Fechar
Capa do livro "História das Relações Internacionais", com o título: Por que estudar a História das Relações Internacionais do Brasil ajuda a entender o cenário global atual

Por que estudar a História das Relações Internacionais do Brasil ajuda a entender o cenário global atual

Por Antônio Carlos Lessa e Francisco Doratioto

A história das relações do Brasil com o mundo é um vasto e complexo campo de estudos. Sua consolidação no ambiente acadêmico brasileiro ocorreu a partir da década de 1970, com o duplo pioneirismo da Universidade Brasília (UnB) ao criar o curso de graduação em Relações Internacionais e implementar uma área de concentração em História das Relações Exteriores do Brasil no Mestrado do Departamento de História. Hoje, existem dezenas instituições de nível superior com cursos de Relações Internacionais e parte delas inclusive com Pós-Graduação, cuja pesquisa resulta nos significativos avanços teóricos incorporados neste História das Relações Internacionais do Brasil.

O estudo da história dessas relações é fundamental para compreender o Brasil hoje. Desde a década de 1820, condicionantes externos foram relevantes na construção da sociedade brasileira, de sua identidade nacional, das características de sua economia e mesmo de seu processo político interno. Apesar dessa relevância, durante muito tempo o interesse pela política externa limitou-se a especialistas (diplomatas, militares, acadêmicos e alguns jornalistas), estudantes e setores com vínculos econômicos e comerciais fora do país. Essa situação mudou nas últimas décadas e ampliou-se o interesse pela compreensão do papel do Brasil no plano internacional. Isso foi resultado do maior acesso ao resto do mundo pelos brasileiros, das repercussões da globalização e, mais recentemente, do questionamento do multilateralismo. Portanto, História das Relações Internacionais do Brasil transcende os estudantes de cursos superiores e alcança o público leitor interessado na posição do país no mundo.

Recentemente, assistimos a mudanças profundas na ordem internacional, uma verdadeira ruptura com aquela que vigorou a partir do final da Segunda Guerra Mundial. Nos meios de comunicação, diferentes estudiosos em Relações Internacionais alertam, com razão, para o impacto dessa nova realidade na vida cotidiana dos brasileiros e para os desafios que se apresentam ao país. Não se trata, porém, de algo totalmente inédito na nossa história, pois o Brasil já se viu obrigado a fazer opções em decorrência de dinâmicos e desafiadores contextos internacionais ou regionais no passado. Isso ocorreu diante dos processos históricos da independência e de seu reconhecimento nas décadas de 1810 e 1820; do imperialismo britânico; da Guerra do Paraguai na década de 1860; da consolidação do poder internacional dos EUA no início do século XX; do enfrentamento ao nazifascismo na Segunda Guerra Mundial e do inédito multilateralismo que se seguiu a esse conflito; das demandas de alinhamento durante a Guerra Fria e da globalização a partir das décadas finais do século XX. Como a sociedade brasileira dessas épocas respondeu a esses desafios? Como se posicionou frente a uma ordem política e econômica desafiada por forças ascendentes? Os estudos históricos esclarecem o que ocorreu e, desse modo, contribuem para esclarecer o que está ocorrendo.

Nós, autores de História das Relações Internacionais do Brasil, temos longa trajetória de docência e pesquisa em arquivos e bibliotecas no Brasil e no exterior. Descobertas e reflexões que fizemos durante esse tempo estão incorporadas no livro, onde o leitor encontrará análises assertivas dos contextos citados e de outros, com informações esclarecedoras. É o caso, por exemplo, do Período Regencial e de suas limitações; da política para o Rio da Prata na década de 1840; da Questão do Acre; das inovações da Política Externa Independente e, ainda, da aplicação do conceito de Autonomia Estratégica para o período 1994-2002 e de sua continuidade em nova roupagem no ciclo do Partido dos Trabalhadores (2003-2016).

Por último, cabe observar que, em História das Relações Internacionais do Brasil, está presente a nossa frutífera convivência com colegas e estudantes. Agradecemos, no livro e neste blog, aos nossos alunos da UnB e do Instituto Rio Branco, que apresentaram instigantes questionamentos e sugestões, enriquecendo-nos intelectualmente. Também somos gratos aos colegas do Departamento de História e do Instituto de Relações Internacionais da UnB por compartilharem conosco seus conhecimentos e experiências.


Antônio Carlos Lessa é professor titular de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB). Doutor em História pela UnB, é autor, coautor e organizador de dezenas de trabalhos, entre livros, capítulos e artigos científicos, publicados no Brasil e no exterior. É coautor de História das Relações Internacionais,  Europa: integração e fragmentação e História das Relações Internacionais do Brasil, publicados pela Contexto. Coordena a coleção Relações Internacionais.

Francisco Doratioto é professor emérito da Universidade de Brasília (UnB), onde dedicou grande parte de sua carreira ao ensino e à pesquisa em História da América e História das Relações Internacionais do Brasil. Doutor em História, com ênfase em Relações Internacionais pela UnB, atua como professor colaborador no Programa de Pós-Graduação em História dessa mesma universidade. É coautor de História das Guerras e História das Relações Internacionais do Brasil, publicados pela Contexto, além de outras dezenas de livros e artigos publicados no Brasil e no exterior.

Deixe uma resposta

Your email address will not be published.