Fechar

Filosofia da Ciência: aspectos históricos, metodológicos, cognitivos e institucionais por Walter R. Terra e Ricardo R. Terra

A ciência tem importância central em nossa sociedade e influencia todos os seus aspectos. A despeito disso, pouco se compreende o que é exatamente a ciência, como ela funciona e de que maneira ela se diferencia das pseudociências e charlatanismos. Livros atuais sobre filosofia da ciência são, em sua maior parte, dedicados à história da crítica à ciência e tratam a metodologia científica usando a física como modelo, ignorando em larga escala as peculiaridades da biologia e das ciências cognitiva e social. Além disso, esses livros não discutem por que a aceitação das pseudociências tende a ser mais fácil que a aceitação da ciência. Além disso, embora possam abordar alguns aspectos sociais da ciência, esses livros não descrevem o processo de inserção dos jovens no processo de criação científica, no financiamento científico e tampouco nos critérios de avaliação da ciência produzida.

Filosofia da Ciência: aspectos históricos, metodológicos, cognitivos e institucionais por Walter R. Terra e Ricardo R. Terra

Leia um trecho aqui

A constatação dessa situação levou Walter e seu irmão Ricardo R. Terra, respectivamente bioquímico e filósofo, ambos professores da Universidade de São Paulo (USP), a debater o assunto ao longo dos últimos anos. Reunindo suas competências, decidiram escrever um livro que apresentasse a ciência em seus vários aspectos de forma amigável para atingir um público amplo.

O livro aqui apresentado, Filosofia da Ciência: aspectos históricos, metodológicos, cognitivos e institucionais, está dividido em quatro partes correspondentes ao seu subtítulo. A primeira parte apresenta uma breve história da formação da ciência contemporânea e do desenvolvimento da filosofia da ciência.

A segunda parte, sobre a metodologia da ciência inicia-se com uma categorização dos objetos da natureza em dois grandes grupos: básicos e histórico-adaptativos. Os objetos básicos não têm história e nem se adaptam ao meio ambiente. Por exemplo, é evidente que a molécula de água se enquadra nesse grupo. Já os seres vivos, a mente e a sociedade enquadram-se no segundo grupo. Em consequência dessa diferença, as ciências da vida, mente e sociedade não operam com leis tais como as da física e seu tipo de pesquisa é sobretudo do tipo exploratório, e não de teste de hipóteses, embora isso também ocorra. Além disso, essas ciências abarcam aspectos históricos que só podem ser tratados com explicações de cunho narrativo – é o caso da biologia evolutiva na biologia, da psicologia evolutiva na ciência cognitiva, e da história na ciência social. Finalmente, chama-se a atenção aqui para o fato de que a maioria dos sistemas de interesse para a ciência apresenta propriedades emergentes, aquelas não previsíveis a partir dos componentes de um determinado sistema, e que, portanto, tornam esses sistemas só previsíveis de forma probabilística ou qualitativa.

A terceira parte procura mostrar como a cognição humana foi desenvolvida ao longo da evolução e apresenta características que eram adaptativas no ambiente paleolítico. Essas características estão associadas à estrutura de nosso cérebro e tendem a tornar fácil a aceitação das pseudociências, tornando os conceitos da ciência, que frequentemente são contraintuitivos (porque desafiam nossa cognição ancestral), mais difíceis de compreender.

Por fim, observa-se que a pesquisa científica é realizada em instituições públicas ou privadas, onde grupos de pessoas trabalham dentro de programas financiados de forma igualmente pública ou privada. De regra, as pesquisas que alargam os horizontes do conhecimento (pesquisa básica) sem um objetivo utilitário imediato, são realizadas em universidades e alguns institutos e financiadas majoritariamente pelo poder publico. As pesquisas aplicadas, que testam as possiblidades de aplicação de determinado conhecimento básico, assim como o desenvolvimento de produtos resultantes dessas pesquisas, são  realizadas e financiadas por alguns institutos públicos, mas principalmente pelo sistema empresarial privado. A inserção de jovens na atividade científica seguem regras próprias ao tipo de instituição de pesquisa. A pesquisa validada, como descrita em detalhes na parte referente a metodologia, é consolidada através da crítica por pares e, em seguida, divulgada em congressos e revistas científicas.

O reconhecimento do trabalho do cientista se dá de diversas maneiras dependendo das áreas de conhecimento; por exemplo, pelo convite para ser conferencista principal em reuniões científicas importantes, por pertencer a academias de ciências, por prêmios, por publicações em revistas bem avaliadas e por livros de impacto em áreas especificas ou na sociedade. Resumindo, a qualidade da pesquisa realizada é avaliada por pares e também pela medida da sua repercussão no corpo científico.

Espera-se que esse livro, que trata de vários aspectos da ciência de forma acessível, seja uma contribuição para a valorização da ciência e para a luta contra o negacionismo e as pseudociências.


Walter R. Terra é professor sênior de Bioquímica na Universidade de São Paulo (USP). Graduou-se em Biologia, doutorou-se em Bioquímica e foi professor titular de Bioquímica da mesma universidade. É bolsista do CNPq (1A), membro da Academia Brasileira de Ciências e comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico. 

Ricardo R. Terra é professor sênior e foi professor titular de Teoria das Ciências Humanas na Universidade de São Paulo (USP), pesquisador do Cebrap e bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq (1A). Graduou-se, doutorou-se e obteve o título de livre-docente em Filosofia pela USP, além do Diplôme d’études approfondies en Philosophie pela Université de Paris 1 Panthéon-Sorbonne.

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.