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Tempos atuais favorecem o desenvolvimento de doenças infecciosas

A razão desse favorecimento, esclarece Paulo Saldiva, é resultado das mudanças climáticas e ambientais num mundo cada vez mais urbano e facilitador de transmissões

Paulo Saldiva destaca em sua coluna um aspecto menos conhecida das mudanças climáticas, que é o favorecimento para o desenvolvimento de doenças infecciosas, como é o caso da dengue, do zika vírus, a chikungunya e da própria covid-19, sem falar no vírus influenza, causador de gripes. Esse favorecimento ocorre muito, diz ele, em função do mundo estar cada vez mais urbano e de as pessoas estarem próximas umas das outras nos transportes coletivos, facilitando o contágio interpessoal. Ao lado disso, as mudanças ambientais, provocando aquecimento e chuvas torrenciais, propiciam que insetos vetores de algumas dessas doenças não só proliferem com maior facilidade como também mudem de endereço. Ele cita o exemplo da dengue, uma doença típica do litoral, mas que hoje avança para o interior do Brasil, assim como acontece com a malária, que já pode ser encontrada no Sul do País quando antes estava restrita à região Norte.

Tempos atuais favorecem o desenvolvimento de doenças infecciosas

Já o derretimento das geleiras “tem feito que venham à tona microrganismos que foram mantidos pelo congelamento, que agora estão passando de novo para a espécie humana, como o antrax e outros fungos que estavam adormecidos nas geleiras há milhares de anos e que a gente vai ter contato de novo”. Por outro lado, algumas doenças consideradas de mata, como a leishmaniose e a febre maculosa, ganharam o espaço urbano. “Esse é um novo desafio, e mais um aspecto final é que o uso extensivo de antibióticos, tanto na pecuária – criação de suínos, de aves – está fazendo com que surjam espécies resistentes, mesmo em vida livre, ou seja, você pode pegar uma bactéria com resistência a antibiótico que não more nos hospitais mais”. Saldiva conclui sua análise dizendo que esses novos desafios vão exigir muita vacina e o desenvolvimento de novos fármacos, “mais uma razão para que a gente ordene o nosso desenvolvimento e retomemos o caminho da sustentabilidade”.

Fonte: Jornal da USP

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Paulo Saldiva, médico patologista, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, com pesquisas em doenças respiratórias, patologia ambiental e antropologia médica. Ciclista por vocação, gaitista por superação e esforço, é apaixonado por São Paulo. Pela Contexto é autor dos livros Brasil: o futuro que queremos e Vida urbana e saúde. 

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