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Letramento acadêmico: prática de pesquisa e produção textual na universidade

Por Luana Lopes Amaral, Daniervelin Pereira, Raquel Abreu-Aoki e Carla Viana Coscarelli

Entrar na universidade é abrir as portas para um novo universo – e, nele, a escrita tem regras próprias. Se você já passou pelo Enem, vestibular ou outros processos seletivos, certamente já sabe escrever bem. Mas será que escrever bem, no sentido geral, significa dominar a escrita acadêmica?

A universidade exige um conjunto específico de habilidades de leitura e produção textual. Nesse contexto, circulam gêneros que não fazem parte do dia a dia fora do ambiente acadêmico. Um exemplo? Resumos para congressos! Para apresentar sua pesquisa em um evento, você precisa escrever um resumo de 250 a 350 palavras, estruturado para expor claramente o que foi estudado, quais foram os objetivos, a fundamentação teórica, a metodologia e os principais resultados. Ou seja, diferentemente de uma sinopse de um filme ou de uma série, você precisa dar spoiler da pesquisa – a proposta desse gênero textual, portanto, é mostrar rapidamente o que sua investigação descobriu.

E esse é só um dos muitos gêneros que fazem parte da vida acadêmica. Projetos de pesquisa, artigos científicos, relatórios, dissertações, teses e até textos de divulgação científica são algumas das formas de comunicação usadas na universidade. Mas por que tantos gêneros diferentes? A resposta é simples: pois cada um tem um papel específico na construção do conhecimento. Enquanto, por exemplo, um projeto de pesquisa apresenta o que será investigado, um artigo científico relata os resultados de um estudo já concluído.

Mas, afinal, o que são gêneros acadêmicos?

Cada instância de uso da língua – sejam nossas conversas informais do dia a dia, os textos dos jornais ou as postagens em redes sociais – desenvolve formas próprias de se comunicar, e na academia não é diferente. Os gêneros textuais acadêmicos possuem características que os tornam distintos de outros tipos de texto que usamos no dia a dia. Eles têm:

Uma função clara: comunicar descobertas, discutir teorias, registrar dados de pesquisa.
 ✔ Uma estrutura padronizada: introdução, desenvolvimento, conclusão, referências.
 ✔ Uma linguagem formal e argumentativa: objetiva, baseada em evidências e com citações de autores.

E mais: os gêneros acadêmicos não são isolados. Eles pertencem a um domínio discursivo, ou seja, um conjunto de textos que circulam dentro de um contexto específico – no caso, a universidade. O que isso significa? Significa que, para participar ativamente desse espaço, não basta apenas ler e entender esses textos; é preciso produzi-los dentro das normas estabelecidas pela comunidade acadêmica.

Aprender a produzir textos acadêmicos é fundamental

Muitos estudantes enfrentam dificuldades na escrita acadêmica porque, ao entrar na universidade, se deparam com exigências textuais completamente novas. Aqui entra um conceito essencial: o letramento acadêmico. Ele envolve o aprendizado das práticas de leitura e produção textual na universidade, ajudando o estudante a compreender como e por que esses textos são estruturados dessa forma.

Esse aprendizado não se restringe à forma do texto, mas envolve a sua função comunicativa, o seu conteúdo e também o conhecimento do uso de diversas tecnologias, desde suportes tradicionais, como livros e canetas, até ferramentas digitais, como computadores, teclados, plataformas especializadas, bases de dados e ferramentas de inteligência artificial.

Além de organizar ideias de maneira clara e objetiva, na produção do texto acadêmico é preciso saber dialogar com outros pesquisadores. Isso significa referenciar corretamente as fontes utilizadas, respeitar as normas de citação e evitar o plágio. Diferente da escrita escolar, em que muitas vezes basta expor uma opinião, a escrita acadêmica exige embasamento teórico, isto é, argumentação fundamentada. A produção de textos acadêmicos envolve muitas questões delicadas como a citação das fontes das informações e as diferentes formas de fazer referência aos trabalhos citados. Trechos e informações tiradas de outros trabalhos precisam ser mencionadas e existe uma forma de fazer isso. São cuidados necessários para o autor mostrar que conhece outros estudos daquela área e respeita a autoria de outros pesquisadores.

Muitos estudantes enfrentam dificuldades na escrita acadêmica porque, ao entrar na universidade, se deparam com exigências textuais completamente novas. Aqui entra um conceito essencial: o letramento acadêmico. Ele envolve o aprendizado das práticas de leitura e produção textual na universidade, ajudando o estudante a compreender como e por que esses textos são estruturados dessa forma.

Esse aprendizado não se restringe à forma do texto, mas envolve a sua função comunicativa, o seu conteúdo e também o conhecimento do uso de diversas tecnologias, desde suportes tradicionais, como livros e canetas, até ferramentas digitais, como computadores, teclados, plataformas especializadas, bases de dados e ferramentas de inteligência artificial.

Letramento acadêmico: prática de pesquisa e produção textual na universidade

Este livro é para você!

O livro Letramento acadêmico: prática de pesquisa e produção textual na universidade foi pensado para quem está ingressando na universidade e precisa se familiarizar com a escrita acadêmica, mas também pode ser útil para quem deseja aprimorar suas habilidades nesse contexto. Nossa proposta é oferecer um percurso de ensino-aprendizagem que torne a escrita acadêmica menos intimidadora e mais acessível.

O livro cria um percurso prático, conduzindo o estudante a produzir a sua própria pesquisa acadêmica e, a partir dela, ler e produzir os textos relativos a cada etapa. Em outras palavras, ao longo das páginas, você encontrará orientações sobre como produzir diferentes gêneros acadêmicos, desde um projeto de pesquisa, que marca o início de uma investigação, até um artigo científico, que apresenta os resultados finais. Queremos que, ao final da leitura, você se sinta mais confiante para escrever, compreender e interagir nesse universo acadêmico.

A escrita na universidade pode parecer um desafio no início, mas, com prática e conhecimento, você logo perceberá que dominar os gêneros acadêmicos é um passo essencial para se tornar um pesquisador ativo, autônomo e ético.

Esperamos que o livro seja um estímulo e um caminho na direção da formação de jovens pesquisadores que serão, em breve, os cientistas profissionais que farão pesquisas de ponta com competência e ética no nosso país.

Então, que tal começar essa jornada?


Luana Lopes Amaral é professora da Faculdade de Letras da UFMG, mestre e doutora em Estudos Linguísticos pela mesma instituição e com pós-doutorado pelo Departamento de Linguística da Universidade do Novo México. Atua no ensino e pesquisa sobre Letramento Acadêmico, tendo sido coordenadora do projeto ‘Oficina de Língua Portuguesa: Leitura e Produção de Textos’. É líder do Grupo de Pesquisa Gramática da Língua em Uso e atua nos Programas de Pós-graduação em Estudos Linguísticos (FALE/UFMG) e em Gestão e Organização do Conhecimento (ECI/UFMG).

Daniervelin Pereira é professora da Faculdade de Letras da UFMG, mestre em Estudos Linguísticos pela mesma instituição, doutora em Semiótica e Linguística Geral pela USP, com período-sanduíche na Université Paris 8, na França, com pós-doutorado pela Université de Liège, na Bélgica, e pela UFF. Atua no ensino e pesquisa sobre Letramento Acadêmico, tendo sido coordenadora do projeto ‘Oficina de Língua Portuguesa: Leitura e Produção de Textos’ e de diversos projetos de extensão. Atua no Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos e no PROFLETRAS, ambos da UFMG. É editora-chefe da revista Texto Livre: Linguagem e Tecnologia.


Raquel Abreu-Aoki é professora da Faculdade de Letras da UFMG, mestre e doutora em Estudos Linguísticos pela mesma instituição, com pós-doutorado pela Escola de Comunicação e Artes da USP. Atua no ensino e pesquisa sobre Letramento Acadêmico, tendo sido coordenadora do projeto ‘Oficina de Língua Portuguesa: Leitura e Produção de Textos’ e atuando em diferentes projetos de ensino e extensão. É vice-líder do Grupo de Pesquisa Narrar-se – Estudos sobre narrativas de si e coordenadora do Projeto Redigir da FALE/UFMG. 

Carla Viana Coscarelli é professora titular da Faculdade de Letras da UFMG, mestre e doutora em Estudos Linguísticos pela mesma instituição, com pós-doutorado em Ciências Cognitivas pela University of California, San Diego, em Educação pela University of Rhode Island e em Engenharia Computacional pela Universidad de Santiago de Chile. Atua no ensino e pesquisa sobre Letramento Acadêmico, tendo sido criadora e coordenadora do projeto ‘Oficina de Língua Portuguesa: Leitura e Produção de Textos’ e do Projeto Redigir. Atua no Programa de Pós-Graduação em Estudos Linguísticos da UFMG. É diretora da Editora da UFMG.

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