Fechar

Sinos da era nazista

Descoberta de peça com suástica na Renânia-Palatinado impulsionou buscas em igrejas de toda Alemanha. Em Berlim, até agora, dois sinos da era nazista que ainda funcionavam já foram encontrados.

 

Primeiro sino nazista foi encontrado em Herxheim am Berg
Primeiro sino nazista foi encontrado em Herxheim am Berg

Mais de 70 anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha ainda é confrontada com heranças inesperadas do regime nazista. Em meados de 2017, a revelação de que uma igreja no município de Herxheim am Berg, no estado da Renânia-Palatinado, possuía um sino ainda ativo que continha uma suástica e a inscrição “Tudo pela pátria – Adolf Hitler” causou grande indignação e levou à renúncia do prefeito da cidade.

A revelação deu início a um intenso debate na cidade sobre como lidar com essa herança histórica. A discussão ultrapassou as fronteiras locais e levantou a possibilidade de que outros casos semelhantes poderiam existir na Alemanha.

Nos meses seguintes, sinos da era nazista foram encontrados em igrejas de outros estados do país. Em Berlim, a regional local da igreja luterana começou em outubro uma inspeção em suas comunidades. Ao todo, a capital alemã possui 242 igrejas evangélicas e cerca de 100 católicas. A investigação localizou até agora dois sinos com símbolos nazistas em igrejas locais: um numa comunidade do bairro Spandau e o outro em Rudow.

A regional luterana não descarta, no entanto, que outros sinos sejam encontrados na cidade e também no estado de Brandemburgo, mas acredita que o número de futuras possíveis descobertas não deve ultrapassar algumas unidades. Essa herança está presente em igrejas construídas durante o regime nazista (1933-1945) ou naquelas que receberam sinos novos nesta época.

O sino de Spandau, por exemplo, foi encontrado numa igreja construída em 1932, mas que recebeu a peça de bronze, marcada com uma suástica, em 1934. Depois de um intenso debate entre igreja e comunidade foi decidido que o sino seria retirado do local e doado para um museu. A descoberta também impulsionou a formação de um grupo para analisar qual foi o papel da comunidade durante o regime nazista e os motivos da permanência do sino na igreja, mesmo depois de uma discussão sobre o tema, ocorrida em 1962, como mostrou o arquivo local.

Já em Rudow, a descoberta ocorreu pouco antes do Natal. Como a igreja possui dois sinos, a comunidade decidiu que a peça com inscrições nazistas não será mais tocada. Um debate deve decidir o futuro do objeto: se ele permanecerá na igreja ou terá um destino semelhante ao de Spandau.

Como destinação mais correta para os sinos da época nazista, o Conselho Central dos Judeus na Alemanha recomenda a remoção desses objetos e sua doação para museus. No caso que originou o debate atual foi decidido que o silêncio é, por enquanto, o futuro do sino em Herxheim am Berg.


Clarissa Neher é jornalista freelancer na DW Brasil e mora desde 2008 na capital alemã. Na coluna Checkpoint Berlim, publicada às segundas-feiras, escreve sobre a cidade que já não é mais tão pobre, mas continua sexy.