Memórias de um tempo obscuro é um livro particularmente importante para mim, dentre os mais de 50 de minha autoria. Composto por artigos que escrevi de 2018 a 2022, publicados na Folha de S.Paulo, O Estado de S.Paulo e outros veículos da mídia impressa e digital de todo o Brasil, além de países como Argentina, Colômbia, Estados Unidos, Portugal, Áustria, Itália, Rússia, Paquistão e China, responde ao anseio instintivo do jornalista de informar e contribuir para a consciência pública.
É o que busquei com a obra, cujo conteúdo faz profunda análise do processo eleitoral que levou Jair Bolsonaro à presidência da República e do período no qual seu governo negligenciou a covid-19, negou a ciência, conspirou contra a democracia e provocou imensa e turbulenta polarização. O conteúdo contribui para que o leitor entenda de modo mais amplo e didático o cenário no qual a população brasileira dividiu-se entre os “contra” e os “a favor”. Como observo na introdução da obra, “tomaram força temas relevantes que, sob radical confronto e não salutar debate, permitiram surgir e aumentar uma Cultura do Ódio, título de um dos artigos. A moderna tecnologia da comunicação tornou-se arma poderosa nesse embate, dando espaço às fake news, que comprometem a verdade”.
Por essas razões, penso que Memórias de um tempo obscuro seja do interesse de todos os que desejam entender melhor o que aconteceu e em quais contextos ocorreram os fatos desse período histórico ainda vivo e de consequências e efeitos colaterais que seguem presentes na vida de todos nós brasileiros. Acredito que o livro seja particularmente atrativo para professores, estudantes e profissionais de todas as áreas, em especial dos ramos do direito, ciências sociais e administração, bem como jornalistas e gestores de empresas de todos os setores. Afinal, a compreensão mais clara da realidade, dos bastidores e dos processos que permeiam a vida política é sempre importante para o ambiente de negócios.
Percepção muito lúcida sobre os propósitos, mensagens e insights do livro encontra-se em seu prefácio, escrito por José de Souza Martins, livre-docente em sociologia pela USP, vencedor por três vezes do prêmio Jabuti e que já ocupou a Cátedra Simón Bolivar da Universidade de Cambridge (Inglaterra). Ele observa: “A obra reúne uma extensa coleção de estranhamentos para que, por meio deles, nos estranhemos e, também, estranhemos esse cotidiano sufocante, cansativo, desanimador que nos esteriliza a consciência, a capacidade de perceber os absurdos disfarçados nas dobras da irresponsabilidade política e da alienação social”.
Outro aspecto que gostaria de enfatizar é o quanto foi feliz a Editora Contexto na produção da capa de Memórias de um tempo obscuro, criada pelo designer Gustavo Vilas Boas sobre imagem do advogado, escritor e fotógrafo Eduardo Muylaert, ex-secretário da Justiça e da Segurança Pública do Governo do Estado de São Paulo. A foto de uma pessoa andando, cabisbaixa, sobre paralelepípedos velhos e sujos foge à obviedade. O caminhante é qualquer um de nós e todos nós que sofremos no sombrio período de Frágil Democracia, outro dos artigos da obra. Por isso, o conteúdo da obra foi feito pensando neles, para eles e os que desejam um Brasil democrático, pluralista, inclusivo e desenvolvido.
Ricardo Viveiros é jornalista e escritor com ampla experiência nos principais veículos de comunicação do país. É autor de mais de 50 livros. Recebeu medalha da ONU por um conjunto de matérias sobre Direitos Humanos, no Ano Internacional da Paz (1986). Carioca de nascimento, vive e trabalha em São Paulo, capital, há mais de 40 anos. Em 2006, recebeu da Câmara Municipal da cidade o título de Cidadão Paulistano.