dos fundos…

■ Parou na portaria, porque a porta não se abria a quem portasse algo estranho. Voltou.

■ Todos se divertiram com os seus arroubos. Depois foram embora.

■ Quando saiu da joalheria era esperada lá fora.

■ Tinha medo de engolir objetos metálicos. Anorexia.

■ Férias vencidas. Planos atualizados. Viagem adiada. Um dia, talvez.

■ Saiu para uma tempestade. Teria voltado cheia de lua e estrelas.

■ A partir daquele dia, evitou se sentar em coletivos, bancos de praças ou quaisquer lugares públicos.

■ Mas ainda não havia chegado ao seu destino.

■ Contra a vontade do pai, desafiou as leis da natureza.

■ De repente a festa foi interrompida por uma notícia que acabava de chegar.

■ Chegou até a porta do estádio.

■ Almoçou com a mãe e continuou sendo esperada para a reunião.

■ Ao chegar do almoço comentou o que havia acontecido. Ninguém acreditou.

■ Depois de atravessar a ponte, ganhou a estrada e caminhou sem parar. Sem parar. Para onde?

■ Na noite escura, ouviu-se uma voz que saía do vazio.

■ No mosteiro, o abade anunciou o próprio casamento.

■ No sexto andar já não havia mais ninguém. Só um elevador parado antes de chegar.

■ Quando olhava pela janela, a porta se abriu. E não era o vento.

■ Quando voltou, o carro não estava lá. Foi visto na garagem de casa.

■ Duas horas da manhã. Mas o dia continuou sendo o de ontem.

■ Uma hora depois veio o silêncio. Passos cadenciados e fila indiana.

■ Tocou a marcha nupcial. E tocou a marcha nupcial. E tocou a marcha nupcial.

■ Fugiu. Mas era tão grande a sua fuga que se deixou no mesmo lugar.

■ Havia uma barata sobre o lençol branco. Estava só de passagem.

■ Na livraria, comprou um romance premiado. Arrancou as 17 primeiras páginas e saiu.

Minicontos. Fragmentos da vida | Rubens Marchioni

■ Saltou. Ainda estava no alto. O alto era alto demais.

■ Tinha saído mais cedo. Mas ainda não estava em lugar nenhum.

■ A senha era 98 e atendiam a 23. O romance era de Dostoievski.

■ – Senhor, o prazo termina hoje, mas é só no Banco X.

■ Decidiu que nunca mais se machucaria na caminhada. Então parou de andar.

■ Estava a caminho de casa quando tudo aconteceu.

■ Eu quase te amei aproximadamente muito.

■ “Vai ser bom, não foi?” – disse, com calma apressada.

■ Comprou toda a promessa. Pagou por toda a vida. Queria ser feliz.

■ Aquele deus caiu na profundidade do buraco negro. Deus me livre!

■ Sem ter o que comer, alimentou-se de esperança e desejou que o corpo fosse compreensível.

■ Amou sem medida. Viveu sem medida. Morreu na medida certa.

■ A aula acabou. A escola fechou. O professor sumiu. O aluno voltou no escuro.

■ Corta. Lava. Tempera. Cozinha. Serve. Lava. Corta. Lava. Tempera. Cozinha. Serve. Lava. Corta. Lava. Leva a vida sem gosto.

■ Só depois me revelou o que havia acontecido naquela estrada.

■ Faltava apenas encontrar o nome do Continente.

■ Abriu Passa-se o ponto Aluga-se Abriu Passa-se o ponto Aluga-se Abriu Passa-se o ponto Aluga-se Igreja

■ Ainda era tarde para recomeçar. Correu correu correu correu correu está correndo.

■ Já estava bem perto de casa quando tudo ficou longe demais.

■ Chuva fina. Falta de energia. Rua decadente. Onde passa o ônibus?

■ Pulou do centésimo andar e caiu em lugar nenhum.

■ Bairro inexistente, rua sem nome, casa sem número e urgência de chegar.

■ Andrea gostava do marido e dava a vida por uma barra de chocolate.

■ A escada garantiu a subida.

■ No caixão, ouviu o que queria ouvir: – Olha, ele está respirando!

■ Ele não foi claro. Com suas contradições, inventava toda forma de abismo. O clima era de incerteza.

■ Quando foi embora, deixou meu corpo quebrado.

■ Estava na parte mais alta e perigosa. Ainda não sabia como descer.

■ Como não havia ninguém para abrir a porta, o assaltante foi embora.

■ Em fuga, mirou a porta da casa e viu todos os seus dentes. Fugiu.

■ Fabricava sapatos. Mas não sabia fabricar estradas. Faliu.

■ Entrou na biblioteca. Mas naquele dia os autores tiveram um branco.

■ Quase todas as paredes da casa foram arrancadas. Mas ficou uma, e nela ainda era possível ler o nome que o temporal não soube apagar.

■ Não escreveu mais; nenhuma palavra. Ficou mudo. Estava quebrado por dentro e por fora.

■ Alguns dias depois, ela voltou. A porta estava aberta. No lugar do alimento, formigas. Voou.

■ Bow!! Escuridão. Alguém sabe onde está…?

■ Botões. Votou a favor da Terceira Guerra Mundial.

■ Decidiu que seria persistente. Mas persistiu na indecisão.

■ No entanto, era otimista quanto à duração do sentimento de culpa.

■ Ele era negro. Mas tinha preconceito. De negro.

■ Fez a primeira experiência. Mas ultrapassou limites perigosos. E todos testemunharam o estrago causado pelo exagero.

■ Foi guiado por uma voz forte e chegou longe demais. Não podia mais voltar. E seguir em frente era muito perigoso.

■ Quando comprasse aquele ícone para ela se livraria do sentimento de culpa.

■ Foi quando, enfim, ela disse:

■ Não sabia se desejava ficar. Mas não estava certo de que desejava partir. E o último trem estava com pressa.

■ Sem ter se recuperado, teve sua crise emocional mais forte e saiu na madrugada com passos incertos de desespero.

■ Foi embora com a primeira mulher. Deixou a segunda em terceiro plano.

■ Chegou mais cedo, mas era tarde demais.

■ Deixava os sonhos de ontem para a semana que vem. E descansava até se cansar.

■ Dmasiadamnt procupado com a ncssidad d sr claro, as palavras sumiram  não fz o discurso d formatura.

■ No banco, soube toda a verdade. Depois se acabou no banco da praça.

■ Mentiu mentiu mentiu mentiu mentiu mentiu. Deu de cara com a verdade.

■ Não teve tempo de se levantar.

■ Quinze anos, ela. Quarenta e sete anos, ele. Ela desejou que ele ficasse. Ele quase ficou. Impasse.

■ Na consulta com a vidente, ninguém viu nada.

■ Meio de longe, ouvi a sua voz inesperada – ela precisava falar comigo. Subi e subi. Minhas pernas travaram. Caminho interrompido. Conexão interrompida. História interrompida. A vida lançaria uma nova temporada?

■ Depois do baile, começou tudo de novo.

■ Com medo daquela barata corriqueira, fugiu apressado, abandonando todas as possibilidades escondidas. Vazio.

■ Na mente e no coração desfez cada traço daquele rosto até que se tornasse eternamente ninguém.

■ Não acreditava em nada que lhe dissessem; apenas confiava nas próprias certezas. Queria provar a sua verdade. Mas, sem vacina, a verdade não respeitou suas convicções.


Rubens Marchioni é Youtuber, palestrante, produtor de conteúdo e escritor. Autor de livros como A conquista Escrita criativa. Da ideia ao texto[email protected]. https://rumarchioni.wixsite.com/segundaopcao

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