Você vai fazer concurso? Redige ofícios, memorando, relatórios, exposição de motivos? Candidata-se a vaga na universidade? Está de olho em promoção no emprego? Escreve e-mails? Participa de redes sociais? Abra os dois olhos. Não caia nas ciladas que roubam pontos e prestígio. As armadilhas são muitas. A seguir, desmontamos algumas.
O hospital atende pacientes de “0” a 18 anos
Zero ano? Nem com mágica. Só depois de 365 dias, completam-se os 12 meses necessários pra chegar lá. Melhor dar tempo ao tempo: O hospital atende pacientes de até 18 anos.
“Dois” milhões de mulheres
Ops! Milhão é masculino e não abre. Numerais, artigos e pronomes têm de concordar com ele: dois milhões de mulheres, os milhões de crianças, muitos milhões de declarações.
O diretor manterá a “mesma” assessoria.
Ora, se vai manter, só pode ser a mesma. Se não for, o verbo é outro. Pode ser mudar. Ou alterar. Xô, pleonasmo: O diretor manterá a assessoria.
O acidente deixou cinco “vítimas fatais.”
Fatal quer dizer que mata. O acidente mata. É fatal. A vítima, coitada não matou. Morreu. Em bom português: O acidente deixou cinco mortos.
Quem aposentou-“se”?
Olho na gangue do qu. Que, quem, quando, quanto, qual, porque atraem os pronomes átonos: Quem se aposentou? Ele disse que, depois dos apelos, se manteve no posto.
“Há” poucos meses das eleições, as regras não estão definidas.
Olha a confusão! O há indica tempo passado. O a, futuro. Não vale trocar as bolas: Chegou há pouco. Entrou na universidade há dois anos. Paulo chega daqui a pouco. A poucos meses das eleições, as regras não estão definidas.
“Face ao” exposto, pouco se pode fazer.
Atenção, marinheiro de poucas viagens. Face a não existe em português. A forma 100% nacional é em face de: Em face do exposto, pouco se pode fazer.
Educação deve ser prioridade “independente” do vencedor.
Epa! Independente é adjetivo. Quer dizer livre. Independentemente é advérbio. Significa sem levar em conta: O Brasil ficou independente de Portugal em 1822. Educação deve ser prioridade independentemente do vencedor.
Lia estava com a mãe quando o ladrão encostou a arma na “sua” cabeça.
Sua de quem? Pode ser da mãe ou da filha. O sua responde pela ambiguidade. Melhor livrar-se dele: …encostou a arma na cabeça da criança. Ou da mãe.
Expediente entre “12h e 14h”.
Na indicação de horas, o número vem sempre (sempre mesmo) acompanhado de artigo: Expediente entre as 12h e as 14h.
Fonte: Blog da Dad
Dad Squarisi transita com desenvoltura pelo universo da língua. É editora de Opinião do Correio Braziliense, comentarista da TV Brasília, blogueira, articulista e escritora. Assina as colunas Dicas de Português e Diquinhas de Português, publicadas por jornais de norte a sul do país; Com Todas as Letras, na revista Agitação, e Língua Afiada, na Revista do Ministério Público de Pernambuco. Formada em Letras, com especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura, concentra o interesse, sobretudo, na redação profissional – o jeitinho de dizer de cada especialidade, cada grupo, cada mídia. Mas é tudo português. A experiência como professora do Instituto Rio Branco, consultora legislativa do Senado Federal e jornalista do Correio Braziliense iluminou o caminho dos livros Dicas da Dad – Português com humor, Mais dicas da Dad – Português com humor, A arte de escrever bem, Escrever melhor (com Arlete Salvador), Redação para concursos e vestibulares (com Célia Curto), Como escrever na internet, 1001 dicas de português – manual descomplicado, Sete pecados da língua, publicados pela Contexto, além de Superdicas de ortografia, Manual de redação e estilo para mídias convergentes, dos Diários Associados, e de livros infantis – de mitologia e fábulas.