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A arte de ter cultura | Rubens Marchioni

Ter cultura é fundamental. Gente culta, que nada tem a ver com esnobismo ou exercício banal de erudição sem utilidade, trabalha com base no senso crítico. Não suporta o senso comum. O filósofo René Descartes adverte para o fato de que “Nada é mais justamente distribuído que o senso comum.” Assim, temos motivo de sobra para nos manter atentos – por que alimentar essa praga que já se espalha com tamanha generosidade, atingindo inclusive algumas cadeiras ministeriais?

Ao mesmo tempo, nunca é demais destacar o fato de que gente culta respeita a pluralidade. Não vive tentando construir todas as pessoas com o mesmo material, as mesmas cores, tudo a sua imagem e semelhança. Para o escritor Octavio Paz, “O que põe o mundo em movimento é a interação das diferenças, suas atrações e repulsões; a vida é pluralidade, morte é uniformidade”.

Portanto, gente culta é plural. Enxerga todos os lados, enxerga mais longe, não se prende ao passado, porque tem um compromisso com a construção do futuro, onde estará, onde estaremos. E é singular: enquanto os outros sentam, reclamam e choram, sua criatividade a faz olhar para o mesmo cenário com as perguntas que não abandonam a mente dos criativos: “E se?”. “Por que não?”.

Outro fato a ser considerado é que gente culta dispõe de repertório, tem bagagem. Quando fala, contribui, porque tem algo a oferecer. Nas suas palavras existe conteúdo, substância, coisa que rima com elegância. Ela não precisa se apoiar no uso de adjetivos ruidosos para nomear a realidade, porque sabe lidar com um universo de substantivos, espinha dorsal de qualquer fala genuína.

Gente culta de verdade é elegante, como disse. Sua grande estratégia é a capacidade de fundamentar o que pensa e diz, porque sabe que ser plural e ao mesmo tempo manter a singularidade indispensável pode ter um preço.

Assim, encontra respostas inesperadas e transformadoras, e cultiva cada uma delas. Trabalha repaginando a si mesma e o ambiente onde vive. Não por acaso, ele se torna melhor. Não por obra e graça do governo, mas da força que há na engenharia da cultura e seu poder de reinventar o mundo chamado casa, rua, empresa, escola, igreja – qualquer mundo, todos os mundos.


RUBENS MARCHIONI é palestrante, publicitário, jornalista e escritor. Eleito Professor do Ano no curso de pós-graduação em Propaganda da Faap. Autor de Criatividade e redação, A conquista Escrita criativa. Da ideia ao texto[email protected]  — https://rumarchioni.wixsite.com/segundaopcao