Caros leitoras, caros leitores:
Este livro é destinado a estudantes de cursos de Pedagogia e demais licenciaturas, sobretudo quando estiverem dedicadas e dedicados a disciplinas que tratam de gestão educacional, especialmente gestão escolar.
O objetivo da coleção da qual esta obra faz parte é apoiar estudantes de graduação nos estudos da formação inicial de ensino superior. A encomenda feita pela Editora Contexto foi de um texto simples, direto, que dispensasse citações e referências. Um texto que dialogasse diretamente com estudantes que estão iniciando seus estudos de nível superior nas licenciaturas, ou seja, nos cursos iniciais de formação de professores.
Assim, não tenho a pretensão de esgotar qualquer assunto tratado, como, aliás, nenhum texto deveria ter, por mais extenso e profundo que possa ser. A intenção é oferecer um ponto de partida para os estudos. A partir dos tópicos aqui apresentados, as e os estudantes poderão buscar outras referências que ampliem e aprofundem seus conhecimentos sobre as temáticas abordadas.
Embora as e os estudantes de licenciaturas sejam o público prioritário desta obra, ela também pode ser utilizada pelo professorado já no exercício da profissão, em sala de aula, em cargos ou funções de gestão, na escola ou em outros âmbitos do sistema educacional.
Independentemente da licenciatura que tenha cursado, da etapa da educação básica em que atua ou de sua área curricular, toda pessoa que se dedica ao magistério precisa entender que sua atuação está situada em um contexto maior. O que se passa entre professora ou professor com a turminha de bebês e crianças na educação infantil, com turmas de ensino fundamental e médio, e tudo o mais que acontece em todas as unidades escolares de qualquer modalidade de educação, em qualquer localidade, sofre influência das políticas emanadas pelas instâncias centrais dos sistemas educacionais e do modo como essas políticas são implementadas na escola. E isso, por sua vez, tem tudo a ver com gestão escolar.
No mais, a escola também está perpassada pelas influências do território ao qual pertence e pelo contexto maior do município, do estado, do país e do mundo. Ao mesmo tempo, a escola não é uma instância que apenas recebe influências, de modo passivo. Como uma das mais importantes instituições sociais da contemporaneidade, ela também exerce papel ativo na constituição dos sujeitos e do tecido social.
Por isso, estudantes de licenciaturas e professoras e professores em exercício precisam estudar continuamente a gestão escolar em sua relação com política educacional. E devem exercer sua profissão tendo plena consciência dessas dimensões. Esse é meu discurso nas aulas de Coordenação do Trabalho na Escola e de Política e Organização da Educação Básica na Faculdade de Educação da USP. Sinto que, por vezes, estudantes de licenciaturas chegam nessas disciplinas e em outras similares, em outras instituições de ensino superior, desconfiados sobre a utilidade delas em sua formação. Afinal, como não estão diretamente relacionadas a nenhum componente curricular da educação básica, elas parecem um tanto abstratas e descoladas da atuação da professora e do professor.
No entanto, alerto a todas as pessoas que estão ingressando na aventura do ofício docente que essas disciplinas tratam de um componente fundamental e incontornável do cotidiano da escola: as relações de poder. Trata-se de um elemento que integra o que se convencionou chamar de “currículo oculto” na educação, ou seja, aquilo que está presente e ativo, mas não explícito. Ninguém poderá se tornar uma professora, um professor de verdade sem refletir sobre as relações de poder na escola, sem analisar como sua atuação se situa dentro dessas relações, como todas as demais pessoas nelas se situam. Tudo isso passa necessariamente pela gestão escolar.
Assim, reitero aqui o discurso que faço para minhas alunas, alunos e alunes, convidando leitoras e leitores a se apaixonarem, como eu, por política e gestão educacional, como parte de seu constante processo de formação, aprendizado e ampliação de repertório, de um modo crítico, ou seja, que perceba a complexidade da realidade educacional, focando, no caso deste livro, a gestão escolar. Atenção: vocês entenderão, ao longo deste texto, que ao utilizar a expressão “gestão escolar” não estou me referindo a pessoas ou a determinados cargos, mas a um processo de trabalho coletivo que perpassa a atuação de todos os profissionais da escola, além das instâncias de participação.
Iracema Santos do Nascimento é doutora em Educação pela USP, onde é docente na Faculdade de Educação desde 2017, atuando na graduação e na pós-graduação. Na graduação, ministra, entre outras, as disciplinas de Coordenação do Trabalho na Escola; Política e Organização da Educação Básica; Relações de Gênero e Educação. Na pós-graduação, coordena a área de pesquisa Estado, Sociedade e Educação desde 2020. Criou e ministra a disciplina “Teorias Críticas e Epistemologias Decoloniais para repensar Educação e Democracia”. Criou e coordena o projeto de extensão e pesquisa Clube de Leitura “Literatura e Diversidade”, com leitura compartilhada de livros de autoria e temática LGBTQ+. Criou e coordena o Ijoba Moyãmi – Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Política e Gestão Educacional e Diferenças-Diversidade, com ênfase em raça, gênero, classe e suas intersecções.