Paulo Saldiva se volta mais uma vez para o tema das queimadas em florestas e de como os poluentes gerados, a partir dos que foram emitidos, afetam a nossa saúde
Paulo Saldiva retoma em sua coluna o tema das queimadas de florestas, que tantos distúrbios causaram ao País ainda muito recentemente – afinal de contas, quando a atmosfera está prejudicada pelo excesso de poluentes a nossa saúde também está. Segundo ele, embora o componente mais visível da poluição do ar sejam as partículas produzidas após qualquer incêndio, existe um outro tipo de poluente, justamente o que é gerado a partir dos que foram emitidos. “Ou seja, é como se eu tivesse adicionando ingredientes sob a luz solar, especialmente em dias secos e muito quentes, os raios ultravioleta fazem com que você gere uma segunda família de poluentes – são chamados poluentes secundários e que também não são perfumes. Também tem a capacidade de nos provocar inflamação, adoecimento e mortalidade”, diz o colunista.
Essa mortalidade, diga-se, tem como ser comprovada cientificamente. “Existe uma rede de pesquisadores que estuda poluição do ar e saúde em 45 países, usando dados de 749 localizações em diferentes áreas do planeta, incluindo o Brasil e nossos países vizinhos. Esse grupo pegou dados de mortalidade e de ozônio em bases diárias e mediu o que acontecia em termos de mortalidade. Nós temos, principalmente na América Latina e em alguns países da Ásia, os maiores níveis de ozônio gerados após a queimada de florestas e isso leva a uma dose considerável, uma carga de doença bastante considerável, especialmente na América Latina, que é muito densamente povoada e se queima muita biomassa na América do Sul, na região Centro-Oeste do Brasil e até na Argentina e um pedaço do Chile.”
“No Brasil, a gente estima que é ao redor de menos de 1%, mais do que meio por cento das mortes. É pouco, mas como morre muita gente no Brasil, no final do ano nós vamos ter um número grande de pessoas que foram embora, que morreram antes do tempo por causa desse tipo de poluente, desse descontrole ambiental, desses processos indiscriminados de utilizar fogo como instrumento de agricultura ou de zoneamento ilegal em terreno na periferia das grandes cidades. Esses crimes ambientais, no meu entendimento como médico, são também crimes contra a pessoa humana e ofendem a nossa dignidade, porque não temos como nos proteger. O resultado dessa história é que não faltam evidências de saúde para dizer que as queimadas são prejudiciais à nossa população”, finaliza Saldiva.
Fonte: Jornal da USP por Paulo Saldiva
O professor Paulo Saldiva é autor do livro Vida urbana e saúde
Somos um país urbano: 84% da população brasileira concentra-se em cidades e ao menos metade vive em municípios com mais de 100 mil habitantes. Mas a vida urbana não traz apenas novas oportunidades. Ela propicia doenças provocadas por falta de saneamento, picadas de mosquitos, poluição, violência, ritmo frenético…
E tudo isso não ocorre mais apenas nas grandes cidades, mas também nas médias e mesmo pequenas, quase sempre negligenciadas pelo poder público e pelos próprios cidadãos. Mas, afinal, o que fazer para ter boa qualidade de vida nas cidades? Assim como o médico deve pensar na saúde dos seus pacientes – e não apenas em tratar determinada doença –, uma cidade saudável é aquela em que seus cidadãos têm boa qualidade de vida. E o médico Paulo Saldiva, pesquisador apaixonado pelo tema, mostra que é possível, sim, melhorar e muito o nosso dia a dia.