Fazendo um verdadeiro tour ao redor do Brasil, o membro do Terceiro Reich não escapou do macabro fim
Infelizmente as aparências não se traduzem em essências, em obras, em bom-caratismo, em benfeitorias. Ao contrário, ela às vezes é utilizada para mascarar a falta de decoro, de ética, de humanidade, de se colocar acima de qualquer suspeita. É o caso de Herberts Cukurs, capitão aviador da Força Aérea Letã, e nazista que participou do Comando Arajs, uma unidade policial especializada em assassinar judeus, ciganos, deficientes mentais e civis.
Acusado de ser o mandante de mais de 30 mil mortes, sua reputação foi caracterizada como o “Enforcador de Riga”. Suas vítimas também incluíam mulheres e crianças, onde atirava cruelmente nos calcanhares, enquanto elas corriam para salvar a própria vida. Com isso, inúmeras foram mutiladas nessas suportas “brincadeiras” de Cukurs. Nas crianças seu alvo também era a nuca.
Além disso, sua perversidade foi responsável por queimar uma sinagoga lotada de judeus. Porém, em 4 de março de 1946, no decurso do Carnaval, Herberts vem a bordo do navio “Cabo da Boa Esperança” para o Brasil. Anteriormente, já havia conseguido efetuar o visto na França com a justificativa de ser perseguido político.
Isso porque quando era jovem, foi considerado um herói nacional da Força Aérea da Letônia, mas passado muitos anos desse ocorrido, estando em terras brasileiras, declarou em depoimentos policiais, que colaborou com a Alemanha nazista contra a União Soviética. Embora não tenha admitido matar nenhum judeu.
Proteção do DOPS
Hebert residiu em Niterói, Santos, Rio de Janeiro e São Paulo. Hospedou-se durante 20 anos no Brasil, sob a proteção do Dops, o Departamento de Ordem Política e Social, usado no Estado Novo e mais tarde na Ditadura Militar. Mesmo assim não tinha tranquilidade no território nacional, o que o fez renovar o direito de portar armas. Principalmente após a captura de Adolf Eichmann, tenente-coronel da SS, na Argentina.
De acordo com o dossiê do DOPS, que reune relatos de judeus que sobreviveram aos horrores do nazista, as autoridades nunca se mobilizaram para investigar as insólitas acusações. Isso porque suas amizades no círculo da Aeronáutica no Rio de Janeiro, acobertavam as sua ações do passado. O seu filho, Gunars relembrou um dos episódios de apoio ao seu pai.
“Um grupo de generais e brigadeiros foi até a minha casa e disse para o meu pai: “Você cometeu um único erro”. Ao questionar onde teria fracasso, um general afirmou: “Você deveria ter matado todos os judeus”.
No Rio de Janeiro, construiu os pedalinhos na Lagoa Rodrigo de Freitas, na década de 1950. Feito que teve sucesso entre as crianças. Em São Paulo, decidiu se comportar como um empresário, que tinha investimentos em diferentes áreas, principalmente naval. Ele ofertava lanchas, aerobarcos e hidroaviões na Represa Guarapiranga.
Contudo, esse reinado teria um fim: o Mossad, serviço secreto de Israel, estava efetuando uma procura incessante por nazistas. Onde depois de muitas verificações, descobriu que Cukurs morava na chamada “terra da garoa”.
Em fevereiro de 1965 o capturaram com uma armadilha: ao embarcar para Montevidéu acreditando que faria negócios com um homem chamado Anton Kuenzle, cuja identidade era falsa. O sujeito, na verdade, era um agente do serviço secreto israelense.
Em decorrência disso, o nazista acabou sendo executado e teve o corpo deixado dentro de um baú. E somente passados 11 dias de sua morte, foi encontrado pela polícia uruguaia em 6 de março de 1965, já cheio de larvas.
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Os nazistas, responsáveis pelo Holocausto durante a Segunda Guerra Mundial, foram exemplarmente punidos após a derrota alemã, certo? Não foi bem assim. Muitos desses carrascos desfrutaram o resto da vida em liberdade, em vários cantos do planeta, como se fossem parte da mesma sociedade civilizada que eles tanto se esforçaram em destruir. Eram vistos como vizinhos pacatos, cidadãos de bem. E isso só foi possível porque, aos olhos de muita gente, o “passado” deveria ficar no “passado”. É essa história de impunidade que o historiador e jornalista Marcos Guterman conta.
Fonte: Aventuras na História