Em março de 1965, os EUA enviaram 3.500 fuzileiros americanos ao Vietnã do Sul e esta ação marcou o início da guerra terrestre. Cerca de 57 mil soldados americanos morreram e 300 mil ficaram feridos, enquanto 4 milhões de vietnamitas foram mortos.
O Vietnã era uma ex-colônia francesa que foi dividida em duas pelo tratado que finalizou a Guerra da Coreia. O exército guerrilheiro comunista de Ho Chi Minh, que tinha derrubado os franceses, controlava a parte Norte do país e contava com numerosos seguidores na parte Sul, organizados pelo grupo guerrilheiro, o Viet Cong. No Sul, o ditador Ngo Dinh Diem governava com ajuda militar e econômica dos Estados Unidos. Em resposta à campanha repressiva de Diem contra seus simpatizantes, o líder nortista Minh lançou a luta armada em 1959, ganhando bastante apoio e território nas áreas rurais do Sul. Os Estados Unidos, desconfiados da habilidade de Diem em conter a guerrilha, aprovaram um golpe militar que depôs o ditador em 1963, que foi substituído por uma série de juntas militares até 1967, quando um novo presidente foi eleito. Entrementes, os Estados Unidos estavam enviando tropas para ajudar a luta contra o Norte. Quando Kennedy assumiu o poder em 1961, havia 400 “consultores” militares americanos no Vietnã; no mês do seu assassinato, 18 mil soldados americanos estavam no Vietnã. Seis anos mais tarde, o envolvimento militar americano cresceria para 540 mil soldados.
Os Estados Unidos acreditavam que, com sua poderosa capacidade militar, poderiam infligir mais danos ao inimigo, forçando-o eventualmente a abandonar a guerra. De 1965 a 1972, a campanha mais intensiva de bombardeamento da história, empreendida pelos americanos, seguiu com a intenção de enfraquecer o moral do Vietnã do Norte. Os Estados Unidos também procederam a um “programa de pacificação” cujo propósito era, em primeira instância, ganhar “corações e mentes” da população local com propaganda e assistência social. Enfrentando resistência, passaram a adotar uma sistemática de destruição de aldeias e de remoção forçada de camponeses, pretendendo manter a ordem e diminuir o apoio logístico que a população dava ao Viet Cong. Durante a guerra, os americanos mantiveram o controle nas cidades, mas não conseguiram conquistar o campo, onde vivia a maioria das pessoas, dada a característica agrícola do país.
Os frequentes massacres da população civil vietnamita por tropas americanas – divulgados pela mídia na época e, mais tarde, explorados em filmes como Platoon (1986), Nascido para matar (1987) e Alucinações do passado (1990) –, além do grande impacto no Vietnã, afetaram o moral de muitas tropas americanas e a opinião pública nos Estados Unidos. O mais conhecido foi a chacina de My Lai, em 1968. No dia 16 de março, uma companhia de soldados liderados pelo tenente William Calley juntara quinhentos idosos, mulheres e crianças da aldeia de My Lai numa trincheira e, obedecendo a ordens de Calley, abriu fogo contra todos os prisioneiros. Divulgado à mídia por soldados comuns, o massacre horrorizou muitos americanos. Diante da repercussão negativa no país que se acreditava baluarte da civilização e do mundo livre, houve um julgamento. Entretanto, somente Calley foi condenado, recebendo uma sentença de três anos em prisão domiciliar. Em 1971, o coronel Oran Henderson declarou que toda Brigada Americana “tem seu My Lai escondido em algum lugar”, querendo dizer que muitos atos covardes como esse haviam sido cometidos contra populações civis em nome da guerra.
Com o apoio da população vietnamita e o emprego de táticas criativas, o Viet Cong e Ho Chi Minh conseguiram paralisar militarmente os Estados Unidos. Em 1970, a maioria da população americana estava contra a guerra, o que forçou o governo dos Estados Unidos a recuar, com os últimos soldados saindo do Vietnã em 1974.
No saldo da guerra, 57 mil soldados americanos morreram e 300 mil ficaram feridos, enquanto 4 milhões de vietnamitas foram mortos. Era a primeira guerra que os Estados Unidos perdiam em 150 anos, agonizando uma geração de americanos, rasgando ideologicamente a nação e dando inspiração a movimentos anti-imperialistas no mundo inteiro.
Sean Purdy é Doutor em História pela Queen’s University (Canadá), atualmente é professor de História da América (com ênfase nos Estados Unidos) do Departamento de História da Universidade de São Paulo (USP). Foi professor da Temple University, Filadélfia (EUA) e da Universidade de Brasília (UnB). Atua na área da História Social do Trabalho da América do Norte e Estudos Comparativos sobre as Américas. É autor e colaborador de diversos livros e revistas científicas no Brasil, Canadá, Estados Unidos e Inglaterra. É membro do conselho editorial da revista histórica canadense Labour/Le Travail.
Fonte: PURDY, Sean. “A tragédia do Vietnã”. In: KARNAL, Leandro et al. História dos Estados Unidos. Editora Contexto.