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É tudo vaidade. Os escritores sabem disso | Rubens Marchioni

EU NÃO QUERIA iniciar com o famoso ‘pra começo de conversa’, porque isso é chavão, e a minha vaidade de redator bem intencionado no exercício da profissão me impede essa prática. Mas é preciso começar lembrando que vaidade e orgulho não são as mesmas coisas. Segundo a escritora Jane Austen, “Uma pessoa pode ser orgulhosa sem ser vaidosa. O orgulho se relaciona mais com a opinião que temos de nós mesmos, e a vaidade, com o que desejaríamos que os outros pensassem de nós”.

A construção de uma história da vaidade abarcaria metade da natureza das civilizações. Antes de mim, a Bíblia já testemunhou isso quando, no início do primeiro capítulo do livro do Eclesiastes, afirmou que “Vaidade das vaidades, tudo é vaidade!” Inclusive aquele comportamento supostamente discreto, que pode nos render pontos na avaliação da nossa personalidade. O que inclui, é claro, a arte da escrita.

Esse sentimento não tem limites. E nisso está o perigo. Principalmente, numa sociedade em que tudo se justifica. Nunca se sabe, afinal, até onde a vaidade pode levar aqueles que se entregam sem restrições. E isso merece uma crítica, porque não se espera que um ser humano perca o senso de adequação, sob qualquer pretexto. Por exemplo, um político vaidoso, com boas intenções, mas despreparado, pode representar um perigo para o país inteiro. Aqui, isso não está longe de acontecer. Que Deus nos livre dessa tragédia, portanto.

Mas nem tudo está perdido. Tolstoi, o escritor, afirma que “A vida sem vaidade é quase insuportável”. E a questão toda não está em ter ou não ter vaidade, mas na maneira de disfarçá-la. Fora isso, e por falar na justificativa de incentivar essa prática, imagine se a escola a direcionasse para objetivos construtivos, com resultados mais favoráveis à sociedade do que para si mesmo.

Em alguns contextos, a vaidade pode ou deve ser estimulada; em outros, tem um efeito destrutivo. Como se sabe, ela e o homem movem o mundo – alguns a assumem como o pecado predileto. Quando a vaidade de um fere o mesmo sentimento do outro, temos o cenário para o início de uma guerra, em maiores ou menores proporções, não importa. Por isso, o quanto possível, ela deve ser deixada àqueles que não dispõem de algo mais significativo para exibir, alerta o escritor Honoré De Balzac.

Escrever e falar são, também, atos de vaidade. Afinal, ninguém se expressa a fim de se tornar invisível. Mas, como disse um santo, cujo nome esqueci por enquanto, é mais fácil conseguir um enxame de abelhas com uma gota de mel do que com um barril de vinagre. E isso se aplica ao que podemos fazer com as palavras.

O que o deixa vaidoso?


RUBENS MARCHIONI é palestrante, publicitário, jornalista e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Autor de Criatividade e redação, A conquista Escrita criativa. Da ideia ao texto[email protected] — http://rubensmarchioni.wordpress.com