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União Soviética | Lançamento

As Revoluções Russas ocorreram no início do século XX, há pouco mais de 100 anos. Deram origem à União Soviética, que deixou de existir em 1991. Que importância esses processos históricos podem ainda ter nos dias atuais?

As Revoluções Russas simplesmente mudaram a Rússia e o mundo de então. Admiradores e inimigos, entusiastas e detratores, cientistas sociais, historiadores e analistas políticos o reconhecem.

Antes delas, o Império Russo era um grande Estado, o mais extenso do planeta, populoso, rico em recursos naturais, projetando sua cultura em todo o universo, mas os pés do gigante eram de barro, pois suas gentes viviam na miséria e no analfabetismo, e o regime político, regido por uma Autocracia, negava a liberdade e a cidadania a seus milhões de habitantes.

Antes delas, no mundo rivalizavam as grandes potências com seus impérios coloniais e ambições políticas e econômicas, mas todas, em comum, tinham como perspectiva a dominação, e como condição e propósito o desenvolvimento do capitalismo. Por isso, foram à guerra, a Primeira Grande Guerra, entre 1914 e 1918, suscitando catástrofe inédita nos anais da humanidade.

Nada disso se manteve depois das Revoluções Russas.
O Império Russo transformou-se numa superpotência, industrializada e urbanizada, dotada de sistemas públicos de saúde e de educação, capazes de competir com o que havia de melhor no mundo, superando a miséria e o analfabetismo.

O mundo também mudou, diversificou-se. Em face das concepções e dos métodos capitalistas, ergueu-se uma alternativa de organização de sociedade e de Estado inspirada em perspectivas e propostas socialistas. Diante da destruição da guerra e da rivalidade entre as potências, surgiram ideias de construção da paz entre povos que se ajudariam e se apoiariam. Em lugar das desigualdades sem fim, concepções igualitárias. Em vez de um destino fechado, apertado por pesados grilhões, a abertura de horizontes que pareciam infinitos. Contra a resignação fatal aos ditames de circunstâncias inescapáveis, a vontade – livre – de construção de uma sociedade e de um destino alternativos, abertos à elaboração da utopia em que o livre desenvolvimento de cada um fosse a condição do livre desenvolvimento de todos.

Entretanto, as promessas dessas mudanças não se realizaram.
O socialismo não triunfou no mundo, sequer entre as sociedades mais desenvolvidas do ponto de vista capitalista, conforme previam – e desejavam – os pensadores socialistas do século XIX. Quanto à União Soviética, apesar dos progressos materiais e sociais, não conseguiu superar as tradições de desigualdade social e nacional e de opressão política, reproduzindo, em escala ampliada, em determinados momentos, condições particularmente cruéis de tirania e servidão.

As circunstâncias adversas tiveram aí certamente seu papel. Mas os caminhos escolhidos tiveram também muito a ver com as opções das forças sociais e das lideranças políticas envolvidas, pois o destino humano nunca está exaustivamente traçado pelos contextos sociais.

Assim, das esperanças universais passou-se à defesa prioritária dos interesses nacionais do novo Estado – a União Soviética –, embora esta desempenhasse papel ativo no desmoronamento dos impérios coloniais regidos pelas potências capitalistas. As utopias igualitárias renderam-se a desigualdades crescentes no interior de uma sociedade cada vez mais complexa. Em vez de revolucionar o mundo, a União Soviética ajustava-se a ele. Em sua última fase, premida por contradições internas e externas, decidida a empreender um inquérito radical sobre suas deficiências e insuficiências, a União Soviética, surpreendendo mais uma vez o mundo, desagregou-se, tragada por uma história que não conseguiu revolucionar.

Entre seus numerosos e complexos legados, ficou a elaboração – teórica e prática – de um novo e imprevisto tipo de socialismo: o socialismo autoritário, distante das propostas que estiveram nas origens das revoluções históricas, um desafio para a eventual reinvenção do socialismo no século XXI.

(….)

União Soviética | Lançamento
Leia um trecho

A União Soviética desapareceu, mas as reverberações do socialismo autoritário permanecem em várias sociedades (China, Vietnã, Coreia do Norte, Cuba) comprometidas com o socialismo. Como se o eco das Revoluções e do socialismo soviético ainda ressoassem.

Se é certo dizer que as Revoluções Russas ocorreram há mais de 100 anos e que a União Soviética desapareceu há 30 anos, não é menos certo afirmar que é impossível compreender o século XX e aspectos importantes do século XXI sem o estudo dessas decisivas experiências históricas.

Leia o trecho completo no nosso site


Daniel Aarão Reis possui graduação e mestrado em História pela Université de Paris VII, e doutorado em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). É professor titular de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF) no Programa de Mestrado e Doutorado em História e pesquisador do CNPq.

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