Este livro é uma introdução ao estudo do léxico e da Semântica Lexical. Compõe-se de dez capítulos, que deveriam ser estudados na ordem numérica. De fato, cada capítulo introduz um conjunto de noções de base, das quais a maior parte é diretamente explorada na sequência do texto.
A noção é, portanto, um conceito lexicalizado, e toda disciplina científica – a Linguística não é exceção – se constrói em torno da elaboração de noções logicamente organizadas em sistema. A aquisição de uma disciplina passa pela aquisição de seu sistema nocional: os conceitos com os quais ela permite raciocinar com uma relativa precisão e a terminologia que corporifica esses conceitos. O rigor na assimilação e na utilização da associação conceito ↔ termo é a condição primeira para a construção de um saber científico, razão pela qual a noção é nossa matéria-prima, após a língua, é claro, que é nosso objeto de estudo.
Duas ferramentas permitem ao leitor navegar na rede nocional do livro:
- imediatamente após a introdução de cada capítulo, encontra-se uma lista das noções examinadas (de acordo com sua ordem de abordagem no texto);
- no fim do livro, há um índice alfabético muito detalhado (ver “Índice de noções”).
Os nomes das noções importantes figuram em tipografia especial quando são introduzidas pela primeira vez ou quando são objeto de observações particulares.
Cada capítulo termina com uma lista de leituras complementares, que permitem consolidar as noções introduzidas, e com exercícios práticos, que se baseiam nessas noções. Encontram-se no fim do livro (“Correção dos exercícios”) correções para a maior parte dos exercícios. Note-se que os exercícios não têm como objetivo único testar a boa compreensão do respectivo capítulo. São também frequentemente utilizados para desenvolver a apresentação de certas noções relevantes. Inúmeras respostas propostas para os exercícios podem, portanto, ser consideradas parte integrante da apresentação das noções. Pareceu-nos que esta maneira de proceder permite não sobrecarregar a exposição, no corpo do livro, e, ao mesmo tempo, realçar a importância dos exercícios e de sua correção.
Por que escrever este livro?
Existe um número considerável de textos introdutórios à Lexicologia e à Semântica. Alguns deles podem ser mais completos do que este livro, seja porque propõem uma perspectiva diferente sobre a questão, seja porque não abrangem exatamente o mesmo campo de estudo (dando mais importância à morfologia, à semântica da frase, à evolução da linguagem etc.). Entretanto, apesar do número bastante expressivo de obras que abordam, no todo ou em parte, a Lexicologia e a Semântica Lexical, nenhuma delas propõe, em um nível elementar e relativamente independente de determinada teoria linguística, um verdadeiro sistema nocional em Lexicologia. Entendemos por este termo uma rede de noções coerente e logicamente organizada que permita compreender melhor a natureza do léxico. Tal rede de noções deve, afinal de contas, servir ao leitor como ferramenta para trabalhar com e sobre o léxico: ensinar a língua, descrevê-la nos dicionários, estudá-la de acordo com uma perspectiva teórica… e amá-la ainda mais, se possível. Foi este o objetivo ambicioso a que nos propusemos ao escrever este livro.
Para tentar atingir esta meta, foi preciso enxugar ao máximo. Não se encontrará, portanto, aqui, com destaque, uma apresentação aprofundada da Morfologia. Em contrapartida, as noções morfológicas que são introduzidas desempenham um papel capital no sistema nocional geral. Evitamos também fazer deste livro uma apresentação de diversas abordagens teóricas deste campo de estudos, preferindo oferecer ao leitor uma exposição parcial, subjetiva, mas coerente, a partir da qual ele possa, mais tarde, iniciar-se no estudo de abordagens teóricas específicas.
Procedendo desta maneira, estamos bem conscientes de correr um certo risco. Como se presume que cada noção deva receber uma definição única, precisa e funcional, os eventuais erros lógicos (de fato, eles sempre existem) aparecerão claramente ao leitor atento. Mas isso é um risco grave somente para quem se julga infalível; por outro lado, é um benefício para quem não quer jamais parar de aprender, até mesmo e sobretudo ao ensinar. Esperamos, pois, receber de leitores comentários que nos propiciem melhorar o que hoje estamos propondo.
Uma observação se impõe, enfim, a propósito da língua de referência utilizada nos exemplos em francês. Pareceu-nos fundamental que estes fossem perfeitamente compreensíveis para qualquer locutor do francês, fosse ele quebequense, francês da França, belga, suíço etc. Evitamos, portanto, dar exemplos que não pertençam ao “núcleo duro” do francês compartilhado por todos os francófonos. É evidente que, como o livro foi amadurecido e escrito em Montreal, era normal que ele incluísse alguns empréstimos (comentados) do francês quebequense.
N.T.: Na tradução deste livro, a maioria dos exemplos foram vertidos para o português, à exceção de alguns que não encontram correlato nessa língua. Nesses casos, optou-se por manter o exemplo na língua original e acrescentar-lhe tradução aproximada entre colchetes.
Alain Polguère é professor titular da Universidade da Lorraine (Nancy, França) e membro do Laboratoire de Analyse et Traitement Informatique de la Langue Française do CNRS. Na década de 1980, desenvolveu sua pesquisa de doutorado na Universidade de Montreal, dedicando-se, também, à área de Processamento de Linguagem Natural (geração automática de textos). Em seguida, iniciou sua carreira universitária: primeiro, na Universidade Nacional de Singapura (1991-1995); depois, na Universidade de Montréal (1995-2010), para, finalmente, tornar-se membro do corpo docente da Universidade de Lorraine (2009-). Suas principais áreas de pesquisa são: lexicologia teórica e descritiva, interface semântica-sintaxe e ensino/aprendizagem de vocabulário. Desde 2014, é membro sênior do Institut Universitaire de France (IUF), trabalhando em um projeto sobre a construção e a exploração de grafos lexicais informatizados.