No Brasil há duas datas comemorativas relativas ao rádio e à radiodifusão. O dia 21 de setembro, no qual é comemorado o Dia do Radialista, e o dia 25 de setembro, considerado o Dia Nacional do Rádio e da Radiodifusão.
Mas não foi sempre assim. De acordo com o pioneiro radialista Renato Murce, em seu livro de memórias Bastidores do rádio, o dia 21 de setembro teria sido inicialmente instituído como o Dia do Rádio pelas emissoras cariocas, em 1936.
O Dia Nacional do Rádio e da Radiodifusão, comemorado no dia 25 de setembro, foi instituído em 1966 em homenagem ao antropólogo e educador brasileiro Edgard Roquette-Pinto, nascido nesse dia, em 1884, e considerado um dos pioneiros da radiodifusão no Brasil. Edgard Roquette-Pinto não só contribuiu para o desenvolvimento da radiodifusão no país, como também se interessou pela tv, tendo acompanhado suas primeiras experiências. Sua contribuição mais importante foi a fundação da primeira emissora brasileira, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, criada com base em um modelo radiofônico educativo e cultural que procurava dar ao novo veículo um caráter de “instrumento civilizatório”.
“Trabalhar pela cultura dos que vivem em nossa terra e pelo progresso do Brasil”. Com esse lema, que até hoje norteia as atividades da Rádio do Ministério da Educação (antiga Rádio Sociedade), Roquette-Pinto, juntamente com Henrique Morize, Francisco Lafayette, Francisco Venâncio Filho, Edgar Sussekind de Mendonça, entre outros, fundou a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro em 20 de abril de 1923 na sala de reuniões da Academia Brasileira de Ciências, localizada na Escola Politécnica. No dia 1º de maio daquele mesmo ano, às 20h30, Roquette-Pinto, utilizando-se da estação transmissora montada na Praia Vermelha (spe), iniciou as primeiras transmissões da nova emissora. Roquette-Pinto relataria mais tarde:
no começo de 1923 desmontava-se a estação do Corcovado e a da Praia Vermelha ia seguir o mesmo destino se o governo não a comprasse. O Brasil ia ficar sem rádio. Ora, eu vivia angustiado com essa história, porque já tinha convicção profunda do valor informativo e cultural do sistema desde que ouvira as transmissões do Corcovado […] resolvi interessar sobre o problema a Academia de Ciências. Era presidente o nosso querido mestre Henrique Moriz. Eu era secretário. E foi assim que nasceu a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro a 20 de abril de 1923.
Antes dessa iniciativa pioneira de Edgard Roquette-Pinto, a primeira demonstração pública oficial de radiodifusão no Brasil se deu a 7 de setembro de 1922, por ocasião das comemorações do centenário da Independência na Exposição Internacional do Rio de Janeiro. Essa exposição contou com a presença de todos os estados da Federação, bem como de vários países, que exibiram para o público do Rio de Janeiro, durante seis meses (de setembro de 1922 a março de 1923), além de diversas manifestações culturais, as mais recentes conquistas da ciência e da tecnologia. E dentre as novidades tecnológicas exibidas na Exposição, o t.s.f., (Telefone Sem Fio – nome pelo qual era conhecido o rádio), seria uma das que causariam impacto entre os visitantes do evento, tornando-se um dos seus grandes atrativos.
A Westinghouse International Company, uma das expositoras e representante dos Estados Unidos, havia trazido para o Brasil, a título de demonstração, uma estação de rádio com 500 watts de potência. Essa estação foi instalada no morro do Corcovado com a colaboração da Companhia Telefônica Brasileira. Assim, quando no dia 7 de setembro de 1922 o discurso de abertura do presidente Epitácio Pessoa e a canção “O Aventureiro” da ópera O Guarani foram ouvidos pelos visitantes da exposição através de alto-falantes que, distribuídos estrategicamente pelos recintos do evento, captavam as emissões da estação, o rádio fez a sua primeira aparição pública e oficial no cenário brasileiro.
Antes dessa demonstração pública, as primeiras experiências radiofônicas ficavam a cargo de “curiosos” que, reunidos em agremiações denominadas sociedades de rádio e rádio clubes, discutiam os avanços da radioeletricidade e da radiotelefonia. Essas entidades e seus pioneiros atuavam mais como rádio-escuta, uma vez que não possuíam, na maior parte dos casos, aparelhos com capacidade para emitir sinais, ficando restritos à escuta da comunicação entre os navios e os portos e de algumas estações costeiras. Outro exemplo de pioneirismo radiofônico no Brasil seria o da Rádio Clube do Recife, fundada em 6 de abril de 1919, que, segundo algumas fontes, teria inicialmente condições apenas para fazer radiotelegrafia, tendo sido reorganizada para a radiodifusão somente em outubro de 1923.
A situação da radiodifusão no Brasil sofreu grande transformação a partir dos anos 1930 com a publicação do Decreto n. 21.111, de março de 1932, que definia e aprovava o regulamento para a execução dos serviços de radiocomunicações em todo o território nacional. Esse decreto é considerado um marco na radiodifusão brasileira por ser o primeiro instrumento legal a tratar de forma abrangente os diversos aspectos relacionados com a atividade radiofônica no país, sobretudo a liberação da publicidade no rádio. Com a introdução da publicidade na programação das emissoras, o rádio educativo e cultural, idealizado pelos pioneiros da radiodifusão no Brasil, cedeu progressivamente espaço a um rádio comercial, e as emissoras passaram a desenvolver uma programação agressiva e dirigida aos interesses de um público maior e mais variado, inaugurando um esquema de produção mais competitivo. Essa nova perspectiva iria permitir que o rádio brasileiro, nas décadas de 1940 e 1950, atingisse seu apogeu como veículo de entretenimento.
Por Fernando Gurgueira – Mestre em História Social pela Universidade de São Paulo (usp) e docente da Fundação Armando Álvares Penteado (faap).