A gente precisa disso para seguir em frente. Encontrar um sentido maior para a vida. Ela é o ponto de partida de todo o progresso. Nela está o germe de um futuro que valha a pena ser vivido.
Pena que até para isso existem negacionistas espalhados por aí. E eles não perdem uma oportunidade de destilar sua desesperança. Aqui gosto de lembrar uma advertência do escritor Victor Hugo, para quem “Não há nada como o sonho para criar o futuro. Utopia hoje, carne e osso amanhã.” É nisso que acredito. Esse é o meu credo.
Tudo o que temos de fazer é fugir dessas pessoas que insistem em abafar o nosso desejo de ter uma vida que não fique limitada à posse de um conjunto inócuo de bens materiais. Nesse sentido, precisamos adotar um pensamento revolucionário. Usar todos os instrumentos possíveis para antecipar a chegada dessa realidade renovada.
A propósito disso, o educador Paulo Freire entra na conversa. E lembra que “se eu não estou no mundo apenas para me adaptar a ele, mas para transformá-lo, e se não é possível mudar o mundo sem um sonho ou visão para isso, eu tenho que fazer uso de todas as possibilidades que eu tenho, não só para falar sobre a minha utopia, mas também participar em práticas consistentes com ela”.
Isso nos adverte para a necessidade de ampliar os horizontes. Afinal, é lá que se esconde a motivação para agir com maior assertividade na construção de utopias que nos salvem do caos em que a vida insiste em se transformar. Eduardo Galeano nos oferece uma contribuição valiosa ao apontar para o importante papel da utopia. “A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar.”
Quando isso acontece, desenham-se em nossa mente o desejo e as decisões de agir, porque tudo se mostra mais claro. Anatole France é incisivo ao dizer, com todas as letras, o que para ele é de extrema importância: “Sim, o sonho! Sim, a quimera! Sim, a ilusão! Sem os sonhos, sem as quimeras, sem as ilusões, a vida não tem sentido e não oferece interesse. A utopia é o princípio de todo progresso. Sem as utopias de outrora, os homens viveriam ainda miseráveis e nus nas cavernas. Foram os utopistas que traçaram as linhas da primeira cidade… Dos sonhos generosos, nascem as realidades benéficas…”.
Ora, sabendo com clareza a finalidade de incluir a utopia em nosso projeto de vida, essa consciência vai apontar os recursos necessários para essa empreitada. É que sem utopia ninguém muda a própria casa, o bairro, muito menos o mundo.
O trabalho de pensar, adotar e difundir o propósito de viver a partir da ideia de utopia é construção de cada um. De preferência com a participação do seu grupo social.
É da prática da utopia que se constrói uma vida com sentido. Mas a tarefa exige atitude e muita determinação. Quem vive choramingando pelos cantos dificilmente constrói algo regular, e menos ainda qualquer coisa relevante. Isso implica, no final das contas, a tarefa de envolver o maior número de interessados. Sempre acessando os valores de cada um para que esse trabalho seja capaz de impactar o maior número de pessoas.
Rubens Marchioni é palestrante, produtor de conteúdo, blogueiro e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Pela Contexto é autor de Escrita criativa: da ideia ao texto. https://rumarchioni.wixsite.com/segundaopcao / e-mail: [email protected]