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A Pandemia no Emílio Ribas

Neste artigo, a jornalista e assessora de imprensa Adriana Matiuzo, autora do livro-reportagem A Pandemia no Emílio Ribas, detalha as atividades fundamentais do trabalho de comunicação e assessoria de imprensa de um hospital em meio ao combate ao coronavírus. Durante a pandemia, Adriana trabalhou na linha de frente do Emílio Riba na equipe de comunicação do hospital, unidade de referência para a covid-19 da América Latina. Ela explica o quão essencial foram os trabalhos de apoio aos jornalistas, a proteção dos pacientes e a ação da equipe médica e a divulgação de informações de qualidade. Confira:

Prática, propósito e ética em assessoria de imprensa
Durante toda a pandemia de covid-19, muitos jornalistas não se cansaram de agradecer pelos diversos tipos de ajuda que receberam da assessoria de imprensa do Hospital Emílio Ribas. Eles precisavam de apoio com números, fontes, personagens e até com imagens, quase sempre dentro de prazos muito apertados, sendo que muitos tinham o agravante de sequer poder pôr os pés nos hospitais. No livro A Pandemia no Emílio Ribas, um dos capítulos se dedica a contar um pouco dos bastidores deste relacionamento do hospital com a imprensa.

A Pandemia no Emílio Ribas

Embora 34,9% dos jornalistas brasileiros, ou seja, um terço, atue fora da mídia (estudo Perfil do Jornalista Brasileiro 2021, da Universidade Federal de Santa Catarina), o trabalho de assessoria de imprensa ainda é invisível aos olhos do grande público e seu papel é subdimensionado entre os próprios jornalistas muitas vezes.  O fato é que a pandemia evidenciou como há sempre um universo de coisas relevantes para a sociedade a se fazer neste nicho de trabalho.

A prática
Programas jornalísticos como o Jornal da Band, os sete telejornais diários da TV Globo e os semanais Fantástico e Profissão Repórter, além de outros de demais emissoras optaram por não expor seus repórteres e cinegrafistas, tomando a decisão de proibir a entrada dos seus profissionais nos hospitais.

Para driblar essa limitação, durante toda a pandemia, as equipes da TV Globo, por exemplo, demandaram e receberam a ajuda da assessoria de imprensa do Emílio Ribas, que orientada pela produção, captava as imagens com celular e indicava fontes e personagens para as entrevistas on-line. 

Quando as equipes podiam entrar no hospital, caso da Folha de S. Paulo, UOL, O Estado de S. Paulo, CNN Brasil, CNN Internacional, rádio CBN, Jornal da Record, Brasil Urgente (Band), além de vários canais internacionais, a assessoria não só acompanhava presencialmente, como coordenava tudo de perto.

Um protocolo de biossegurança foi criado e passou pela aprovação da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Emílio Ribas, a mesma que cria os protocolos da enfermagem, dos médicos e da equipe de reabilitação (fonoaudiólogos, psicólogos e fisioterapeutas).

Propósito
Mas por trás das práticas, nunca perdemos o foco no que realmente deveria ser tratado como prioridade: estabelecer uma relação de confiança com profissionais de saúde e pacientes e proteger a imagem deles. Para isso, a assessoria tomava a frente de tudo.  

Fomos seletivos quando sentíamos falta de propósito. Nem todos os pedidos foram atendidos. “A reportagem quer sensacionalismo, exibir o sofrimento alheio por exibir, ou quer ser efetiva nas mudanças de comportamento da sociedade, como o incentivo ao uso de máscara?”, era algo que sempre nos perguntávamos antes de atender uma demanda. Também havia, por trás, uma sensibilização dos profissionais de saúde sobre a importância de contribuir com as reportagens sérias, que visassem realmente à conscientização.

Outro ponto é que na ânsia de fazer boas reportagens, por mais humanizado que fossem, os repórteres muitas vezes simplesmente se esqueciam de que as equipes de saúde estavam ali para trabalhar e de que os pacientes estavam ali para serem cuidados, não raramente, entre a vida e a morte. “Como eu gostaria que a imprensa abordasse este assunto, se fosse minha mãe que estivesse internada naquele leito de UTI ou se fosse meu irmão passando pelo pronto-socorro com falta de ar?”, um exercício que todo repórter poderia fazer antes de gravar reportagens que tratem de pessoas doentes.  

Ética
O que muitos chamariam de burocracia, também podemos chamar de ética. Não iniciávamos uma gravação sem antes avisar por WhatsApp as chefias dos setores envolvidos. Presencialmente, a equipe de jornalistas era apresentada aos profissionais de saúde e ninguém era gravado sem que autorizasse previamente. Alguns profissionais que não aceitavam eram acolhidos e respeitados, recebendo orientações sobre como continuar trabalhando sem passar pelo alcance das lentes.

Também éramos cuidadosos em ocupar não completamente corredores, onde as macas passavam, com os equipamentos. As gravações tinham duração de no máximo uma hora para não impactar o atendimento e não expor as equipes de reportagem por muito tempo.  

No caso dos pacientes, havia um trato com os jornalistas de gravar imagens do quarto, sem expor os rostos. Mais tarde, a assessoria criaria um termo de responsabilidade para as equipes assinarem se comprometendo formalmente a respeitar essa regra. Como os registros eram sempre feitos do lado de fora dos quartos, orientávamos os cinegrafistas e fotógrafos a não captarem imagens com pacientes acordados, para não constrangê-los (dentro dos quartos, os pacientes não sabiam que não iriam ser identificados). Com a ajuda da Humanização do hospital, também tomávamos a frente na abordagem com as famílias durante as visitas.

No cômputo geral, graças à gentileza e compreensão dos profissionais de saúde e de muitos familiares dos pacientes, acreditamos ter contribuído para valorizar o trabalho do hospital, do SUS, da ciência, mas, acima de tudo, imaginamos ter ajudado indiretamente a salvar vidas, com informação de qualidade e doses cavalares de realidade por meio de imagens, num universo bombardeado pelas fake news.

Assim como os profissionais da linha de frente, jornalistas (sejam repórteres, assessores ou produtores) sabem que uma única vida salva já fez toda cobertura ter valido a pena.

Conheça o livro A Pandemia no Emílio Ribas. (aqui)


Adriana Matiuzo é jornalista formada pela Unesp-Bauru, com passagem por redações de veículos de comunicação como a rádio CBN e os jornais Folha de S.Paulo e Correio Braziliense. Possui experiência com assessorias de comunicação na área de ciência e saúde. Durante a pandemia de covid-19, foi convidada pelo hospital Emílio Ribas e aceitou atuar presencialmente na instituição para apoiar e organizar, de forma segura, o atendimento à imprensa.

2 thoughts on “A Pandemia no Emílio Ribas

  1. Convivo do ‘lado de cá’ do balcão, produzindo conteúdos sobre bioenergia e automação industrial para sites de empresa que promove eventos técnicos. Quando procuro as assessorias, já sei que o tratamento tende não ser eficiente porque, afinal, represento empresa promovedora. Mas não produzo material publicitário. Daí, tomo sempre o cuidado de enviar links de meus conteúdos quando aciono as assessorias. Daí, elas geralmente são bem prestativas. Agora no caso dos assessores da linha de frente do Emílio Ribas em pleno pico da pandemia, não havia como atender melhor este ou aquele veículo. Imagino que foi adrenalina pura as 24 horas. E que, em resumo, confirma a importância das assessorias de imprensa.

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