Por Elizabeth da Conceição para a Revista Agitação do CIEE.
Um estudo analisou, durante 17 anos, a personalidade e o comportamento de 4,5 mil executivos das 500 maiores companhias do mundo para saber o que havia em comum entre eles e o que os diferenciava dos demais colaboradores. Três qualidades se destacaram entre os líderes: equilíbrio, flexibilidade e comunicação. A verdade da pesquisa se revela nas histórias do cotidiano das principais corporações. Biz Stone, um dos fundadores do Twitter, influente rede social mundial, encontrou na comunicação a razão para que dois de seus colegas que criaram a empresa, em 2006, não permanecessem no cargo de CEO por muito tempo. Primeiro a sair foi Jack Dorsey, depois Evan Willians. Ambos com talento incrível, mas que não se comunicavam bem.
Stone considera que metade do trabalho de um CEO consiste em comunicação, devido à natureza humana. Ele lembra que na pré-história o homem temia a caverna escura, golpeava com a lança antes de entrar ou corria dela. No âmbito dos negócios, é o que acontece com os conselheiros e investidores quando não recebem a notícia do que o CEO está realizando. Por medo, o demitem. “A comunicação equivale a acender uma tocha na caverna escura”, acredita Milton Jung, jornalista e âncora na Rádio CBN, que parafraseou Stone na palestra Comunicar para liderar, que proferiu com a fonoaudióloga e personal & professional coach Leny Kyrillos, no Teatro CIEE.
“Comunicação é diferencial para que possamos nos destacar”, destaca Leny. Há muitos anos, o profissional conquistava emprego por indicação. “O tempo passou e surgiram cursos técnicos, de nível superior e de idiomas, condicionados às novas demandas do mercado de trabalho.” Como atualmente, os candidatos chegam com formações semelhantes aos processos seletivos, está havendo a revalorização das competências pessoais e uma das características de desempate é a comunicação”, diz Leny.
Como toda competência, a comunicação se desenvolve a partir de três características básicas. A primeira é o conhecimento, ou seja, conhecer bem o assunto para o qual foi escalado a falar, o que exige leitura e atualização. A segunda é a habilidade, que tem a ver com a maior ou menor facilidade de comunicação, capacidade passível de melhora com treino. A terceira característica do bomcomunicador é a atitude, que revela quem nós somos. A forma de apresentação emite sinais que geram avaliações positivas ou negativas. A expressão resulta de três recursos: verbal, não verbal e vocal, que devem estar sempre coerentes entre si. Na comunicação cabe simpatia e não vale confundir assertividade com agressividade. “Comunique-se de maneira simples, direta e objetiva”, resume Milton.
Para se comunicar bem é imprescindível o conhecimento gramatical. Já dizia José Saramago: Não falamos o português, mas línguas em nosso idioma. “Nossa língua é tão generosa que tem regionalismos”, salienta Dad Squarisi, editora de opinião do Correio Braziliense, colunista de Agitaçãoe professora de edição de textos do Centro Universitário de Brasília. Ela foi convidada para proferir a palestra Ciladas da língua, no Teatro CIEE, em São Paulo, como parte das ações para auxiliar os es tudantes a desenvolver a valiosíssima competência da comunicação.
Dad ilustrou a questão dos regionalismos com dois exemplos. Em Pernambuco se diz “a aula terminou de 10 horas” – isto é, usa-se a preposição de no lugar da contração às (artigo a + preposição a). No Rio Grande do Sul, a expressão “ir aos pés” quer dizer ir ao banheiro. “Embora tenhamos diferentes formas de expressão, nos textos do Enem, na empresa, num concurso público e no vestibular devemos adotar a norma culta, aquela que se aprende na escola”, orienta. Conhecendo a norma, descobre-se também que há níveis de erros. A da grafia das palavras é a mais elementar. Quanto mais familiaridade com a língua escrita, menos erros. Por que escrever casa com s, hospital com h, se dá para entender sem isso? “Porque pega muito mal. A forma de expressão é um retrato da gente, é socialmente melhor”, enfatiza.
Dad destaca os tropeços em que quase todos caem, as chamadas ciladas da língua, e os erros mais comuns no Enem. A cilada campeã: onde versus em que. Onde (lugar físico) e em que (lugar não físico). Dois exemplos de uso correto: a mesa onde está o copo e a palestra em que discutiu o tema. Esses e outros exemplos estão no livro 1001 Dicas de Português – Manual descomplicado, que a palestrante escreveu em coautoria com o jornalista Paulo José Cunha.
Incentivar a prática da comunicação oral e escrita é uma das preocupações constantes do CIEE, principalmente entre os jovens em busca de inserção no mercado de trabalho. Por isso, promove eventos com especialistas, a exemplo das palestras de Milton Jung e Dad Squarisi, ao lado dos seminários com a parceria da Academia Brasileira de Letras. Também realiza concursos literários com prêmios para universitários e coloca à disposição dos seus públicos cursos gratuitos presenciais e à distância sobre redação, literatura e gramática. Sem falar na série de livros que edita, distribui e disponibiliza gratuitamente no site www.ciee.org.br.