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Historiador diz que indígenas ajudaram Hernán Cortez no México

Por Pollianna Milan, para a Gazeta do Povo (25/06/11)

 

Foi a partir do espanhol Hernán Cortez que os indígenas que vi­­viam no México viram uma chance de se livrar do domínio de outras sociedades indígenas cruéis e violentas. Esta é a explicação mais atual para se compreender o que levou alguns índios a se aliarem aos conquistadores espanhóis para derrubar a cidade de Teno­­chtitlán. “Talvez estar sob o domínio espanhol fosse menos severo do que obedecer aos mandos de certas sociedades indígenas”, afirma o historiador Marcus Vinícius de Morais, que acaba de lançar o livro Hernán Cortez: civilizador ou genocida? Para Morais, os vencedores podem ter sido os próprios índios. Nessa entrevista, ele explica as principais questões sobre a conquista do México.

 

Por que parte dos índios se aliaram aos espanhóis?

Existia outro domínio indígena na região, de uma cidade, hoje Cidade do México, que era muito forte e violento. Por isso digo que a figura de Hernán Cortez é usada em uma guerra entre índios. Já havia violência no mundo indígena, co­­brança de impostos, sacrifícios humanos. A presença de Cortez pode ter sido a oportunidade de se livrar de um domínio terrível. Eram três cidades que, de certa forma, unificavam vários povoados da Cidade do México: Texcoco, Tlacopan e Tenochtitlán. Essa confederação dominava diversas ou­tras comunidades.
Falar em vencedores e vencidos é complicado, então?

Quem é o vencedor se alguns índios se aliaram a Cortez? Quem usou quem? Entra em uma história menos dividida em equações exatas de que um vence e outro perde, que um é bom e outro é mau.

Por que a índia Malinche ajudou Cortez?

Não existe uma explicação oficial. Ela foi entregue aos espanhóis após uma aliança de Cortez com alguns índios. Era uma mulher indí­­gena no meio de europeus, no século 16. Ela virou intérprete co­­mo um modo de sobreviver. Num primeiro momento ela só falava maia e náuatle. O intérprete europeu, Jerónimo de Agui­lar, falava castelhano e maia. Os índios falavam em náuatle com Malinche, ela falava em maia com o Aguilar e ele falava em castelhano com o Cortez. Depois ela aprendeu o castelhano. Ela ficou conhecida por ser intérprete, mas as palavras dela a gente não sabe. Ela só falava o que os outros queriam.

Ela teve um filho de Cortez. Ela foi molestada?

Não dá para saber. O que não gosto muito é pensar que algumas pessoas usam essa história para dizer que houve um romance. [O bebê] é visto como o primeiro filho de espanhóis e indígenas. Mas isso não é verdade, porque na região da República Dominicana e do Haiti isso já existia. O tradutor de Cortez, Aguilar, já tinha um filho indígena. A união dos dois acaba simbolizando o nascimento de uma nação mestiça, ou seja, o nascimento do México de hoje.

E a figura de Cortez?

Os mexicanos o negam. O túmulo de Cortez está no México, mas não aparece nos guias de turismo.

Por que a ideia de que Montezuma (líder de Tenochtitlán) foi um covarde?

Ele deixou os espanhóis entraram em Tenochtitlán. Mas meu livro traz uma outra visão, mais atual. De um Montezuma estadista, que pensa e faz o melhor para proteger a cidade. Ele mesmo negocia com os espanhóis e vai ganhando tempo para pensar na melhor estratégia. Enquanto isso, os aliados indígenas também crescem.

É verdade que os índios acreditam que Cortez era um deus que retornaria à terra?

Essa profecia é uma visão europeia. Na hora em que o espanhol pega um canhão e atira contra uma mulher indígena, duvido que os índios tenham ficado paralisados por dois anos acreditando que os espanhóis eram deuses.

Montezuma foi morto pelos espanhóis ou pelos indígenas?

Não dá para saber. Nas crônicas dos espanhóis, ele foi atingido por uma pedra. Mas há outros relatos. Um deles é que Montezuma foi atingido, ficou vivo e os espanhóis o mataram durante a noite.

Como foi a conquista de Tenochtitlán?

Foi muito violenta. A cidade vizinha chamada de Tlaxcala era aliada dos espanhóis e eles se prepararam por quase um ano. A principal questão era como entrar em uma cidade no meio de um lago. A cidade acabou sitiada: a água potável e os alimentos foram cortados. A ideia era matar a cidade de fome e de sede. No geral, eles uniram as duas coisas. Ocorreu a invasão dos aliados, dos espanhóis e ao mesmo tempo o corte de comida e água.

O que foi a Noite Triste?

Cortez entrou em Tenochtitlán em 1519, mas em 1520 os espanhóis foram expulsos. É um termo espanhol. Para os índios pode ter sido a Noite Alegre. É uma emboscada indígena e os espanhóis, neste dia, são expulsos. Só depois é que eles saem e vão se preparar por um ano para atacar Tenochtitlán.

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