Sabrina Passos (MB Press) para Vila mulher – Portal Terra
Entender a influência que o sexo tem na história da humanidade é tarefa de muitos pesquisadores.
As conclusões normalmente viram livros, mas nem sempre, eles chegam às mãos de quem, de fato, escreve essa história. Ou, se chegam, tem abordagem superficial e, porque não dizer, até pejorativa. E é bem isso que Peter Stearns quer quebrar, na sua mais recente obra.
Lançado aqui no Brasil pela Editora Contexto, o livro “História da Sexualidade” conta a deliciosa aventura sobre a existência do sexo na vida das pessoas, com a seriedade que o assunto merece, mas sem rigidez. Ele revela como as práticas moldaram sociedades e prova que o contrário também é verdade. Mostra como costumes e condutas sexuais são afetados por forças globais mais amplas, como o advento da agricultura e, mais tarde, a urbanização.
Ele trata das mudanças em diferentes sociedades, para não apresentar uma visão engessada do sexo. Em determinados períodos, por exemplo, havia vigorosa desaprovação da masturbação que, com o passar do tempo, se abranda, numa sociedade mais permissiva. Os índices de adultério também variam, dependendo do período e de condições sociais mais amplas. A idade da puberdade muda, dependendo da nutrição e do contexto social. E todos esses temas estão abordados no livro, juntamente com discussões sobre diferenças de classes sociais e padrões relacionados ao gênero.
Um exemplo de como a visão da prática sexual humana sofre uma grande variação é o homossexualismo. O livro mostra que a prática mudou muito durante os tempos, em diversos momentos da história. Nas cavernas, o bissexualismo era comum e aceito socialmente. Os muçulmanos não encaravam os gays como “aberrações”, como hoje o fazem. A China também não condenava, fato que só mudou com a chegada do comunismo.
O que Peter explicita é que tanto a cultura como a própria prática refletem algumas das forças mais amplas na história mundial. Os padrões do comércio global, hoje, ajudam a explicar a nova incidência de tráfico sexual em diversas partes do mundo, por exemplo. Segundo ele, observar a sexualidade com atenção ajuda a traduzir os padrões da história mundial para uma compreensão da vida cotidiana e do comportamento humano comum.
Para a edição brasileira, Peter, que pós-doutor pela Universidade de Harvard, escreveu uma introdução exclusiva, em que os alertas sobre o tema, ainda necessários em função dos elementos puritanos nas culturas norte-americanas, por exemplo, são substituídos por uma visão mais entusiasmada sobre o tópico. “A abertura do Brasil é extremamente importante. E há sinais que a alta avaliação da competência sexual dos brasileiros pressione muitas pessoas”. Segundo o autor, que conversou por e-mail com o Vila Dois, o leitor daqui não precisa de lembretes acerca da importância da sexualidade.
Peter Stearns. Foto: divulgação
Quando você acha que ocorreu o grande momento da história da sexualidade?
É difícil citar um grande momento. Mas certamente, na recente história do sexo, e globalmente falando, o desenvolvimento vem aumentando os esforços para se ver o sexo mais como recreação do que procriação, com aumento, inclusive, das tecnologias de controle de natalidade.
Como a história do sexo influencia praticamente a história da humanidade?
A história do sexo não é normalmente ‘coberta’ por historiadores, mas se liga diretamente a desenvolvimentos gigantescos de mudanças na religião, na demografia e, obviamente, nos aspectos da vida em família. E o sexo é uma parte tão importante do comportamento humano que entender suas mudanças e variações com o passar do tempo é uma contribuição direta para um maior entendimento da história em si.
Como está o tema sexo hoje, considerando o momento histórico?
A maioria das sociedades mundiais continua em transição de atitudes antigas com relação ao sexo para novos interesses em sexo recreativo. Há vários desentendimentos entre as sociedades (e dentro delas) quanto a isso. E continua muito importante traçar os processos de mudança para ter um contexto mais claro da história e seus cenários.