A Educação de Jovens e Adultos (EJA) é a modalidade que atende jovens, adultos e idosos que não concluíram a educação básica na idade esperada conforme a política educacional do país. Pessoas com 15 anos ou mais podem cursar o ensino fundamental, e com 18 anos ou mais, o ensino médio.
Desde 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) garante a todos os cidadãos o acesso a esta modalidade, sendo obrigação do estado oferecê-la de forma gratuita. Ocorre que, apesar disso, apenas cerca de 4% da demanda potencial da modalidade é atendida anualmente, havendo nos anos 2020 uma queda significativa nas matrículas. Esta redução não se deve a um suposto número menor de pessoas que precisam da EJA, pois 68 milhões de brasileiros com 18 anos ou mais não concluíram a educação básica, o que equivale a cerca de 44% da população.
Tal cenário coloca a educação de jovens e adultos como tema central para as políticas educacionais e no campo da educação, pois sabemos também que atender este público que teve o seu direito à educação negado não é tarefa simples. Trata-se do estrato mais pobre da população brasileira que tem muita dificuldade de conciliar escola, trabalho e obrigações familiares. Além disso, muitas dessas pessoas são bastante vulneráveis, tendo outros direitos negados, como saúde, alimentação e mesmo moradia.
Como criar uma proposta pedagógica para este público tão complexo? Esta é uma das respostas que a obra Educação de Jovens e Adultos: das concepções à sala de aula procura construir, sabendo que não se trata de tarefa fácil nem conclusiva, pois também é necessário considerar a realidade de cada grupo local tendo em vista a enorme diversidade cultural do país. Temos estudantes de centros urbanos, mas também ribeirinhos, encarcerados, do campo, de diferentes faixas etárias e condições de vida.
Destinada sobretudo a estudantes universitários e educadores, a obra busca traçar um panorama da EJA considerando as políticas públicas vigentes, a legislação elaborada e também aspectos relativos às metodologias de ensino, pois não podemos construir propostas didáticas sem estar atento às políticas que nos garantem as condições para implementá-las. Do mesmo modo, não podemos pensar em políticas de educação para uma modalidade sem ter em conta o que acontece de fato na sala de aula.
Buscou-se também trazer um conjunto de experiências de escolas brasileiras que conseguiram, a partir da sua prática, estabelecer um currículo que tivesse significado para a EJA e não fosse apenas uma versão simplificada do currículo estabelecido para crianças e adolescentes. Este é um ponto fundamental da obra: como criar propostas educativas para jovens e adultos que sejam significativas para seus demandantes? A primeira resposta que o livro traz é a compreensão de que a EJA precisa ser considerada uma modalidade complexa em vez de uma versão simplificada da escola para crianças e adolescentes.
Roberto Catelli Jr. é mestre em História pela Universidade de São Paulo (USP) e doutor em Educação (FE-USP). Coordenador da área de educação da ONG Ação Educativa e diretor dos cursos de Educação de Jovens e Adultos e Educação Profissional do Colégio Santa Cruz. É professor convidado do magister de educação de adultos da Universidade de Playa Ancha, Valparaíso, Chile.