Imaginemos que estamos nos anos 700 d.C. O leitor logo poderá pensar na invenção da pólvora pelos chineses, na ocupação árabe da Península Ibérica ou ainda na coroação de Carlos Magno como rei dos povos francos. Isso porque sempre formos ensinados a direcionar nosso olhar histórico para o Velho Mundo. Mas e se o cenário fosse uma floresta tropical dominada por centenas de cidades densamente povoadas, com planificação urbana e arquitetônica e repletas de pirâmides que ultrapassam 60 metros de altura? Um cenário que, enquanto Paris e Londres contavam com não mais do que 20 ou 30 mil habitantes, exibia cidades que ultrapassavam os 100 mil! E, para deixar este quadro tropical ainda mais complexo, ele registra a existência de reis. Reis? Isso mesmo. Tais cidades na floresta tropical do Novo Mundo eram governadas por soberanos poderosos, que mandavam construir monumentos feitos de pedra para perpetuar seus nomes e a descrição de seus matrimônios e suas vitórias nas guerras.
Cidades que comemoravam datas importantes com sacrifícios humanos em honra a seus deuses, em cerimônias em que os próprios reis tinham seus órgãos genitais perfurados com uma espinha de peixe para se obter sangue, “o líquido vital”.
Cidades que produziam livros confeccionados com uma massa moída de plantas laminadas misturadas com cal, formando uma superfície lisa sobre a qual sacerdotes redigiam textos a partir de um alfabeto fonético como o nosso. Os escritos versavam sobre as genealogias dos reis, o funcionamento do calendário, a observação astronômica dos movimentos do Sol, de Vênus e até de Marte.
Um mundo verde cortado por diversos rios utilizados por navegantes que faziam comércio com regiões situadas a mais de mil quilômetros de distância, cruzando desertos, montanhas e terrenos cobertos por neve.
Seria esta descrição possível ou somente uma peça de ficção? Se o leitor optou pela segunda hipótese, errou. Estas cidades existiram e seus habitantes constituíram grandes civilizações no continente americano, conhecidas como Maia, Asteca e Inca.
Se você permitir, esse livro te levará a uma inesquecível viagem pelo continente americano antes da invasão europeia, um continente povoado por milhares de povos indígenas, cada um com seu modo de vida próprio.
Alexandre Guida Navarro é professor associado IV do Departamento de História da Universidade Federal do Maranhão. Possui mestrado em Arqueologia pela Universidade de São Paulo e doutorado em Antropologia pela Universidad Nacional Autónoma de México. É também professor colaborador da Pós-Graduação em Antropologia na University of Illinois, em Chicago, além de pesquisador associado do Underwater Archaeology and Laboratory for Dendrochronology, Office for Urbanism, em Zurique, Suíça. É coautor do livro As religiões que o mundo esqueceu, publicado pela Contexto.