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Esse desafio é para ontem | Rubens Marchioni

O aumento da temperatura média local é uma realidade que não pode ser ignorada. Mais do que uma decisão suicida, fazer de conta que o problema não existe configura crime hediondo. Nele, existe a intenção, ainda que velada, de matar.

O gesto de desestabilizar a temperatura do planeta pode ser entendido como a prática de um pecado, por afrontar a obra do Criador. Isso, além do número de vidas que ele vai sacrificar. Pecado sem perdão, é preciso deixar claro.

Nesse sentido, que tal convocar os melhores cientistas, vindos de todas as partes do maltratado planeta Terra e financiados pelos respectivos países de origem, para fazer estudos em profundidade sobre o tema e encontrar soluções viáveis, imediatamente colocadas em prática? Os interessados somos todos, não é mesmo?

Convém lembrar que, apenas para citar dois exemplos, a Austrália pega fogo, e isso não é inédito. A Amazônia pega fogo, idem. A calota polar é sacrificada, e aos poucos vai se tornando um líquido tão inútil quanto perigoso para o planeta. Um pouco mais aqui, um pouco mais ali, o aumento de temperatura é sentido na pele. E isso acontece inclusive em regiões acima de qualquer suspeita. A Europa já sente calor em pleno inverno. 

No princípio, nem tudo era assim. Não havia queima de combustível fóssil. Chaminés tingindo de negro o céu de anil? Isso era impensável. Somente um mestre da ficção seria capaz de elaborar um cenário de tal forma ameaçador. Nosso planeta já teve um passado em que era limpo e saudável.

Hoje, e a propósito de tudo isso, convém advertir para uma questão de extrema importância: os senhores Trump e Bolsonaro, para lembrar dois chefes de Estado que insistem em tapar o sol com a peneira, não terão para onde fugir quando o pior acontecer. O mesmo vale para a indústria, sempre que se omite, agindo como se nada tivesse a ver com todo este cenário fantasmagórico. A tragédia será democrática. E nenhuma conta bancária, cargo ou prestígio internacional poderá contê-la. Por acaso alguém acredita que se refugiar nos Alpes suíços vai resolver?

Mas isso tudo pode mudar. Isso tudo pode mudar, se a gente quiser. Se o desafio se tornar urgente, e for percebido como algo essencial. Se formos levados para frente por uma força vital, dessas que não se pode evitar.

Falo de iniciativas individuais, coletivas depois, até que uma cidade, um Estado, uma Nação, um Continente se coloquem em movimento. E a política? Dane-se a política. Vamos partir para a micropolítica, aquela que acontece primeiramente comigo mesmo, agindo na minha casa, na calçada de onde moro, depois em dupla, até que ela cresça e provoque mudanças avassaladoras.

Senão vejamos o caso daquela garota solitária. Contra a vontade de alguns líderes acometidos de cegueira crônica, ela tem levado nações inteiras a uma reflexão antes impensada. Se essa filosofia pega, o cenário pode ser outro. A vida deixa de permanecer sob ameaça. Porque ninguém deseja continuar vivendo sob uma guilhotina, como quem está à disposição da mira do revólver do ladrão que se alimenta da adrenalina de puxar o gatilho. Se eu e você aceitarmos engravidar, a vida pode renascer. Existe algo mais significativo e belo do que uma parceria dessa natureza com o Criador, sobretudo quando o que está em jogo são todas as criaturas, todos aqueles que pertencem à mesma raça humana?


RUBENS MARCHIONI é palestrante, publicitário, jornalista e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Autor de Criatividade e redação, A conquista Escrita criativa. Da ideia ao texto[email protected]  — https://rumarchioni.wixsite.com/segundaopcao