Obviamente, o antirracismo pressupõe o racismo. Então vamos começar abordando brevemente o racismo. Existem muitas teorias sobre esse sistema e prática social. Nossa própria abordagem define o racismo como um sistema específico de abuso de poder ou dominação, com base em qualquer diferença “racial”/étnica, real ou imaginária, entre grupos ou povos dominantes e dominados. Não se trata apenas das diferenças raciais e étnicas, mas sim de todas as formas de marcadores das diferenças que implicam hierarquias sociais, incluindo as clivagens de classe e de sexo/gênero, por exemplo. Mais especificamente, neste livro tratamos do racismo “branco” de europeus, ou pessoas de ascendência europeia, contra povos não brancos e não europeus. No Brasil, esse racismo é direcionado principalmente contra pessoas de ascendência africana, por um lado, e contra povos originários, por outro; mas também contra pobres, mulheres, grupos LGBTQIA+, nordestinos, comunidades periféricas e ribeirinhas. Embora tanto o discurso acadêmico quanto o senso comum estabeleçam muitas nuanças no grupo de pessoas afro-brasileiras, especialmente na distinção entre pessoas pretas e pardas, como nas categorias formais do IBGE, usaremos o termo escolhido pelo Movimento Negro para nossas referências a pessoas e populações negras e examinaremos o conceito com mais detalhes posteriormente. Portanto, dada a sua prevalência, o racismo no Brasil é o racismo “branco em relação ao negro”.
Como sistema de dominação, o racismo apresenta dois subsistemas principais. Sua manifestação social ou política consiste em muitas formas de prática racista, geralmente descritas como discriminação. Tais práticas são baseadas em representações cognitivas, como modelos mentais pessoais de eventos específicos, e ideologias ou preconceitos racistas compartilhados socialmente. O discurso racista é uma prática racista por si só, mas é também o principal meio de difusão de preconceitos e ideologias racistas. Nesse sentido, o discurso é uma interface entre as práticas sociopolíticas e as representações sociocognitivas do sistema de racismo.
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A escravidão no Brasil durou mais de 300 anos e o país só decretou a abolição às portas do século XX. Temos hoje a maior população de ascendência africana fora da África, que segue sofrendo preconceito e discriminação racial. O antirracismo é, portanto, um tema premente. Teun A. van Dijk, um dos maiores especialistas do mundo em Análise do Discurso, percorre desde o período colonial até os dias de hoje. Para isso, ele analisa uma ampla gama de exemplos que vão de textos literários a documentos históricos, além de discursos de intelectuais contemporâneos e políticos atuantes. Este livro evidencia, acima de tudo, a importância do discurso antirracista na defesa da democracia, da igualdade, da justiça e da paz social.
Teun A. van Dijk é diretor-fundador do Centre of Discourse Studies, Barcelona, desde 2017, e professor de Estudos do Discurso na Universidade Pompeu Fabra, Barcelona, desde 1999. Foi professor de Estudos do Discurso na Universidade de Amsterdã, depois de estudar Teoria Literária e Língua e Literatura Francesa, também em Amsterdã. É um dos fundadores dos Estudos Críticos do Discurso, com mais de 30 livros publicados sobre teoria de literatura, gramática do texto, pragmática do discurso, psicologia cognitiva do discurso, discurso racista, análises de notícias, ideologia, contexto, conhecimento e história do discurso antirracista. Pesquisa atualmente sobre movimentos sociais, discurso e cognição. Possui 3 doutorados honoris causa e deu palestras em mais de 60 países. É autor dos livros Racismo e discurso na América Latina, Discurso e poder, Discurso e contexto, Discurso e desigualdade social, Cognição, discurso e interação e Discurso antirracista no Brasiltodos publicados pela Contexto.