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Escrever um livro exige disciplina e dá trabalho. Mas é fácil. Siga o roteiro – Parte III | Rubens Marchioni

Escrita CriativaVOCÊ ESTÁ ESCREVENDO o seu livro, e isso é ótimo. Se possível, não desperdice a oportunidade de viver essa experiência estimulante. O seu projeto está saindo do papel. Dá trabalho? Dá. Mas isso acontece desde que alguém decidiu registrar ideias, incluindo-se aí aqueles que receberam os maiores prêmios da Literatura.

Escreva o storyline geral            

Tudo bem, eu sei que antes do final ainda tem muito chão pela frente. Mas você está no controle. Não vai se apavorar pelo fato de ainda não dispor de uma obra concluída – bebês nascem, em geral, depois de nove longos meses de gravidez. Então dê o próximo passo, ‘comendo o boi aos bifes’: escreva o storyline do seu livro, um resumo que deve caber em apenas dez linhas.

Se não consegue redigir isso de maneira muito concreta, o alerta está dado: você ainda não tem a suposta clareza sobre o assunto e seus propósitos com essa obra. É preciso repensar. Redesenhar. Melhorar o foco, o nível de definição.

Uma curiosidade: sabe por que, nas agências de propaganda, antes de criar um longo texto para revista ou marketing direto, numa campanha, o redator redige primeiro o outdoor? É que esta peça, usualmente composta por até oito palavras, é o grande teste para verificar se o criativo entendeu a essência do briefing de criação, aquele pedido que detalha o que deve ser feito em termos de comunicação. Como prêmio, consegue leitores, vendas, e não apenas críticos ou comentaristas, segundo Albert Camus.

Ao escrever o storyline do seu livro, é como se escrevesse o outdoor, uma peça muito compacta, que deve conter, lá dentro, tudo o que é a obra a ser construída em inúmeros capítulos e centenas de páginas. Sem isso, o sonho de chegar às primeiras 50 páginas pode se revelar apenas um delírio, porque impraticável na maioria das vezes.

Arthur Schopenhauer adverte para o fato de que a concisão consiste em “dizer apenas, em todos os casos, o que é digno de ser dito, com a justa distinção entre o que é necessário e o que é supérfluo, evitando todas as explicações prolixas sobre coisas que qualquer um pode pensar por si mesmo.” Ora, isso se aplica também à redação do storyline, um texto conciso, costurado apenas com aquilo ‘que é digno de ser dito’.

Nesse sentido, seja muito exigente: não dê o próximo passo antes de saber que a ideia do livro, sintetizada no storyline, está clara. Caso contrário, as chances de se perder no caminho são muitas.

Não, não estou propondo uma camisa de força. Se, ao desenvolver o trabalho, algo sugerir que você mude aqui ou ali, não tenha medo, o livro é seu. Faça as alterações que forem necessárias. Mas não mude porque está perdido. Você deve alterar o rumo apenas se o que o seu inconsciente sugerir como caminho criativo ou como raciocínio for melhor do que aquilo de que você dispõe no momento. O comando deve ser apenas seu – de quem será o nome impresso na capa?

Escreva o Objetivo Específico de cada parte

Junte as peças. Você já tem clareza sobre o objetivo geral da sua obra, isto é, sabe exatamente a maneira como o seu leitor deve pensar, sentir e agir depois da leitura, sobretudo quando pretende transmitir conteúdos ligados a conhecimento [saber], habilidade [saber fazer] e atitude [querer fazer]. Em função disso, escreveu um storyline geral do seu livro, para se certificar de que está caminhando com segurança em relação à tese que pretende defender. Agora, portanto, chegou o momento de redigir o objetivo específico de cada capítulo. O processo é o mesmo. Voltando ao exemplo do corpo humano, o que você espera do leitor que vai mergulhar na sua explanação sobre cada uma das três partes da anatomia a ser estudada?

Escreva o storyline de cada parte

Se você sabe exatamente o que espera do leitor, à medida que ele lê cada parte do seu livro, escreva um storyline que sintetize, de maneira muito clara, o que vai lhe oferecer para que o seu objetivo, como escritor, seja atingido. Não o abandone. Lembre-se: colocando-se a serviço, você não pode permitir que o leitor fique em dúvida sobre o conteúdo que recebe. E deixe que ele resolva, depois, o que fazer a partir daí. Afinal, uma obra literária não pertence apenas a quem a escreve, mas também, e talvez principalmente, a quem lê. Na próxima quarta tem mais.


RUBENS MARCHIONI é palestrante, publicitário, jornalista e escritor. Autor de Criatividade e redação, A conquista Escrita criativa. Da ideia ao texto[email protected] — http://rubensmarchioni.wordpress.com