No passado, a Linguística Românica (ou “Filologia Românica”) ocupava um lugar privilegiado na formação do professor de Português, com outras disciplinas que tratavam de história da língua. Muito secundarista iniciou-se nos mistérios da língua por essa perspectiva e aprendeu assim a valorizar a língua como uma instituição social sempre presente. A esse período, seguiu-se outro, em que o ensino ministrado nos cursos de Letras foi orientado por teorias que encaram a língua por um ângulo sincrônico, valorizando seu caráter sistemático ou procurando expressar com rigor matemático suas regularidades. Mas os últimos anos têm assistido a um interesse renovado pelo passado das línguas, como prova a quantidade de trabalhos universitários em que se procura esclarecer os mais diversos aspectos da história do português brasileiro levados a termo nos últimos anos, e a coleção monumental de livros que o professor Ataliba Castilho vem publicando sobre o assunto pela Editora Contexto.
Dado esse quadro, pareceu oportuno lançar uma nova edição desta Linguística Românica, cuja falta nas livrarias nos vinha sendo cobrada por vários tipos de leitores. A nova edição não só corrige algumas pequenas falhas de redação e conceituação que nos foram apontadas na primeira, mas também procura tratar o assunto de maneira mais didática e amigável pela introdução de exercícios (os quais estarão disponíveis no site da editora) e pelo recurso a uma diagramação mais clara. Também traz amostras atuais das principais línguas românicas, explicadas de modo a realçar suas características e a mostrar como se ligam a sua história passada. A quinta parte do livro, escrita para esse fim, é inteiramente nova.
Escrito em primeiro lugar para os estudantes dos cursos de Letras, mas também para todos aqueles leitores que se interessam pela história da língua portuguesa e de suas irmãs neolatinas, o livro encara o desafio de dar uma visão equilibrada, não técnica, do conjunto de problemas que se costuma reunir sob o rótulo “Linguística Românica”; deve servir ao estudante de Letras, como estímulo e orientação na busca de leituras mais especializadas, e a qualquer pessoa interessada em construir uma imagem densa das línguas e de suas peripécias, em alternativa à que se continua cultivando na sociedade, com a bênção da imprensa, e nos meios de comunicação de massa.
O livro é dedicado à memória de um velho amigo que chegou ao Brasil quando já tinha 30 anos, e que soube amar a língua portuguesa como ninguém, mas também a todos os professores universitários da disciplina Linguística Românica. Com o primeiro, estou saldando uma dívida de formação; nestes últimos penso com a esperança de que o livro os ajude a organizar um conjunto de problemas que à primeira vista parecem disparatados, e uma bibliografia que, no caso brasileiro, é dispersa e de difícil acesso.
Rodolfo Ilari participou, na década de 1970, da fundação do Departamento de Linguística da Unicamp, instituição na qual trabalhou até aposentar-se como professor titular em 2007. Como docente e pesquisador, atuou principalmente nas áreas de Linguística Românica, Semântica, e ensino de língua materna. Foi professor titular de Português no Instituto de Espanhol, Português e Estudos Latino-americanos da Universidade de Estocolmo. Atualmente, pesquisa a história semântica do português brasileiro. Publicou diversos livros destinados ao ensino da Linguística no nível de graduação (particularmente sobre semântica e linguística românica).