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Gazeta Mercantil | Lançamento

Reconstituir a história de veículos jornalísticos, bem como examiná-la, pode ser de grande ajuda para a reflexão sobre como o jornalismo opera na atualidade, quais são seus valores, suas melhores práticas, seus eventuais problemas.

Infelizmente, produções desse tipo são pouco numerosas no Brasil. Este livro é uma importante contribuição para as pessoas que atualmente fazem jornalismo que cobre economia, finanças e negócios.

A História é uma disciplina que pode nos oferecer pistas sobre como as práticas do presente são do jeito que são e iluminar os caminhos para o futuro. Todos trabalhamos a partir de uma herança. Quanto mais bem nós a conhecermos, maiores as chances de aperfeiçoar o trabalho de agora e o que ainda virá.

A História também pode nos prover com um senso de identidade. Por meio dela, compreendemos como grupos sociais de que somos parte se formaram, como se desenvolveram com o tempo e chegaram ao presente.

A Gazeta Mercantil foi a grande escola dessa especialização profissional no país. Na Gazeta, trabalharam diversos chefes de redação, editores, repórteres que, depois dela, foram para outros veículos e, neles, ajudaram a formar novas gerações de jornalistas que agora desempenham essas funções.

Ela estabeleceu padrões de qualidade até então inexistentes no jornalismo que lidava com a economia no Brasil. Durante pelo menos 35 anos (de 1974, quando seus proprietários ambiciosamente a transformaram de um mero boletim de informações em um jornal comparável aos melhores de seu gênero no mundo, a 2009, quando deixou de circular), ela foi referência para todos que se interessavam por assuntos de economia.

Empresários, políticos, acadêmicos, governantes, todos precisavam ler a Gazeta diariamente para tomar decisões, compreender melhor o país, seus próprios negócios, o mundo.

Esse processo ocorreu concomitantemente (decerto, não por acaso) a grandes mudanças na economia nacional, documentadas e analisadas em suas páginas, das quais a Gazeta também se beneficiou ou se prejudicou.

Um dos grandes méritos deste livro é a descrição arguta e detalhada que faz de como a Gazeta construiu e solidificou seu prestígio, e de como ela se deixou desmoronar, a ponto de ter o final melancólico que teve.

Gazeta Mercantil | Lançamento

Essa descrição revela muito de virtudes e vícios que caracterizaram a maneira pela qual o negócio do jornalismo operou no Brasil nesse período, que foi o apogeu da indústria jornalística, cujo modelo entrou em crise (não só aqui, mas também em quase todo o mundo ocidental) no final do século passado.

O livro é uma grande reportagem, feita por uma excelente jornalista que viveu o objeto de sua investigação histórica durante sua melhor fase. Tem, portanto, o valor de um testemunho real.

Para realizá-lo, a autora fez uma pesquisa metódica, que incluiu dezenas de entrevistas com personagens centrais de todo o processo, a leitura de livros e trabalhos que lidaram com o tema, além de uma busca extensiva da coleção do jornal em bibliotecas e arquivos públicos.

Os modos de fazer jornalismo e ciência são, claro, muito diferentes, mas têm similaridades. Ambos, por exemplo, partem de hipóteses (que, no jornalismo, são chamadas de pautas) e exigem investigação metódica da realidade.

Entre as grandes diferenças, estão o tempo que dura cada investigação (muito maior na ciência) e o grau de rigor da metodologia aplicada (idem). No caso de grandes reportagens, como neste, essas diferenças diminuem.

Este trabalho é produto realizado sob os auspícios do Núcleo Celso Pinto de Jornalismo, instituído pelo Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), em maio de 2021, a partir do diagnóstico de que a indústria do jornalismo como um todo, inclusive a que trata de economia, negócios e finanças, passa por crise estrutural grave, provocada por desafios impostos pela concorrência trazida pela universalização da internet e das plataformas das redes sociais.

Um dos eixos de ação do Centro é o da preservação da memória, no qual se encaixa este projeto, com o reconhecimento da importância do conhecimento histórico para o aprimoramento do ofício jornalístico.

O Centro é batizado em homenagem a Celso Pinto (1953-2020), considerado por muitos o principal jornalista brasileiro de sua geração na área de economia e finanças, criador e diretor do Valor Econômico e, antes, repórter, colunista e correspondente da Gazeta Mercantil e da Folha de S.Paulo.

Carlos Eduardo Lins da Silva


Célia de Gouvêa Franco é jornalista formada pela Escola de Comunicações e Artes da USP, tendo começado a carreira como repórter de economia da Folha de S.Paulo, em 1974. Trabalhou 20 anos na Gazeta Mercantil. Foi da equipe de jornalistas que criou o Valor Econômico, jornal para o qual continua a contribuir. Trabalhou em Brasília e em Londres. Foi casada com o também jornalista Celso Pinto, falecido em março de 2020. Tem dois filhos, Pedro e Luis, e dois netos, David e Anna. 

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