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A necessidade da Geografia | Ana Fani Alessandri Carlos e Rita de Cássia Cruz

Este livro é fruto de um projeto coletivo tecido por muitas mãos – para sermos exatos, 20 pares –, gestado ao longo de uma série de encontros, o que faz dele uma obra que supera a simples ideia de coletânea. O que reúne esse grupo de pessoas diferentes é, certamente, a existência de um projeto em comum: aquele que encontra na Geografia a potência e o caminho para pensar o mundo em que vivemos a partir de diferentes abordagens sustentadas pelos conceitos basilares da disciplina. O tempo lento da reflexão que compreende o mundo tem como pressuposto uma visão de mundo e recorre ao método que orienta este fazer munido de uma ferramenta conceitual.

O que está posto para as ciências humanas e para a Geografia em particular é o fato de que os conceitos devem ser delineados e justapostos de modo a construir um caminho para a investigação da realidade, revelando sua complexidade diante da diversidade do mundo em constante transformação. Desse modo, os conceitos ganham, neste livro, novos conteúdos, posto que nascem da prática em constante transformação. Este é o desafio: enfrentar e rever os conceitos dando-lhes novos conteúdos, apontar ou, ainda, desdobrar deles novos temas de investigação.

Com esse procedimento, atualiza-se as possibilidades que fundamentam a pesquisa em Geografia, que objetiva compreender a realidade em sua dinâmica. Tem como momento analisador, atravessando todo o livro, aquilo que é específico da Geografia: o nível espacial da realidade social. A organização do livro repousa no diálogo entre os capítulos, de modo a construir o caminho da investigação geográfica.

A centralidade do espaço em nossas pesquisas permite pensar o mundo em que vivemos em várias frentes de pesquisa: desde as questões sobre as transformações da natureza e o debate sobre a problemática ambiental, à questão agrícola-agrária num mundo urbano, o turismo e a cidade como fonte de novos negócios, dentre outras questões. O espaço como fio condutor da análise geográfica se manifesta no plano real, que é aquele da prática em suas contradições, revelando conflitos. Ele pode ser lido através de processos de regionalização, das novas dinâmicas da metropolização, das metamorfoses da paisagem, dos conflitos que permeiam a vida tanto na cidade como no campo, no urbano e no rural. Isso porque esta realidade se expressa em sua determinação principal – a espacial – que se constrói a partir da relação entre a sociedade e a natureza e se expressa numa paisagem cambiante onde os elementos da história e da cultura sinalizam momentos de ruptura e crise. Desse modo, o mapa, tão caro à pesquisa geográfica, não se reduz aqui a uma representação, mas permite a leitura da dinâmica do real em suas escalas, por exemplo. A escala permite pensar nas articulações entre lugares e no lugar. Este, por sua vez, revela o plano do cotidiano e dos modos de vida – tanto no urbano quanto no rural. Da mesma maneira, o debate espacial permite localizar as lutas e os conflitos de nossa sociedade, muitas delas decorrente do próprio ato de planejar, que se faz transformando espaços e territórios sob a orientação do Estado, iluminando as alianças entre o poder econômico e o político e as estratégias do processo de acumulação sob o domínio do capital e do mundo da mercadoria. A ação do Estado, por sua vez, transcende fronteiras, redefinindo a geopolítica e um novo caminho da mundialização…

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