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Inteligência artificial: entre o fascínio e o medo

Por Paulo Roberto Córdova

Os últimos anos têm deixado claro que aquilo que antes parecia ser um cenário distante já é uma realidade inevitável: entidades não humanas, dotadas de inteligência capaz de rivalizar — e, em alguns aspectos, até superar — a nossa estão cada vez mais presentes em nosso mundo. A questão já não é mais se elas estarão entre nós, mas como lidaremos com elas.

Estejamos ou não conscientes da sua presença, a inteligência artificial (IA) está se tornando onipresente, sobretudo no universo da internet. Seu papel em nossas vidas será cada vez mais determinante. Professores em escolas e universidades levantam preocupações acerca da falta de transparência, do uso indevido e das consequências que a IA pode ter na formação de futuros profissionais e cidadãos. Pessoas de todas as idades temem ser substituídas por máquinas em seus empregos. A disseminação de desinformação e a cultura de bolhas de informação ganharam um impulsionamento jamais visto. Sem falar nos casos de viés que culminam em comportamentos discriminatórios de máquinas contra seres humanos.

Por outro lado, tecnologias baseadas em inteligência artificial também têm conduzido a humanidade a um patamar inédito de evolução tecnológica. Na medicina, por exemplo, já é possível prever o risco de alguns tipos de câncer com cinco anos de antecedência. A agricultura de precisão já pode contar com máquinas autônomas, tanto parar colheita, quanto para o controle de doenças e ervas daninhas, podendo contribuir para a redução do uso de defensivos agrícolas e para o aumento da produtividade. E mesmo em tarefas pessoais como andar pela cidade ou viajar, podemos contar com tecnologias de realidade aumentada para obter informações sobre lugares, mapas que nos conduzem e alertam sobre riscos na estrada, entre tantos outros benefícios.

Inteligência artificial: entre o fascínio e o medo

A inteligência artificial realmente nos deixa entre o fascínio e o medo. Por esta razão é preciso conhecê-la, saber sobre suas limitações, o que é mito e o que é verdade a seu respeito. A falta de transparência no seu uso nos deixa no escuro, como se estivéssemos sendo guiados sem saber para onde vamos. Basta que olhemos com atenção os conteúdos que nos são apresentados nas mídias sociais, os resultados que aparecem em destaque ao fazemos pesquisas em sites de busca, os filmes e as músicas que nos são indicados em aplicativos de streaming. Tudo o que consumimos é determinado por algoritmos de IA.

Isso significa que, se nossos temas de conversa geralmente refletem o que está em evidência em determinado momento da história, e se o que é destaque nas mídias sociais e na internet — nossas principais fontes de informação atual — é controlado, decidido e tutelado por algoritmos, então a IA influencia diretamente até mesmo os assuntos que discutimos em rodas de amigos.

Refletindo sobre tais questões, decidi escrever o livro Inteligência artificial: entre o fascínio e o medo. Por meio dele, tento apresentar a IA como ela é, sem mitos e sem especulações sobre um futuro distópico que só existe no mundo da ficção científica.

Com base em estudos científicos, acredito ter feito uma obra acessível e envolvente, que permite ao leitor compreender o impacto da inteligência artificial em sua vida. Para além do senso comum, o livro não apenas apresenta o que é a inteligência artificial, mas também explora questões essenciais como as hipóteses da IA Forte e Fraca, os paradigmas que delimitam e determinam nosso entendimento sobre ela e o funcionamento de tecnologias disruptivas, como aprendizado de máquina, visão computacional e processamento de linguagem natural.

Através de paralelos e conexões com a história humana, reflexões importantes são apresentadas, a fim de capacitar o leitor a identificar as tecnologias de IA que o cercam, e tirá-lo da escuridão que a falta de transparência no uso desses recursos tende a nos colocar. Além disso, também apresento caminhos alternativos, como o desenvolvimento de máquinas com senso moral e a criação de uma deontologia específica para a inteligência artificial.

Por fim, o livro procura levar o leitor a encarar verdades incômodas sobre a natureza da IA. Como surgem suas falhas? Qual a origem das principais ameaças? A inteligência artificial é mesmo neutra?

Esta é uma leitura para aqueles que desejam se preparar para o mundo contemporâneo, onde máquinas inteligentes ditam, tutelam e orientam as discussões mais importantes. Estar consciente sobre esses aspectos é o primeiro passo para manter a nossa humanidade segura.


Paulo Roberto Córdova é professor, pesquisador e especialista com destacada atuação na área de computação desde 2001. Professor no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Santa Catarina, é bacharel em Sistemas de Informação, mestre em Desenvolvimento e Sociedade, doutor em Informática na Educação, especialista em Inteligência Artificial e possui MBA em Gestão Empresarial. Seu trabalho interdisciplinar explora os impactos da inteligência artificial na sociedade, com especial atenção à ética no uso de tecnologias emergentes. Autor de diversas publicações científicas, é reconhecido como uma voz influente na construção de uma relação equilibrada entre inovação tecnológica e responsabilidade social.

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