Por Diego Zerbato para o Jornal Folha de S.Paulo
Seis exemplos da diplomacia dos governos petistas, de mais contato e mais contratos com países da África e da América Latina, são a base do livro “Euforia e Fracasso – Política Externa e Multinacionais Brasileiras na Era Lula” (ed. Contexto, 221 págs., R$ 39,90), de Fábio Zanini.
Editor de “Poder” da Folha, o jornalista escolheu nações para onde Luiz Inácio Lula da Silva tentou exportar os principais sucessos econômicos brasileiros de sua Presidência (2003-2010), bandeiras do país visto à época como promissor no cenário global.
O modelo do agronegócio foi parar em Moçambique, a exploração de petróleo na Namíbia e a construção encontrou seu lugar no Peru e na Guiné Equatorial. Em Angola, a Odebrecht aproveitou os ventos favoráveis para consolidar seu domínio, conquistado na ditadura militar.
Salvo o caso da Marinha na construção das forças marítimas da Namíbia, Zanini mostra que a penetração brasileira nos países africanos e latinos foi uma espécie de parceria público-privada.
Isso marca uma diferença em relação ao controle estatal usado na diplomacia do petróleo da Venezuela e dos médicos de Cuba, exemplos de países aliados do PT.
O governo entrava com a expertise das estatais (Embrapa em Moçambique e Petrobras na Namíbia) e, em alguns casos, com o crédito, e tentava persuadir as nações a contratarem empresas brasileiras para as empreitadas.
O convencimento tinha seu custo, relata o jornalista. Em um dos casos, de US$ 50 milhões, supostamente pagos pela Odebrecht ao marqueteiro João Santana para fazer a campanha do presidente angolano, José Eduardo dos Santos, uma revelação da Operação Lava Jato.
A ação da Polícia Federal também trouxe à tona o caso de propinas que teriam sido pagas pela Camargo Corrêa e pela Queiroz Galvão na Rodovia Interoceânica, alardeada por Brasil e Peru como a solução para a exportação da soja brasileira pelo Pacífico.
Ao percorrê-la da fronteira brasileira até a andina Cuzco, Zanini mostra que a sinuosidade da rodovia foi um dos motivos para que ela não cumprisse sua função.
Responsável pela licitação da estrada, o ex-presidente Alejandro Toledo teve a prisão ordenada por outro caso envolvendo a Odebrecht.
A política lulista também levou a acusações de imperialismo do Brasil, comuns na Bolívia e no Paraguai.
A construção da usina de Inambari revoltou moradores do leste peruano e o ProSavana fez com que produtores rurais e ONGs de Moçambique fomentassem movimento contra os brasileiros.
Os seis casos pesquisados levam à conclusão do tiro curto da política externa de Lula, derrubada pela Lava Jato e pela crise econômica brasileira.