QUANDO PENSEI EM colaborar com leitores que estão em busca de caminhos mais seguros para escrever um livro, desmistificando a tarefa, acreditei que poderia dizer tudo num único texto, sem me alongar. Não deu certo. Para amarrar esse pacote, preciso de mais barbante do que imaginava – num único volume, o conteúdo me pediria ao menos um e-book. Assim, aqui no Blog, preferi apresentá-lo em partes, o que não é uma prática usual. Tudo bem, se pensarmos que quem vai escrever um livro não realizará essa obra do dia para a noite. E certamente não terá por que se importar se receber instruções em doses que pode aplicar, uma a uma, até que sua obra fique pronta ou quase isso. Vou ficar feliz se o final da leitura desse meu texto coincidir com o fim da redação do livro a ser escrito por dois ou três internautas.05
Derrubando a primeira barreira: muitos acreditam que para escrever um livro é preciso ser gênio, ter um talento especial. Eu não tenho nada disso e estou no terceiro título, porque comecei tarde. Sem contar um que escrevi para um cliente, a partir de material fornecido por ele. Se até comigo deu certo, imagine com você.
O que impede o sucesso da empreitada, nesse caso, não é a falta de inspiração ou coisa parecida. “Eu não tenho nenhum talento especial. Apenas sou apaixonadamente curioso”, sugeriu Albert Einstein. A inspiração é algo que nasce do trabalho diário e do compromisso. Que o diga o escritor Luis Fernando Veríssimo, colunista do Estadão, que resolveu o assunto sem rodeios: “Minha musa inspiradora é meu prazo de entrega”. Aqui e ali, se o objetivo é ser grande, é preciso ter 99 por cento de talento, de disciplina e de trabalho. No caso do livro, o que compromete o resultado é não seguir algumas regrinhas básicas, como criar e escrever primeiro e editar só depois, além de não ter conteúdo e disciplina suficientes para autoexigência de quantidade e qualidade, dentro de prazos reais e observáveis. O resto é mito.
- Definir o tema – ideia
Se hoje fosse escrever um livro, e uma vez tendo o assunto definido, começaria identificando o tema, isto é, a ideia – Miguel Falabella e Nizan Guanaes já se declararam devotos dessa prática. Ora, não gosto de dificultar as coisas, inclusive para mim. E sei que essa definição, feita logo no início, é fundamental para o desenvolvimento do trabalho, motivo por que não abro mão desse método. Lembrando que tema não é sinônimo de título, nem implica em dizer que vai produzir uma obra sobre o corpo humano – isso é o assunto. Significa definir, criativamente, que vai falar sobre anatomia a partir, por exemplo, da ideia de árvore. Mesmo que isso fique apenas sugerido e, em princípio, pareça fora de propósito, sem sentido, o que acontece porque foge do corriqueiro, do previsível, e procura um caminho original, nem sempre compreendido num primeiro momento.
Mas, por que escolher esse tema, que aqui é apenas hipotético, dentre milhares de outros possíveis? O que uma coisa tem a ver com a outra? Fazendo um brainstorming, diria que árvore é um objeto conhecido, tem algo de semelhante ao nosso corpo, ao menos pelo fato de que surge de uma semente, tem tronco, cresce, dá frutos, tem ‘membros-galhos’, precisa de água, alimento, sol, um dia morre… Pode ser saudável ou estar doente. Vive sozinha ou numa floresta. Portanto, ao falar a respeito do corpo humano a partir da estrutura de uma árvore, certamente aumento bastante as chances de ser compreendido. Ponto pra mim e para o leitor. Se posso facilitar, por que dificultar?
Definir o tema é uma prática conhecida. É a mesma utilizada quando se define a ideia da festa de aniversário de uma criança, decorando o ambiente com imagens do Super Homem ou da Turma da Mônica, por exemplo. Ao escolhê-lo, você mantém o foco, isto é, não faz nada que não tenha a ver com aquela ideia em especial, central, evitando o desperdício de tempo, dinheiro, mão de obra etc. E todos os convidados terão clareza a respeito da sua proposta para aquele evento. Para o leitor, isso faz uma enorme diferença, aparece como uma grande prestação de serviço, porque lhe facilita o trabalho de compreensão da obra.
Lembro aqui que publicar um texto em partes não é exatamente o que gosto de fazer. Mas é o necessário para não ficar superficial, nem sobrecarregar o leitor. Assim, aqui está a primeira etapa. Na próxima quarta tem mais.
RUBENS MARCHIONI é palestrante, publicitário, jornalista e escritor. Autor de Criatividade e redação, A conquista e Escrita criativa. Da ideia ao texto. [email protected] — http://rubensmarchioni.wordpress.com