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Estados Unidos – uma história | Lançamento

Entre a criação de uma república nos confins do Atlântico Norte e sua transformação numa potência mundial, os norte-americanos percorreram um caminho relativamente rápido. Sua trajetória foi marcada por uma desconfiança profunda em relação ao Estado central, por compromissos políticos regionais, por guerras civis e internacionais e por uma postura agressiva de aquisição territorial baseada num suposto “destino manifesto”, por meio do qual os norte-americanos expandiriam suas instituições através do continente. Algumas das principais instituições do país foram estabelecidas durante os seus cem primeiros anos de existência. Elas associavam o credo liberal a uma ligação profunda com a religião num nível raramente alcançado por outras nações.

Até meados do século XVIII as colônias inglesas da América continental compunham um mosaico de coletividades, fracamente conectadas umas às outras. As variações regionais nos padrões demográficos, migratórios, religiosos e na organização do trabalho tornam difícil qualquer generalização. A despeito da enorme diversidade, é possível identificar pelo menos um ponto em comum a todas elas: no panorama colonial inexistia centralização político-administrativa. Em consonância com essa limitação, as atividades administrativas e militares nessas regiões envolveram um grau muito menor de centralização e acumulação de poderes que na Europa continental e mesmo na Inglaterra. Assim, em contraste com os esforços europeus para estabelecer um “governo direto” através de uma burocracia forte, a cooperação entre agentes públicos e autoridades locais constituiu a principal característica das normas administrativas no panorama colonial da América britânica.

As colônias da América britânica continental que viriam a formar os Estados Unidos surgiram tanto de dissidências religiosas quanto da ambição de seus habitantes pelo sucesso individual. Esses valores refletiriam a ausência de estruturas feudais, fossem monárquicas ou aristocráticas, destacando-se a ausência de um exército profissional de porte. A cultura desenvolvida naquelas colônias inovou ao valorizar a defesa da igualdade de oportunidades, ainda que restrita aos homens brancos protestantes, minimizando as divisões baseadas na hierarquia social e nas diferenças de status, exceto no que diz respeito às questões raciais, que sempre dividiram aqueles habitantes. Ela também inovou ao levar em conta a noção da falibilidade humana, ou seja, a constatação de que a ambição, não a virtude, forneceria a melhor alternativa de fiscalização entre os poderes sob os quais seria organizado o governo. Assim, os poderes democráticos, para bem funcionar, precisavam ser permanentemente fiscalizados.

A república, que inicialmente pensou-se agrária e descentralizada, tornar-se-ia cada vez mais industrializada e comercial. Ela evoluiu de um incipiente entreposto de trocas para uma grande referência global para o comércio e a indústria. Durante esse processo, transformações notáveis ocorreram na organização das estruturas políticas da primeira colônia americana a declarar com sucesso sua independência. Desde então suas instituições vêm sendo adaptadas de forma intensa por outras sociedades, na maioria das vezes sem o sucesso da experiência original. E é justamente o processo de criação dessas instituições e a experiência histórica que seu desenvolvimento estimulou que este livro pretende, resumidamente, analisar.

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Vitor Izecksohn é professor do Instituto de História e do Programa de Pós-Graduação em História Social da UFRJ e pesquisador do CNPq. É Doutor pela Universidade de New Hampshire. Foi professor visitante da Brown University e da Elliot School of International Affairs. Foi pesquisador visitante na Universidade de Yale, na John Carter Brown Library e no Instituto Max Planck. Atualmente é pesquisador associado à Biblioteca Nacional Fred W. Smith para o Estudo de George Washington. Sua pesquisa envolve a crise federativa nas Américas e as guerras dos anos de 1860.