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Hélio Schwartsman apresenta dilemas morais e abala certezas em coletânea

Por Marcelo Coelho para Folha de S.Paulo

Quem lê regularmente a coluna “São Paulo”, na pág. A2 do jornal, não precisa ser apresentado a Hélio Schwartsman. Com o adequado título de “Pensando Bem…”, este jornalista, que também é formado em filosofia pela USP, reúne mais de 200 artigos publicados originalmente na Folha.

Selecionou-os, diz no curto prefácio, dentre os textos que pudessem resistir mais à circunstância imediata, ao apelo do noticiário cotidiano, que inevitavelmente motivam qualquer produção jornalística.

Verdade que os artigos de Hélio Schwartsman, em geral, caracterizam-se pela qualidade de não depender muito dos acontecimentos do dia.

O autor procura utilizá-los como oportunidade para apresentar, em rápidas linhas, dilemas morais ou discussões científicas, pelas quais demonstra curiosidade insaciável.

Na concisão de quatro ou cinco parágrafos, Schwartsman parece ter sempre na ponta da língua (ou dos dedos) a pensando-bemconclusão mais relevante de alguma pesquisa recente em medicina e psicologia, ou o pormenor histórico mais apto a abalar as certezas habituais de seu leitor.

Abra-se esta coletânea de artigos em qualquer página, e logo alguma observação incômoda terá grande chance de aparecer. A de que Abraham Lincoln, por exemplo, não foi apenas o presidente americano que liderou a vitória contra a escravidão, mas também um convicto adepto da tese de uma inferioridade da raça negra.

Sempre disposto a polemizar com o fundamentalismo religioso, Schwartsman encadeia essa notícia com a descoberta de passagens a favor da escravidão na Bíblia. Não simplesmente no Velho Testamento, diga-se, mas nas palavras do próprio Jesus Cristo.

ATEÍSMO E DARWINISMO

Algumas correntes importantes do pensamento contemporâneo confluem, com efeito, nos textos de “Pensando Bem…”.

Em primeiro lugar, o chamado “novo ateísmo”, expresso em livros como o de Richard Dawkins (“Deus, um Delírio”, Companhia das Letras, 528 págs.) e o de Christopher Hitchens (“Deus Não É Grande”, Globo, 470 págs.).

Em segundo, a vasta produção acadêmica, de inspiração darwinista, em torno do que seriam algumas constantes neurológicas ou cerebrais da natureza humana.

Não é incomum que os textos de Hélio Schwartsman se refiram a alguma “marca de fabricação” que nos leve, por exemplo, a ajudar familiares em vez de estrangeiros, a dizer mentiras em muito maior proporção do que imaginamos, ou a nos deixar corromper sem nem mesmo nos aperceber do que estamos fazendo.

Um terceiro elemento, igualmente característico do clima intelectual contemporâneo, é a tendência do autor para desconfiar fortemente da regulamentação estatal, especialmente (mas não só) no plano dos costumes e das preferências individuais. Uma tendência ultraliberal, ou libertária, transparece na maioria dos artigos desta coletânea.

Abordando temas tão variados como o uso dos drones na guerra contra o terrorismo e o conflito entre táxi e Uber, a importância da beleza física no sucesso profissional ou o futuro do vegetarianismo, Schwartsman tem aberto novas perspectivas para o comentário jornalístico diário, e “Pensando Bem…” traz uma amostra significativa e diversificada de sua produção.

helio