Uma preocupação frequente entre professores em geral e estudantes de
cursos de Licenciatura é encontrar meios de otimizar o ensino não só de Língua
Portuguesa, mas também de outras disciplinas que se preocupam com a
produção, a leitura e a compreensão de textos dos mais diversos gêneros. Além
disso, é desejo daqueles que procuram se aprimorar diminuir a tão criticada
distância entre teoria e prática. Por isso, longe de fornecer receitas prontas,
este livro traz, por meio do aporte da Teoria Semiolinguística de Análise do
Discurso, análises práticas perfeitamente possíveis de serem desenvolvidas em diferentes níveis de ensino.
Cabe, então, agora, perguntar o que é a Teoria Semiolinguística de Análise
do Discurso e qual seu objeto de estudo. Por que semio- e linguística? Em primeiro
lugar, é importante salientar que tal escopo teórico transcende a análise
puramente linguística, alcançando outros tipos de linguagem e, com qualquer
um deles, a relação texto/contexto. O termo semio- vem de semiósis, lembrando
que a significação se constrói por meio de uma relação forma-sentido, vinculada
à intencionalidade de ação e ao projeto de influência social de um sujeito; e o
termo linguística indica que isso é feito por meio de um material linguageiro.
É preciso destacar, contudo, que, ao mencionarmos “material linguageiro”,
não nos limitamos à expressão verbal da linguagem, já que o discurso “ultrapassa
os códigos de manifestação linguageira na medida em que é o lugar da
encenação da significação, sendo que pode utilizar, conforme seus fins, um ou
vários códigos semiológicos” (Charaudeau, 2001b: 25).
Em segundo lugar, é fato que uma análise puramente linguística, que pode
prescindir das condições de produção de um ato de linguagem – seja oral, seja
escrito –, não dá conta do fenômeno da significação em sua completude. Nesse
sentido, este livro mostra que, para melhor compreender o ato de linguagem,
é preciso considerar tanto a sua dimensão linguageira, quanto a sua dimensão
situacional. Assim, o campo de pesquisa da Semiolinguística engloba, além
do discurso analisado e decodificado, as operações envolvidas no processo da
construção discursiva. Tais operações partem do conhecimento do signo organizado em texto para alcançar o sentido, sobretudo aquele que está implícito e
é inferido a partir da relação entre o texto e o contexto sócio-histórico-cultural,
lugar de produção do discurso, conforme propõe o fundador da teoria, o professor
Patrick Charaudeau.
Por uma questão de organização metodológica e pela necessidade de apresentar
a teoria atrelada a questões práticas, este livro reúne, então, sete capítulos
desenvolvidos por professoras do grupo de Semiolinguística da Universidade
Federal Fluminense (UFF) e pesquisadoras da área que vêm desenvolvendo
um projeto de extensão, vinculado ao Departamento de Letras Clássicas e
Vernáculas, intitulado “A Semiolinguística aplicada ao ensino de língua materna”.
O projeto, com público-alvo diversificado – alunos de graduação e de
pós-graduação da UFF e de outras instituições, professores de educação básica
e superior e a comunidade em geral –, amplia as discussões relacionadas à
Semiolinguística, com foco no ensino de língua materna, a partir de uma outra
concepção de gramática: a gramática do sentido. Tais discussões têm sido
ainda enriquecidas por meio da troca de experiências promovida pelo projeto
e do retorno dado por seus participantes.
Assim, o percurso pela teoria começa no primeiro capítulo, de Ilana
Rebello, intitulado “A Semiolinguística vai para a escola”, em que se reflete
sobre o que é a Semiolinguística em meio a outras teorias de Análise
do Discurso. Segue-se a discussão sobre dois importantes conceitos caros à
Semiolinguística: o de ato de linguagem e o de contrato de comunicação,
complementados por uma proposta de atividade prática com vistas à leitura
e à interpretação proficientes de textos.
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