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Escrever um livro exige disciplina e dá trabalho. Mas é fácil. Siga o roteiro – Final | Rubens Marchioni

VIU COMO TUDO fica mais fácil quando se tem um caminho traçado previamente, ainda que ele possa ser alterado ao longo do percurso? Graças a isso, já estamos no final do trabalho. E sem imediatismos, que isso não adianta nada, vamos iniciar a última etapa desse projeto.

Escrever a conclusão geral

Você já pensou e repensou o assunto do seu livro e escreveu muito, sem síntese, para permitir que o pensamento fluísse naturalmente como um rio. Sabe, ao certo, o que gostaria de dizer. Então chegou a hora de escrever uma conclusão geral e amarrar cada ideia, cada argumento. Mostre ao leitor aonde você pretendia chegar. Se for o caso, depois de gastar todo o tempo comprovando algumas coisas, convide-o a agir para que transformações pessoais ou estruturais aconteçam.

Como escritor, nunca é demais lembrar que você tem uma missão, e a exerce por meio da palavra. Seja, portanto, aquele que motiva para a mudança. Contribua para que as pessoas saibam, saibam fazer e queiram fazer. O mundo precisa disso.

Reler, incluindo novas informações, argumentos etc.

Depois, deixe o texto da Conclusão de molho, para que os pensamentos e palavras conversem entre si, ‘façam amizade’ – ouvi isso de um chefe de cozinha, sobre os ingredientes de um prato que deveriam ficar descansando, na panela, por algum tempo, com esse objetivo. Você está preparando um prato especial. Espere até que o tempero de uma palavra ou frase seja assimilado pela outra e se harmonizem. Enquanto isso, mude de assunto. Vá fazer outra coisa. Deixe o tempo passar. Depois volte.

Agora releia o que acabou de escrever, então com os olhos descansados. Você dispõe de novas informações, que haviam escapado, ou descobriu depois? Novos argumentos para uma ideia? Reúna esses elementos ao que você já tem e aumente a consistência da tese defendida. Substitua palavras e frases, se precisar.

Como se montasse um computador, tudo deve ficar no lugar exato, sob pena de com-prometer o funcionamento da máquina. Lembre-se: o leitor não pode ficar confuso, nem ser colocado diante de algo em que não possa acreditar com segurança. Sem contar que ele tem espírito crítico, não se esqueça disso.

Estudando sobre edição de texto, certa vez encontrei um autor que fazia uma sugestão inusitada: experimente eliminar o primeiro parágrafo caso ele não seja o lead. No começo me pareceu estranho. No entanto, experimentei. Às vezes funciona muito bem, se pensarmos que a parte eliminada equivale à fase em que estamos apenas dando voltas antes de iniciar o assunto propriamente dito. Vale a pena tentar.

Reler, verificando o uso de substantivo, adjetivo, palavras terminadas em ‘mente’, clichês etc.

Penúltima etapa da edição. Releia o texto inteiro, agora com a atenção voltada para cada palavra escolhida e perguntando-se: ‘ela traduz realmente o que quero dizer?’. Seja exigente. Não aceite palavras com sentido aproximado. Permita apenas a entrada daquelas que têm sentido exato. Eis por que você precisa dispor de um enorme repertório.

Vale lembrar que a expressão ‘substantivo’ remete à ideia de ‘substância’, o que deve marcar o seu texto, para que ele não seja algo frouxo, que se contenta em dizer coisas aproximadamente, sem objetividade, precisão e clareza. É o substantivo, a palavra exata, portanto, que define o grau de nitidez da sua mensagem, a qual não pode estar distorcida, borrada. Sem traços bem definidos, ela ficará confusa, sem foco, permitindo ao leitor entender qualquer coisa, menos aquilo que você espera colocar em sua mente.

Por exemplo, quando usa a palavra “vegetal”, você não delimita nada, porque está excluindo apenas o que é mineral e animal. Mas quando diz “pé de alface”, evita o risco de fazer com que alguém pense em eucalipto. E se disser “alface americana”, melhor ainda, porque exclui a ideia de “alface crespa”.

E quanto aos adjetivos? Eles são a gordura do texto. Informam pouco. Saem de moda. Estão sujeitos à região na qual são usados. Têm sentido subjetivo – o que é bonito pra mim pode ser apenas ‘bonitinho’, ou feio, pra você. Portanto, não convence. E isso é uma boa razão para não se apoiar neles a fim de garantir a qualidade da comunicação. Ser preciso é mais do que preciso.

Para concluir essa parte, identifique as palavras terminadas em ‘mente’. Muitas delas saíram não sei de onde, de algum vício talvez, e podem ser substituídas. O mesmo vale para os clichês, aquelas expressões desgastadas pelo uso, que pecam pela falta de originalidade. Evite cair no “mais do mesmo”.

Reler, em voz alta, com ouvido de maestro, para novos ajustes

Agora convide o juiz para o trabalho. E faça algo revelador: leia tudo em voz alta, com ouvidos de maestro, prestando atenção à sonoridade das palavras e frases e fazendo ajustes finais. Sempre, quando faço essa última leitura, imagino que estou apresentando um telejornal ou fazendo a locução de um documentário.
Como está a sonoridade do texto? Ela fere os ouvidos? Existem cacófatos? Há o predomínio de frases muito longas, que provocam asfixia, e por isso podem ser reduzidas? Cuide para que o texto fique redondo, sem pontas que arranham e sem buracos que comprometam sua eficácia.

Uma pergunta para concluir: Quando os originais serão entregues à editora? Até lá, você ainda tem tempo para fazer novos ajustes, tanto do ponto de vista da forma quanto do conteúdo. Aprimore ao máximo o que escreveu.
No Brasil, Walter Clark criou o sempre imitado padrão global de televisão, a partir da ideia de que “O melhor é o melhor.” E um dos maiores publicitários do planeta, o americano Leo Burnett, conquistou esse status por acreditar que “Quando você tenta alcançar as estrelas, talvez não consiga agarrar nenhuma delas, mas é certo que não acabará com um punhado de barro nas mãos.”

Depois de tudo, celebre a conquista. Ela é sua e você fez por merecer.


RUBENS MARCHIONI é palestrante, publicitário, jornalista e escritor. Autor de Criatividade e redação, A conquista Escrita criativa. Da ideia ao texto[email protected] — http://rubensmarchioni.wordpress.comom