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A sociedade é fruto da ação e do silêncio
A sociedade é fruto da ação e do silêncio

A sociedade é fruto da ação e do silêncio | Rubens Marchioni

Até mesmo a vida agitada de uma pessoa rebelde pode ser o espaço para semear a paz. Sobretudo se a rebeldia surge da rejeição a determinadas práticas corrosivas, que afetam a qualidade de vida de pessoas e grupos. A decisão bem pode ser fruto do inconformismo. É ele, no mais das vezes, que nos convoca para essa batalha, da qual não aceitamos a derrota.

É genial a maneira como o escritor Jack Kerouac descreve essas pessoas: “Aqui estão os loucos. Os desajustados. Os rebeldes. Os criadores de caso. Os pinos redondos nos buracos quadrados. Aqueles que veem as coisas de forma diferente. Eles não curtem regras. E não respeitam o status quo. Você pode citá-los, discordar deles, glorificá-los ou caluniá-los. Mas a única coisa que você não pode fazer é ignorá-los. Porque eles mudam as coisas. Empurram a raça humana para a frente. E, enquanto alguns os veem como loucos, nós os vemos como geniais. Porque as pessoas loucas o bastante para acreditar que podem mudar o mundo são as que o mudam”.

Vale lembrar, no entanto, que não é incomum a rebeldia permanecer inerte e inútil. Ora, poucas coisas são mais perigosas do que guardar a cabeça cheia de sonhos, enquanto se mantêm as mãos desocupadas.

Ser improdutivo, quando se trata de participar do projeto de reorganizar a sociedade, equivale a estar meio morto, cheirando mal. E é assim, pouco colaborativa, que grande parte das pessoas vive. Sem pensar que a omissão está longe de congregar e transformar. A propósito, a sociedade é fruto de seu conjunto de ações e de silêncios.

Ela nasce do voto impensado, que elege o político inadequado. Ou da mera reclamação, segundo a qual “existe um buraco na minha rua e alguém precisa fazer alguma coisa”, como se eu não fosse um cidadão com direitos e, também, com deveres, podendo acionar o poder público para que providências sejam tomadas.

Ela nasce, ainda, quando, diante da omissão de quem deveria servir à população, digo que “o povo não faz nada”, como se eu fosse a aristocracia, dispensado de qualquer envolvimento, e do outro lado existisse o chamado “povo”, de quem espero ações transformadoras, inclusive para garantir o meu conforto.

Por fim, a sociedade é fruto da atitude de pais que se omitem em relação à tarefa de acompanhar o desempenho e a maneira como os filhos se relacionam na escola, com colegas, professores e gestores. Ora, nada disso contribui com a criação de uma cultura de paz. Sobretudo, num país em que o governo enaltece o uso de toda violência, física e moral, seguindo na contramão do que afirmou outro escritor, James Joyce, para quem as “Questões que se resolvem com violência nunca ficam resolvidas”.

A gente precisa re-agir. Desmontada, a palavra sugere o ato de agir e agir de novo, e reagir quantas vezes forem necessárias. Um gesto digno, que merece aplausos, pelo que tem de criador na sua essência. A realidade está repleta de convites esperando por aqueles que têm disposição e senso crítico na medida certa para ver e julgar os fatos.


RUBENS MARCHIONI é palestrante, publicitário, jornalista e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Autor de Criatividade e redação, A conquista Escrita criativa. Da ideia ao texto[email protected] — https://rumarchioni.wixsite.com/segundaopcao+