Emerson, 15 anos, era um garoto corriqueiro, membro da classe média baixa, bem magro e com o cabelo raspado. Vivia uma vida quase normal, não fosse pelos constantes atritos protagonizados com a mãe. Helena, uma mulher de cabelo loiro, na altura do ombro, vivia as delícias e agruras próprias da meia-idade. Prematuramente, seu passo ficou arrastado.
– Emerson, que desculpa você vai dar hoje pra não estudar? – perguntou Helena, irônica.
– Desculpa? Desculpa nenhuma! Só não vou estudar – respondeu o filho, ouvindo sem querer ouvir. Enquanto isso, abriu a porta que dava para a rua e foi embora.
Durante anos, Emerson sofreu todo tipo de pressão, inclusive física, por parte de Helena. O objetivo era sempre o mesmo: fazer com que o filho se dedicasse minimante aos estudos. Para isso, não economizava motivos, que, no entanto, nada significavam para Emerson. O que contribuía muito para que ele criasse uma sólida rejeição por qualquer coisa que sugerisse escola e estudos.
Sem se dar conta, durante todo esse tempo, Emerson levou a sério a tarefa de provar que não se guiaria senão pelos seus motivos pessoais, alguns ainda inconscientes.
– Mãe, a senhora entende que eu não gosto de estudar? – Emerson prosseguiu, misturando firmeza e irritação.
– Tudo bem, você não quer estudar – disse Helena numa atitude planejada. – Seus colegas estudam. Aí, quando eles forem diretores de empresa, você vai trabalhar pra eles. Se aceitarem, claro – Helena propôs uma reflexão.
Para o adolescente, estudar nessas condições significava se sujeitar a algo que não queria para si. Problema à vista: não estudar implicava reprovações constantes, pressões familiares e futuro incerto. O drama pessoal estava instalado dentro dele e à sua volta.
Um dia, cansado, Emerson fugiu da escola e parou na parte externa de um restaurante fast food, o primeiro que encontrou. Era uma tarde inócua. Enquanto tomava um refrigerante, ouviu a voz de um homem desconhecido – o que ele teria dito? Como teria capturado sua atenção?
O garoto caminhou até o interior do restaurante. Acomodou-se no primeiro banco. Acomodou-se num amontoado de pensamentos aleatórios. Fez conexões e editou suas ideias. Depois foi para casa pensando no seu cansaço. Avaliou o quanto fugir do livro, fugir da mãe, fugir de si mesmo, fugir… era cansativo. Para resolver o problema, leu um texto de História Geral, assunto da prova do dia seguinte, para comprovar sua dificuldade de aprendizado. Seja como fosse, estudar o livraria de atritos domésticos.
Enquanto aprendia, tomava gosto pela leitura e suas revelações. Descobria a pesquisa. Buscava falar no papel, colocando ali suas experiências e algumas ideias, ainda mal formuladas, sobre o desinteresse pela escola.
Emerson começou a escrever. O cenário da sua primeira história foi o céu. Relatava o momento em que Francisco de Assis conversava com um filósofo, cujo nome continuou desconhecido até mesmo pelo santo. – Menino, pelo amor de Deus, seus amigos estão aí fora! Você não vai atender?
PrimeiЯa versão
■ Vaidade – pecado que nos leva à comparação com quem está abaixo de nós: os mais feios, menos inteligentes, mais pobres etc. Inveja – pecado que faz com que nos comparemos com quem está acima: os mais bonitos, mais inteligentes, mais ricos…
Rubens Marchioni é palestrante, produtor de conteúdo e escritor. Autor dos livros Criatividade e redação, A conquista e Escrita criativa. Da ideia ao texto. [email protected].