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Infectologista alerta para o risco de doenças causadas por vírus novos e misteriosos

Roberta Jansen para O Globo

Um informe divulgado esta semana por especialistas chineses deixou autoridades sanitárias em alerta em todo o mundo: o vírus da gripe suína H1N1 é compatível com o vírus da gripe aviária endêmica H9N2 e a combinação de ambos pode resultar em espécimes mais virulentos. O grande temor dos infectologistas de todo o planeta é justamente esse, a mistura genética de vírus influenza a híbridos novos e mais letais, como revela Stefan Cunha Ujvari, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, de São Paulo, no recém-lançado livro “Pandemias – a humanidade em risco“. Nesta entrevista, o especialista conta que a maior ameaça hoje ao planeta é o vírus da gripe aviária H2N1, com uma assustadora mortalidade de 50%.

Por que um livro sobre pandemias? A Humanidade está em perigo?

STEFAN CUNHA UJVARI: Estamos vivendo um momento interessante da História, alterando cada vez mais o meio ambiente, desmatando, criando mais animais para alimentação. Além disso, temos um aumento populacional e um tráfego global muito grande, muita gente cruzando fronteiras. Essas condições favorecem o surgimento de novos vírus.

De que forma?

UJVARI: A gripe suína, por exemplo, foi uma combinação de quatro vírus diferentes. O novo vírus foi formado pela combinação de um vírus do homem, um vírus do porco americano, um outro do porco europeu e um de ave. Quanto mais vírus forem transmitidos de um para o outro, mais misturas podem ocorrer.

Hoje, quem é o principal candidato a causar uma pandemia mundial grave?

UJVARI: O H5N1 (da gripe aviária). Ele é o grande temor. É um vírus frequente nas aves migratórias, eclode nas criações de aves com periodicidade e, todos os anos, há registros de casos de homens que entram em contato com aves e ficam doentes. A maior cobertura da mídia foi em 2003, mas isso continua até hoje. Todo ano tem alguns casos. Mas é um vírus que se transmite entre aves e, eventualmente, de aves para humanos. O grande risco é ele sofrer uma mutação que o torne transmissível de pessoa a pessoa ou se misturar geneticamente a algum outro vírus que passe de homem a homem. Ele seria o candidato número um para causar uma pandemia com letalidade considerável.

Qual seria essa letalidade?

UJVARI: Hoje, quando se instala no homem, essa gripe causa um estrago pulmonar muito grande. Sua letalidade é de 50%. Mas, se tiver a capacidade de passar entre homens, tende a ter sua mortalidade reduzida. Mas não sabemos, uma vez que será um vírus novo.

No caso da gripe suína, de 2009, houve muitas críticas à OMS. Muitos disseram que a organização se precipitou ao declarar uma pandemia. Qual a sua opinião?

UJVARI: Sempre se espera um influenza novo, que pode causar uma grande letalidade. Então, temos que tomar cuidado diante de qualquer vírus novo. As medidas não foram exageradas. A gripe suína não causou uma mortalidade tão grande, mas provocou uma letalidade que, até hoje, não conseguimos entender muito bem, em pessoas jovens e saudáveis.

As superbactérias são cada vez mais comuns em hospitais e o número de lançamentos de novos antibióticos é cada vez menor. Por quê?

UJVARI: O que vemos hoje é um lançamento maciço de drogas para doenças crônicas, como colesterol alto, hipertensão, diabetes, assim por diante. Alguns trabalhos nos EUA mostram que o número de novos antibióticos lançados no mercado vem diminuindo. Isso ocorre porque eles não geram o lucro esperado. Na comunidade não há tantas bactérias resistentes assim, seriam remédios usados apenas em hospitais. Ou seja, o retorno financeiro seria baixo.

E qual o risco que corremos com as superbactérias? Pode haver uma epidemia de bactérias resistentes?

UJVARI: Na comunidade em geral, não; mas em hospitais sim. Há várias bactérias se tornando resistentes e temos um número cada vez mais restrito de opções de antibióticos. Para algumas delas, só há um remédio, e a tendência é ir piorando. Estamos na iminência do surgimento de bactérias para as quais não há nenhum antibiótico no mercado.

O vírus chickungunya tem sintomas similares aos da dengue e é transmitido pelo Aedes. Qual o risco de sua chegada ao Brasil?

UJVARI: A dengue tem uma letalidade mais alta, mas o chicungunya incapacita por mais tempo, causa dor nas juntas. Mas os sintomas são bem parecidos. A confusão de diagnóstico seria ruim para identificar a chegada do vírus, o início da epidemia. Além disso, passaríamos a ter dois problemas a cada início de ano.

Os vírus mais ameaçadores são aqueles que provocam febres hemorrágicas com altíssima letalidade, como ebola, marburg e lassa. Existe algum risco de termos uma epidemia dessas?

UJVARI: Com o turismo cada vez mais intenso, principalmente para a África, a probabilidade de as pessoas se infectarem existe. E pode haver demora no diagnóstico e outras pessoas contaminadas até perceberem que se trata de um vírus novo. Há pouco tempo, em Johanesburgo, foi detectado um vírus novo, que provoca a destruição dos vasos sanguíneos e hemorragia. Três pessoas foram contaminadas. Mas só teve essa aparição. Vírus novos desse tipo podem surgir, mas pandemia não. Logo que o paciente é isolado, você contém facilmente a progressão.

Uma nova Aids é possível?

UJVARI: Há vírus parentes do HIV que o homem começa a descobrir nos macacos. O HTLV3 e o HTLV4 foram descobertos recentemente. Como o vírus da Aids nasceu desta maneira, é possível. Mas dificilmente seria uma epidemia parecida.

(Leia a matéria na íntegra)

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