Novo livro mostra como nossos antepassados lidavam com temas como masturbação, virgindade e prazer. Eles podiam ser mais ousados do que você provavelmente imagina
* Kariny Grativol para Revista Criativa
Brinquedo erótico parece algo moderno? Pois saiba que pênis artificiais eram usados há 2,5 mil anos, na Grécia. Quando se fala em manual sexual, você pensa em Kama Sutra? Vale lembrar, então, que os primeiros livros do tipo surgiram na China, mil anos antes de Cristo e 1,2 mil anos antes da criação do compêndio indiano. Esses são alguns dados do recém-lançado História da Sexualidade, do historiador Peter Stearns, PhD por Harvard. O autor falou à CRIATIVA sobre avanços e retrocessos na área sexual da Antiguidade até hoje.
O sexo já foi muito ligado à ideia de reprodução. Quando o prazer nas relações sexuais se tornou uma preocupação? As pessoas perceberam os aspectos prazerosos do sexo há muito tempo – por isso práticas como prostituição ou concubinato existem desde o antigo Egito ou a Mesopotâmia [há 3 mil anos]. Mas a percepção do sexo prioritariamente como fonte de prazer é recente, do final do século 19 em diante. Até então, era mais difícil separar o sexo da reprodução: as pessoas queriam famílias grandes para ajudar no trabalho, mas precisavam limitá-las [mantendo-as abaixo do máximo biológico de cerca de 14 crianças por família] para evitar uma pressão grande sobre os recursos disponíveis. E o método anticoncepcional mais comum era a amamentação prolongada [até 6 anos], que não é seguro. No século 19, outros métodos foram aperfeiçoados, como a tabelinha.
Por falar em prazer, como a masturbação era vista? A Bíblia traz alguma preocupação com o tema, embora não tenhamos como saber quantas pessoas levaram isso a sério. Ao menos no Ocidente, a inquietação com a masturbação masculina, como desperdício da “preciosa semente”, foi mais frequente. No século 19, os médicos adquiriram um papel mais importante no aconselhamento sobre sexo e retrataram a prática como uma grande ameaça, que poderia levar à insanidade ou à esterilidade – isso começou a recuar no século 20. Sobre a masturbação feminina, não se registraram grandes preocupações, já que não existia o “desperdício” de nada.
Quando apareceram os primeiros manuais de sexo? Eles são bem antigos – os primeiros surgiram na China, a partir de 1.050 a.C. O Kama Sutra foi escrito no século 2 d.C. Na Europa, havia manuais de “como fazer” mesmo antes da invenção da impressão [criada no século 15] – eles eram destinados aos homens, com posições sexuais e conselhos para atingir o prazer. Nos tempos modernos, a facilidades de publicação e o maior interesse sobre o prazer ampliaram esse gênero.
No século 17, os europeus viam as mulheres como sexualmente mais perigosas que os homens – talvez porque eles, que detinham o poder na sociedade, temessem o que elas poderiam fazer com sua própria sexualidade
E de que época são as primeiras obras pornográficas? Há registros de pornografia nos primeiros séculos depois de Cristo. Mas ela se tornou um negócio com a disseminação da impressão. Alguns pesquisadores apontam o século 18 como uma época de muita produção pornográfica. Um obra famosa desse período é Fanny Hill, de John Cleland, na Grã-Bretanha [o livro, que aborda estupro, voyeurismo, masturbação, sadomasoquismo etc. foi banido até o início do século 20].
Os homens e as mulheres sempre apresentaram comportamento sexual distinto? Alguns sociobiólogos acreditam que há diferenças intrínsecas entre homens e mulheres: elas seriam naturalmente mais conservadoras, porque têm um número limitado de óvulos, e os homens, com grande potencial de produção de esperma, são mais promíscuos. Mas também é verdade que a religião e a preocupação com a paternidade nos direitos de herança podem exagerar muito essas diferenças. No século 17, por exemplo, os europeus viam as mulheres como sexualmente mais perigosas que os homens – talvez porque eles, que detinham o poder na sociedade, temessem o que elas pudessem fazer com a própria sexualidade. No século 19 isso se inverteu: as mulheres passaram a ser vistas como guardiãs da pureza do lar.
Qual foi o impacto das grandes religiões sobre a sexualidade? Todas as grandes religiões definiram quais práticas eram morais ou imorais. O cristianismo e o budismo, principalmente, professaram a santidade do celibato, o que levanta questões sobre o sexo ser pecaminoso ou mau. Cristianismo, islamismo e judaísmo limitaram enfaticamente o sexo ao casamento. Mas algumas religiões procuram estimular o prazer sexual dentro do casamento – esse foi um ponto importante no Islã e também começou a aparecer nos comentários protestantes do século 17.
De onde vem a valorização da virgindade feminina? A maioria das sociedades agrícolas já colocava grande valor na virtude sexual da mulher e, idealmente, na pureza antes do casamento. Talvez por causa de um desejo do homem de saber quem ele gerou, para fins de herança. Isso ainda acontece em algumas culturas, como no islamismo e na sociedade chinesa. No Ocidente, claro, a ênfase tem diminuído muito, sobretudo desde o século passado. Ainda assim, hoje há movimentos pró-virgindade, que provam a força da tradição.
No livro, o senhor afirma que a revolução sexual dos anos 60 não foi a primeira nesse sentido. Qual foi? Na história ocidental, a primeira grande mudança parece ter ocorrido no século 18. Ela foi causada principalmente pelo incremento da atividade comercial, que permitiu o contato com novos parceiros e valores. Ao mesmo tempo, o crescimento urbano levou ao declínio da supervisão comunitária. Houve um aumento de atividade sexual antes do casamento – prova disso é o crescimento dos índices de nascimento de filhos ilegítimos.
Qual o impacto da invenção da pílula na história da sexualidade? Ela sem dúvida facilitou a apreciação do sexo recreativo e provavelmente contribuiu para um aumento da atividade sexual feminina antes do casamento. Mas há evidências de que as pessoas estavam começando sua vida sexual mais cedo (em especial as mulheres) uma década antes da pílula – a idade da primeira transa caiu dos 18 anos para 16, entre elas.
Como a mídia afeta o comportamento sexual? Desde o final do século 19, com a melhora de material visual, como anúncios sexualmente carregados, os meios de comunicação têm desempenhado importante papel na definição do que é ou não sexy ou que comportamento sexual é aceitável, além de criar metas que parecem mais importantes do que nunca.
Com a globalização, houve grande disseminação de informações. Como isso afeta a sexualidade? Essa cultura enfatiza a exploração do corpo feminino e a abertura sexual, o que, por sua vez, produziu novos esforços para enfatizar a repressão. Certos setores do Islã tornaram mais severas as punições a crimes como o adultério [O Alcorão previa que “fornicadores” recebessem cem chibatadas, mas o perdão era incentivado. A pena de morte para mulheres é recente]. Protestantes evangélicos fazem campanhas de abstinência, e nos EUA há movimentos para intimidar e fechar clínicas de aborto.
*
Veja matéria inteira clicando na imagem abaixo.
Baixar o Documentário – Revolução Sexual Chinesa – http://tinyw.in/LDdT