Há quase 600 anos, freiras começaram a sentir um cheiro doce vindo do local em que a abadessa foi enterrada; duas semanas depois, ela foi exumada e revelou uma surpresa
Sentada, imponente, em exposição na igreja Corpus Domini, na cidade italiana de Bolonha, está uma figura que segura uma cruz de ouro e uma Bíblia. Ela tem mãos de tom escuro, quase em preto, assim como seu rosto, parcialmente desfigurado, inexpressivo e manchado pela fuligem das velas acesas do lugar também conhecido como Chiesa della Santa (Igreja do Santo).
A descrição pode parecer excêntrica para o interior de uma igreja, mas é exatamente assim que a catedral mantém o corpo de uma de suas mais importantes representantes. Santa Catarina de Bolonha, nascida em 1413, permanece ereta, vestida de freira, sobre um trono feito de ouro, por mais que tenha morrido em 1463, aos 49 anos.
A santa
Catarina fazia parte de uma família aristocrática, que vivia na cidade de Ferrara, ao norte da Itália. Foi criada em uma educação artística, destacando-se sempre por seu talento e esforço. Quando completou 14 anos, no entanto, decidiu que dedicaria sua vida a Deus, juntando-se a uma ordem local de mulheres religiosas.
Ao adotar a vida religiosa, continuou realizando suas atividades artísticas e desenvolveu inúmeros trabalhos escritos, como tratados e sermões religiosos. Provavelmente, as Sete Armas Espirituais Necessárias para a Guerra Espiritual, que foram escritas em 1438, mas reescritas de maneira continua até sua morte, em 1463, foi sua obra mais famosa.
A freira escreveu os textos a partir de sua própria experiência, dita como parte de constantes visões de Deus e o chamado Satanás. Em uma espécie de misticismo vernacular medieval, Catarina descreveu “estratégias” religiosas para conter a tentação tanto terrena quanto do demônio em si.
Também era conhecida por sua habilidade com animais e plantas, tendo características importantes para uma vida comunitária dentro das instituições religiosas. A rotina da religiosa era comum e tranquila, o que não a impediu de produções importantes para a Igreja.
No ano de 1455, ela recebeu um convite de membros da ordem franciscana e do governador da cidade de Bolonha para se tornar abadessa de um convento da mesma distinção que seria mantido na comuna. Uniu-se às “Clarissas”, outro grupo fundado por Santa Clara e São Francisco de Assis, e estabeleceu a congregação de freiras. Junto com 12 delas, conseguiu criar a Corpus Domini, igreja em que está até os dias de hoje.
O que se supõe é que a freira faleceu enquanto tocava viola, no ano de 1463, com pouca idade e uma rotina simples. Depois disso, foi rapidamente enterrada no cemitério do convento, à maneira das Clarissas. Ou seja, ela não foi embalsamada nem ao menos colocada em um caixão, aquele foi um enterro muito simples.
O mistério
Não havia flores nem no local em que Catarina foi enterrada nem nas proximidades. No entanto, as freiras que viviam no convento afirmavam que a região exalava um cheiro doce, o que começou a intriga-las.
A mulher ficou enterrada por 14 dias, até que as irmãs decidiram exumar seu corpo para descobrir o que estava acontecendo em baixo do solo que o deixava perfumado. A surpresa foi enorme: segundo um panfleto da igreja da época, ela apareceu “intacta, flexível e com um cheiro doce”.
Assim, os restos mortais da freira, que também foi artista, escritora e filósofa, foram considerados “incorruptos”. Foi assim que as Clarissas decidiram que manteriam o corpo da religiosa não enterrado, mas sim em exposição na igreja. Ela foi colocada em uma sala dentro de Corpus Domini, há quase 600 anos, e é onde ela permanece até os dias de hoje.
A cidade do norte da Itália se tornou um local importante para católicos que acreditavam nos milagres da freira. No ano 1712, o Papa Clemente XI ainda a canonizou e ela foi declarada Santa padroeira das artes devido a sua atuação nas artes. Além disso, possui um dia especial em que é comemorada, todos os anos em 9 de março.
Fonte: Matéria publicada no Portal Aventuras na História