Entenda como pulmões de vítimas da gripe espanhola auxiliaram um grupo de pesquisadores. Um estudo publicado no mês de maio na revista BiorXiv abordou o surgimento de novas variantes do vírus influenza durante a pandemia de Gripe Espanhola
Um grupo de cientistas, que publicou um estudo recentemente na revista BioRxviv, descobriu que o vírus responsável pela Gripe Espanhola sofreu inúmeras mutações na época da pandemia.
Conforme informou o site Canal Tech, a nova descoberta é importantíssima, já que pode explicar o motivo pelo qual as ondas que vieram após, foram piores que a primeira em alguns países, tanto na pandemia de 1918, quanto na de Covid-19, a qual enfrentamos atualmente.
Pulmões conservados
O que possibilitou o estudo, segundo os cientistas, foi a análises de seis pulmões encontrados entre os anos de 1918 e 1919. Eles permaneceram conservados em formol até os presentes dias e ficaram armazenados em laboratórios de universidades da Alemanha e da Áustria.
Segundo a pesquisa, três desses órgãos foram infectados pelo vírus influenza. Dois deles pertenciam a soldados que morreram em Berlim, vítimas da primeira onda da pandemia, considerada a menos mortal de todas. Já o terceiro pertencia a uma jovem que faleceu em Munique durante uma onda posterior.
Como foi feita a conclusão
Os pesquisadores chegaram a essa conclusão a partir da extração do RNA viral presente nos pulmões. Com isso, foi possível reconstruir cerca de 60% a 90% do genoma viral.
Os cientistas perceberam que não havia diferenças genéticas significativas entre as amostras retiradas dos órgãos dos dois soldados. Porém, ao compararem-nas com o vírus que infectou a jovem, notaram a presença de uma mutação, que, muito provavelmente, teria surgido após a primeira onda.
Amostras de genomas do vírus obtidas no Alasca e em Nova York e datadas da segunda onda, também foram utilizadas durante a pesquisa. Assim, a equipe conseguiu realizar um estudo com réplicas de partes do vírus, o que possibilitou entender como variantes diferentes podem ter infectado a população.
Mutações
De acordo com Sébastien CalvignacSpencer, biólogo e pesquisador do Instituto Robert Koch (RKI), em Berlim, as mutações que surgiram no período entre a primeira e a segunda ondas podem ter “aperfeiçoado” o vírus para que ele pudesse se espalhar entre os seres humanos. Foi assim que ele se distanciou das aves, que até então, eram seu principal hospedeiro.
Segundo o biólogo, “aquelas (infecções virais da Gripe Espanhola) na segunda onda parecem estar melhor adaptadas aos humanos”.
Por isso, os cientistas chegaram à conclusão de que o vírus da Gripe Espanhola sofreu mutação para se tornar mais eficaz e superar as defesas celulares humanas contra a infecção.
Sendo um dos principais autores do estudo, Spencer expôs a seguinte questão que a ciência ainda busca entender: “Nós nos perguntamos se as novas variações se comportaram de maneira diferente ou não do original”
Além disso, conforme o especialista, podemos notar um processo de evolução semelhante no caso da pandemia da COVID-19. “É interessante fazer paralelos, por exemplo, o fato de haver várias ondas sucessivas é um padrão intrigante”, declarou o pesquisador.
Fonte: Aventuras na História