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Empregabilidade: a sutil arte de fazer a diferença | Rubens Marchioni

ERA O SÉCULO 17 quando o poeta e fabulista francês Jean de La Fontaine pontificou: “Seja no que for, temos de ter em conta a finalidade”. Ele falava de conceitos essenciais como criatividade e adequação. De lá para cá, nada mudou.

Frank Lloyd Wright, arquiteto, escritor e educador americano, que viveu três séculos depois, construiu uma obra com um conceito central: para ele, cada projeto deveria ser individual, de acordo com sua localização e finalidade. Sua proposta era a mesma daquela sugerida por La Fontaine.

No início da carreira, Wright trabalhou com ninguém menos que Louis Sullivan, um dos pioneiros em arranha-céus da Escola de Chicago. É sua a afirmação, segundo a qual o preço do sucesso inclui “dedicação, trabalho duro e uma incessante devoção às coisas que você quer ver acontecer”. Wright sabia onde desejava chegar.

Ter a oportunidade de realizar um trabalho duro, regado a dedicação e fé, isso é o que se chama viver uma experiência abençoada. Afinal, esse é o caminho que pode levar uma pessoa a qualquer lugar e fazer realmente acontecer. Ayrton Senna, habituado a grandes conquistas, teria afirmado que “No que diz respeito ao empenho, ao compromisso, ao esforço, à dedicação, não existe meio-termo. Ou você faz uma coisa bem feita ou não faz.” O convite de La Fontaine e Wright se transforma em convocação coletiva.

É nessa monumental construção do educador que pretendo me abrigar. Visionário, Wright pregava, já nos anos 1950, a ideia de missão. Segundo ela, na arquitetura, é indispensável entregar espaços que atendam às expectativas das pessoas, acima de qualquer outra coisa. Mas, mais do que isso, ele propunha uma política de atendimento ao cliente das mais sofisticadas: superar essas expectativas. Assim, mais do que pisos, paredes, teto etc., deviam ser oferecidos benefícios reais e perceptíveis para os seus usuários. Tudo em sintonia com os valores essenciais de cada pessoa. O melhor continua sendo o melhor.

No entanto, sem atitude, consequência de uma filosofia de vida voltada para valores, nada de relevante acontece, e Wright sabia disso. Se em algum momento ela não chega a provocar grandes milagres, ao menos tem o poder de incomodar e mover pessoas para que revejam a maneira como pensam e agem. Esse comportamento inclui alguns elementos. Um deles, ter clareza e discernimento quanto ao próprio papel em todo o processo e conectar-se aos envolvidos no projeto, a fim de obter um resultado harmônico. Fazer o melhor equivale a buscar o virtuosismo.

Essa fase da jornada pode amedrontar num primeiro momento. Sobretudo, porque é preciso atravessar e vencer obstáculos. E isso, não raro, exige que se abra mão de algo, em geral muito valioso, para que novos aprendizados ocupem os seus lugares e construam aí uma obra capaz de encantar e fidelizar clientes internos e externos. Esse é o retrato do profissional talhado para garantir a empregabilidade nesses tempos de crise de todas as cores, formatos e sabores. Neste cenário, ele desfila como verdadeiro mestre na arte de atrair seguidores.

O mundo pede uma nova arquitetura, porque as bases atuais, cheias de rachaduras de toda espécie, ameaçam desabar. Aqui, o bom profissional é aquele que não se limita a quebrar pedras e opta por construir catedrais, espaços que respeitem a individualidade das pessoas e todas as suas demandas. Porque já não se trata mais de contar com uma grande habilidade de produzir bens e serviços, mas de construir qualidade de vida global por meio de uma disposição revolucionária e renovadora a serviço do ser humano. É isso.


RUBENS MARCHIONI é palestrante, publicitário, jornalista e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Autor de Criatividade e redação, A conquista Escrita criativa. Da ideia ao texto[email protected] — https://rumarchioni.wixsite.com/segundaopcao