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Guia de acentuação e pontuação em português brasileiro

Os sistemas de escrita das línguas humanas raramente são eficientes e econômicos. Como uma tentativa de representação do pensamento, eles têm pouca relação com a fala, que é muito mais complexa e natural. Assim, as tecnologias de escrita pecam em diversos aspectos. Muitas vezes, são excessivamente complexas (como as escritas ideográficas e as mistas, que vamos conhecer adiante), outras vezes, deixam muito a desejar, como é o caso da escrita alfabética do português.

Para complicar um pouco mais as coisas, além das letras, nosso sistema de escrita contempla um conjunto complexo de outros sinais, os diacríticos, que tentam complementar a escrita de maneira que sejamos capazes de reconstruir um pouco da fala a partir do que está grafado. Bem, na verdade eles só tentam, porque não conseguem fazê-lo exatamente como se espera (aliás, nenhum sistema conhecido de escrita consegue fazê-lo com exatidão). Porém, esse conjunto de outros sinais complica mais ainda a forma de escrever e acaba sendo um obstáculo enorme para que os estudantes escrevam corretamente.

Essa confusão que existe nos sistemas de escrita deixa os estudantes maluquinhos… Mesmo com a existência de corretores ortográficos digitais, a escrita ainda é um bicho de sete cabeças para os alunos, inclusive para os universitários. Primeiro, porque os corretores digitais nem sempre estão à mão. Em provas como o Enem ou concursos públicos, por exemplo, eles estão descartados e só serve mesmo aquilo que se tem guardado na cabeça. Segundo, porque não existe nenhum corretor que seja capaz de ler pensamento e, por isso, nenhum corretor ortográfico dá conta de corrigir tudo o que tem que ser corrigido na escrita.

Aliás, muito mais do que a acentuação, a pontuação parece ser o grande vilão da história. É raríssimo encontrar uma pessoa que domine o uso da vírgula, por exemplo. Principalmente porque a escola brasileira adotou aquela conversa fiada de que a vírgula serve para uma “pausa pequena” ou para uma “respiração pequena” e o ponto-final para uma “pausa grande” ou para uma “respiração grande”. Isso é de um absurdo tamanho que só dá mesmo para rir. E é, também, uma forma de desencaminhamento tão eficiente dos alunos que quase todos crescem e avançam nos estudos sem saber pontuar. Quando estão escrevendo, cada vez que param para pensar, colocam uma vírgula no texto: foi uma “pausa pequena”…

Este livro vem ao socorro desses estudantes e professores que precisam compreender melhor esse conjunto expressivo de sinais que são usados para complementar e organizar a escrita. Mais do que a um amontoado de regras, é preciso ter acesso a explicações que permitam compreender a lógica que gerou cada sinal, sua necessidade e seu uso. Especialmente, é preciso aprender a utilizar a pontuação, algo que está bem além da capacidade dos corretores digitais. Por isso, esta obra traz explicações mais longas sobre o processo de aplicação da pontuação, especialmente da pontuação estruturante.

Procuramos, na medida do possível, construí-lo “essencial”. Buscamos uma forma objetiva e esclarecedora, apresentando os conteúdos de maneira mais sucinta, porém não de modo simplesmente esquemático. Não queremos mais que nossos estudantes ouçam “é assim porque é assim” sem que sejam capazes de compreender as razões que respaldam os usos desses sinais.

Esperamos que este pequeno guia atenda às principais carências nessa área da escrita e que, assim, seja especialmente útil na formação básica de nossos estudantes. Afinal, todos sabemos que, quanto antes os alunos dominarem a escrita, tanto melhor para eles e para o país. A escrita é o tipo de coisa que, quanto mais tardiamente se aprende, mais espaço para vícios se concede. Ou ensinamos nossos alunos logo nos primeiros anos, ou eles arrastarão por toda a vida suas dificuldades de escrita e a vergonha que essas dificuldades ocasionam nas mais diversas situações.


Celso Ferrarezi Junior é professor titular de Semântica na UNIFAL-MG. Mestre, doutor e pós-doutor em Semântica, trabalha, principalmente, com semânticas de vertente cultural, tendo idealizado a Semântica de Contextos e Cenários, base teórica de seu trabalho atual. Coordena o Grupo de Pesquisas Linguísticas Descritivas, Teóricas e Aplicadas na UNIFAL-MG. É consultor nas áreas de Linguagem e Educação de diversas instituições governamentais e privadas no Brasil e no exterior. Tem diversos livros e textos científicos publicados no Brasil e no exterior. Pela Contexto, publicou “Sintaxe para a educação básica“, “Guia do trabalho científico: do projeto à redação final” e “O estudo dos verbos na educação básica“, e organizou “Semântica, semânticas” e “Sociolinguística, Sociolinguísticas“.