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Ciência no cotidiano | Carlos Orsi e Natalia Pasternak

Sem Física e Química, o livro não existiria. Não apenas este, mas qualquer outro livro: se o que você tem nas mãos é a obra impressa, o papel e a tinta são resultado da aplicação de conhecimentos de Química, agricultura (incluindo aí Genética) e Biologia; se estiver lendo numa tela ou ouvindo um audiolivro, agradeça à teoria matemática da informação e à Física Quântica.

Assim como o livro em si, todos os objetos ao seu redor, a cadeira em que você se senta, a estrutura em que você se encontra – seja uma casa, uma barraca, um avião, carro ou ônibus – só existem, da forma como existem, por causa de conhecimentos científicos acumulados. Isso desde que Tales de Mileto, lá na Grécia antiga, percebeu que ver a ação de deuses e ninfas em tudo podia ser bonito e poético, mas não ajudava muito na prática, e postulou a necessidade de se buscar “causas naturais para fenômenos naturais”.

ciência

Muitos séculos se passaram até que Francis Bacon e Galileu Galilei delineassem os métodos pelos quais essa busca pôde ser mais bem realizada, abrindo as portas para o mundo moderno de ciência e tecnologia em que vivemos, um mundo em que as distâncias se desintegram e bits imateriais valem mais do que ouro sólido. Em que doenças que os textos sagrados de diversos povos tratam como pragas sobrenaturais, e que antes dizimavam populações, são facilmente controladas com medidas básicas de higiene, vacinas e antibióticos (vantagens que, infelizmente, corremos sério risco de perder, como se verá mais adiante neste livro).

O simples fato de vivermos no século XXI já nos faz beneficiários da ciência e dos seus frutos, mesmo que a gente não se dê conta dessa verdade. Achamos que o mundo, tal como existia no dia em que nascemos, é a própria definição de “normal” e “natural”. Nada mais falso: existimos num mundo construído por técnicos e engenheiros, que trabalham com as ferramentas criadas por cientistas. Se ignoramos essas ferramentas, que são como os fios, cabos e engrenagens que operam debaixo do capô da civilização, estamos expostos a graves riscos.

O mais óbvio é o de sermos enganados: como o motorista que não entende nada de mecânica de automóveis e se vê vulnerável diante de mecânicos inescrupulosos, o cidadão que ignora fatos científicos básicos, como a lei da conservação da energia ou os princípios mais simples da estatística, se expõe à cupidez de curandeiros, charlatões, vendedores de máquinas de energia infinita, gurus extraterrestres, a fraudes e fraudadores que mentem para o público e, não raro, para si mesmos.

O poder maior da ciência não está em suas conclusões, descobertas e afirmações, mas em sua estrutura: trata-se da única atividade humana construída e projetada para reconhecer, revisar e aprender com os próprios erros. Filósofos debatem há décadas em busca de uma definição exata do que seria “ciência”, mas o critério mínimo é a disposição de mudar de acordo com a evidência: se os fatos acumulam-se contra uma teoria, pior para a teoria.

Trata-se de uma atitude que todos poderíamos aplicar, com grande vantagem, no cotidiano.

Esta obra (re)apresenta diversos dos conceitos, fatos e ideias da ciência que encontramos todos os dias, sem perceber. De por que ser importante lavar as mãos à ligação íntima que existe entre os aplicativos de localização dos celulares e o núcleo de galáxias distantes, passando por um pouco de matemática, probabilidade e história.

Existe uma divertida questão filosófica sobre se os peixes “sabem” que estão imersos em água. Afinal, a água está por toda parte, é transparente e a maioria deles nunca tem experiência de outra coisa. Nosso objetivo é tornar visível para você a “água” de ciência em que todos nos encontramos imersos, que nos alimenta e que respiramos sem perceber. Ampliar a consciência de alguns “peixes”, por assim dizer.

Bem-vindo ao mergulho!