Quais as prioridades de política externa do Brasil para os próximos anos? Como o País pretende afirmar sua inserção na nova ordem global? Que papel pretende assumir? Qual imagem deve passar? Quais serão os maiores desafios a superar? Tudo indica que as respostas para essas questões ainda não foram claramente identificadas.
A sucessão de Governos democráticos nas últimas décadas, somada a um contexto internacional favorável para os países emergentes, permitiu inédito salto de desenvolvimento no Brasil e criou condições ideais para a reestruturação de seu modelo de inserção na arena global. Identificado como grande demais para ficar de fora do complexo equilíbrio de poder mundial, mas ainda pequeno para nele “atuar sozinho”, o País viu-se em meio a uma geometria variável de poder, que permitiu a diversificação de sua agenda, a formação de novas alianças e uma participação mais ativa nos principais centros decisórios.
Não obstante os indiscutíveis avanços realizados, as crises dos últimos anos e o atraso de reformas estruturais em nossas instituições desmascararam vícios do passado e revelaram a persistência de importantes desafios a superar, entre os quais a ausência de um planejamento estratégico de longo prazo para a política externa brasileira. Carente de objetivos bem definidos e internamente instáveis, importantes conquistas brasileiras começaram a ruir, implicando a desconstrução de parcerias, interrupção de projetos e desperdício de oportunidades que não mais se repetirão.
A recente situação ganha ainda mais complexidade se levarmos em conta que, diferente do século passado, quando pequena elite podia ditar os rumos de nossa atuação internacional sem grandes interferências dos demais atores sociais, a melhoria do nível de instrução da população brasileira, associada à revolução das tecnologias de informação e de comunicação, permitiram que a política externa invadisse a esfera privada dos indivíduos e assumisse papel de relevo na própria política interna.
Aos poucos, renovou-se o interesse de nossos cidadãos por temas como a política comercial para a Argentina, a imigração de haitianos e sírios ou as acusações de violação de direitos humanos na Venezuela. Essas mesmas pessoas também começaram a sentir em suas vidas cotidianas os efeitos de acordos comerciais negociados com outros países, de compromissos assumidos pelo Brasil na área ambiental e mesmo da opinião pública internacional e, desta forma, passaram a exigir maior participação nos rumos da agenda externa do Brasil.
De modo a contornar os desafios dessa inédita e complexa situação, e a aparente apatia e desanimo dela decorrentes, será imprescindível aos nossos formuladores de política externa estabelecer diálogo franco e aberto com a sociedade civil, envolver novos atores no processo decisório, prestar contas de forma mais transparente e conciliar habilmente interesses em torno da definição de rumos que reflitam anseios autênticos de nossa sociedade. Superar velhas mentalidades, avessas a mudanças e reativas à modernidade, será um dos maiores desafios das décadas por vir. Trata-se de difícil tarefa, mas que deverá ser constantemente perseguida e aprimorada.
Gustavo Westmann é diplomata desde 2007, bacharel em Direito (USP) e em Relações Internacionais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Mestre em Diplomacia (IRBr) e em Política Internacional (Luiss). Especialista em Direito Internacional Público pela UC Berkeley e pela The Hague Academy of International Law. Atuou como consultor jurídico na área de direito ambiental e nas áreas cultural, ambiental e comercial do Itamaraty. Foi chefe do setor comercial da embaixada do Brasil na Itália. Atualmente é chefe do setor econômico e comercial da embaixada do Brasil na Indonésia.