O moral? A moral? As duas palavras estão em todos os dicionários. Escrevem-se do mesmo jeitinho. Mas o gênero faz a diferença. Uma é macho. A outra, fêmea. Muita gente não sabe disso. Na maior ingenuidade, mistura Germano com gênero humano. O resultado é um só. Pensa que está dando um recado, dá outro. Pior: não dá recado nenhum. Deixa o leitor a ver navios.
A juventude dificilmente fala em moral. Rapazes e moças preferem dizer astral. Há pessoas que têm alto astral. Outras, baixo astral. É o mesmo que o moral alto e o moral baixo. No masculino, a dissílaba indica estado de espírito, disposição de ânimo. Quer moral mais baixo que o do goleiro que leva frango? Nem precisa ser jogo decisivo. O vexame é vexame em qualquer partida.
Como fica o moral do chefão filmado no momento em que recebe propina? Ou da criatura apanhada com a cueca cheia de dólares? Ou do marido surpreendido com outra na cama do casal? Ou da dona de casa que serve feijoada para os convidados muçulmanos na feliz ignorância de que eles não comem carne suína? Convenhamos: o moral despenca. Atravessa o centro da Terra. E se enfia lá dentro.
Quando o fiasco cai no esquecimento, o ressabiado reaparece. Devagarinho, vai subindo. Com o empurrãzinho da sorte, alça voos. Oba! Chega ao altão. Lá nas alturas, outra personagem entra em cartaz. É a moral. A meninada não tem paciência com a feminina que tem complexo de Deus. Quando ouve bronca, sai com esta:
– Ih! Lá vem lição de moral.
A moral quer dizer norma de conduta, moralidade. É coisa de mãe. Nessa acepção, só o feminino tem vez. Aprecie: A moral nacional depende da cultura de cada povo. Você sabe qual a moral da fábula “A raposa e as uvas”? Afinal, aonde você quer chegar? Qual a moral da história?
Resumo da opereta: falou em astral? Dê vez ao masculino (o moral). Falou em lição de moral? O feminino pede passagem (a moral). Bem-vindos.
Fonte: Blog da Dad
Dad Squarisi transita com desenvoltura pelo universo da língua. É editora de Opinião do Correio Braziliense, comentarista da TV Brasília, blogueira, articulista e escritora. Assina as colunas Dicas de Português e Diquinhas de Português, publicadas por jornais de norte a sul do país; Com Todas as Letras, na revista Agitação, e Língua Afiada, na Revista do Ministério Público de Pernambuco. Formada em Letras, com especialização em Linguística e mestrado em Teoria da Literatura, concentra o interesse, sobretudo, na redação profissional – o jeitinho de dizer de cada especialidade, cada grupo, cada mídia. Mas é tudo português. A experiência como professora do Instituto Rio Branco, consultora legislativa do Senado Federal e jornalista do Correio Braziliense iluminou o caminho dos livros Dicas da Dad – Português com humor, Mais dicas da Dad – Português com humor, A arte de escrever bem, Escrever melhor (com Arlete Salvador), Redação para concursos e vestibulares (com Célia Curto), Como escrever na internet, 1001 dicas de português – manual descomplicado, Sete pecados da língua, publicados pela Contexto, além de Superdicas de ortografia, Manual de redação e estilo para mídias convergentes, dos Diários Associados, e de livros infantis – de mitologia e fábulas.