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Julio César queria ser centroavante quando era criança

(de Livraria da Folha)

Aclamado por muitos como o melhor goleiro do mundo, quando era pequeno, Julio César queria mesmo era ser centroavante. Essa e outras histórias sobre o homem que defende as traves brasileiras estão no livro Os 11 maiores goleiros do futebol brasileiro (Editora Contexto, 2010).

A publicação, escrita pelo jornalista Luís Augusto Simon, escalou uma seleção só de goleiros. Além do atual titular da equipe do Brasil, marcam presença na lista: Barbosa, Castilho, Gilmar, Raul, Leão, Zetti, Taffarel, Rogério Ceni, Marcos e Dida.

O autor relata a trajetória de cada um e ainda traz entrevistas com atletas que conviveram de perto com os jogadores, como Zagallo, Leivinha, Rincón e Kaká, entre outros.

Descubra como Julio César deixou o sonho de jogar na linha para vestir as luvas no trecho reproduzido abaixo.

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Centroavante

E ser centroavante era o seu sonho primeiro, nos tempos de criança. Queria jogar como o irmão Janderson, sete anos mais velho e de pouco sucesso profissional. Com o nome de Espínola, o irmão atuou no Flamengo, Vasco, Avaí, Bangu e Anapolina. Quando, aos 8 anos, Julio César começou a treinar no futsal do Grajaú Country Clube não era no gol que fazia sucesso. Ao contrário. Como ala pela esquerda complicou a vida de muito companheiro que pegava no gol.

Até que um dia, a história recorrente aconteceu também com ele. Em uma ocasião, faltou um goleiro, ele foi quebrar o galho, mostrou qualidades, o técnico pediu que ele continuasse na posição, ele aceitou só por uns dias, para colaborar, e não saiu mais.

Ou melhor, saiu em 1992, aos 13 anos, quando recebeu um convite de Isaías Tinoco, dirigente do Flamengo. Queria para os juniores do Flamengo o goleirinho e também o zagueiro clássico Juan – amigo de infância de Julio César e um de seus companheiros de seleção brasileira.

“Goleirinho” não é força de expressão. Julio realmente não impressionava pela altura. O campeão estadual sub-13 media apenas 1,60 m e pesava 43 quilos. Nada muito diferente dos meninos de sua idade. Julio achava o gol de futebol de campo – que hoje domina com facilidade – muito grande. Chegava a chorar antes dos treinos. Chorava, mas ia. O pai, Jenis Honorato, é rubro-negro doente, como toda a família, e não perderia a chance de ver seu filho brilhar no time do coração.

Não demorou muito. Foram cinco anos de treinos duros até 13 de maio de 1997, quando jogou pela primeira vez uma partida oficial pela Flamengo. O jogo, contra o Palmeiras, no Parque Antártica, era válido pela semifinal da Copa do Brasil. Clemer, o titular, estava machucado. Zé Carlos, que foi um dos reservas de Taffarel na Copa de 1990 começou a partida, saiu contundido e Julio César teve sua chance no segundo tempo.

No dia 17 daquele mesmo mês, jogou desde o começo. Era um Fla-Flu. “Tinha 17 anos e fiquei o tempo todo esperando a torcida gritar o meu nome. E ouvi, quando defendi um pênalti. Perdemos por 2 a 0, mas eu fui bem”, recorda.


Paulo Whitaker/Reuters

Outras partidas vieram, mas sempre de maneira esporádica. Sempre dependia das ausências conjuntas de Clemer e Zé Carlos.

Em 2000, foi titular em dois jogos na conquista do título carioca. Mas o prazer de entrar em campo com o time principal, ouvindo a festa da massa no Maracanã, ele só conseguiu em 2001, quando se destacou na campanha do tricampeonato. Sua escalação foi uma decisão de Zagallo, que fez o que a torcida pedia há tempos.

No primeiro jogo da final, o Vasco de Juninho Paulista, Euller e Viola venceu por 2 a 1. Como tinha a melhor campanha, poderia perder por um gol de diferença que seria campeão. Logo no começo do jogo, Julio Cesar fez uma defesa muito difícil, um chute cara a cara, de Viola. O Flamengo fez 1 a 0, com Edílson cobrando pênalti e o Vasco empatou no final do primeiro tempo, com Juninho Paulista cobrando falta. Na segunda etapa, Julio César foi decisivo novamente, ao defender um chute de Juninho Paulista. O Flamengo fez o segundo, com Edílson, de cabeça. E o Vasco se fechou para manter o resultado que garantiria o título. A churrascaria para a festa já estava reservada, era a promessa de Eurico Miranda, presidente do clube. Aí, no final do jogo, aos 43 minutos, Petkovic cobrou uma falta de longe, com perfeição, e deu o tricampeonato ao Flamengo. No vestiário, Julio César era um dos mais alegres.

“Eu quero convidar o Eurico Miranda para comemorar com a gente na churrascaria de Copacabana que ele reservou”, disse, irônico.

O goleiro guarda grandes lembranças daquela conquista.

– É totalmente diferente o título dentro de campo do que vendo da arquibancada. No terceiro gol, na cobrança de Petkovic, eu tinha pouca visão, porque a distância entre uma baliza e a outra é enorme. Eu só vi a bola fazendo a curva e pensei que iria sair, mas aí percebi a massa pulando, histérica. Na hora, nem consegui comemorar, só agradecer a Deus. Eu estava completamente tenso. Tínhamos que vencer por dois gols de diferença e estávamos conseguindo [3 a 1]. Só faltava tocar a bola e esperar o tempo passar. Só comemorei quando o juiz apitou. Aí eu nem me reconhecia mais, e toda aquela tensão que eu carregava foi liberada.

Ainda em 2001, o Flamengo venceu a Copa dos Campeães, com 4 a 3 sobre o São Paulo, onde um jovem Kaká começava a despontar no tricolor, e garantiu presença na Libertadores do ano seguinte. Na competição internacional o time foi mal. Com uma vitória, um empate e quatro derrotas, foi o último em um grupo que reunia Once Caldas, da Colômbia, Universidad Católica, do Chile, e Olímpia, do Paraguai.

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